Capítulo 5: Esqueça-me

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O dia amanheceu e eu nem dormi para ser bem sincero. A cabeça girando e não me dá tranquilidade. Eu não podia ter enfraquecido agora mas só de saber que ela foi lá, isso mexeu muito comigo. Eu quis tanto que ela fosse no passado mas nunca aconteceu. Por que justo agora?

Eu fiquei a madrugada inteira olhando incessantemente o WhatsApp.  Mas nada dela responder embora que a mensagem tenha sido sem graça, ela ao menos poderia responder por educação.

Luana vem acordando e já vem cheia de abraços.

Luana: bom dia meu bem. Como cê tá? – vindo em minha direção.

Rodolffo: bom dia. Luana a gente precisa conversar e tem que ser agora por que eu já viajo hoje às 14 horas.

Luana: minha mala já tá pronta querido. Pronta para ir com você a qualquer lugar no mundo. E sobre o quê cê quer conversar?

Rodolffo: Luana precisamos conversar sobre nós.

Luana: o quê foi? Eu não postei nada. Não sabem nem da minha existência aqui, se é essa a sua preocupação. – ela disse com a voz lenta.

Rodolffo: não é isso. É que é melhor pararmos por aqui. Luana, você é uma mulher que merece um cara que possa compartilhar a vida contigo e eu não sou esse cara.

Luana: sério? – ela me perguntou surpresa.

Rodolffo: sim... Sério. Eu não tenho uma vida sossegada. Não tenho como administrar nem uma ficante fixa quem dirá uma namorada por agora e eu sei que você tá querendo um namorado. Eu sinto muito mais eu não sou esse cara.

Luana: eu pensei que te fazia feliz. Que a gente iria ter um futuro juntos. Que quem sabe nós nos casaríamos. Rodolffo, cê sabe que eu gosto de ti.

Rodolffo: eu nunca te iludi Luana... Ou iludi? Foi bacana tudo o quê vivemos juntos mas infelizmente eu não tenho o direito de te enrolar se não posso te oferecer nada além do que te ofereço. Não é justo com você.

Luana: Cê nunca me prometeu nada, isso é um fato, nosso único combinado era se curtir mas como estávamos ficando a um tempo, eu pensei que tivesse mudado algo em você como mudou em mim. – ela me falou triste.

Rodolffo: Luana cê é maravilhosa... Não merece um cara com a vida tão embaçada como a minha. Eu não tenho parada e também não posso te dá o amor que você merece.

Luana: mas cê sabe que eu sou apaixonada por você. Então, um dia a gente pode se ver de novo?

Rodolffo: de verdade, não espera por isso. Não cria essa expectativa. Segue sua vida. Eu tô tentando dá um rumo na minha. – disse  já terminando de me vestir, pegando meu moletom de capuz, meu óculos e minha carteira.

Luana: aonde cê tá indo?

Rodolffo: para outro quarto. Não se preocupa, eu pagarei sua despesa por hoje. Fica bem Luana e boa sorte.

Eu sei que fui seco demais e na maioria do tempo eu sou mesmo assim e quem se envolve comigo já acaba sabendo desse meu defeito.

Cheguei no meu novo quarto e coloquei minha mala e alguns pequenos pertences sobre um criado mudo. Resolvo ir tomar um banho gelado pra ver se consigo relaxar e dormir até a hora do almoço. Eis que meu telefone toca. E por um segundo eu não sei se é realidade ou fantasia. Era a Juliette me ligando.

Rodolffo: Ju... – falei assustado e em estado de surpresa.

Juliette: oi. Bom dia.

Rodolffo: bom dia. Como cê tá? – eu precisava ouvir mais a voz dela.

Juliette: eu tô bem e tu?

Rodolffo: eu também tô bem. Ei eu fiquei sabendo de ontem.

Juliette: eu gostei muito. Dancei bastante.

Rodolffo: obrigado por ter ido. Eu te reconheci no meio do povo.

Juliette: e foi?

Rodolffo: sim... E quem era aquele barbudo lá?

Juliette: um amigo meu Rodolffo.

Ela disse esse amigo com uma voz muito empolgada. Com certeza era mais que amigo.

Rodolffo: tá bom Juliette. Fica bem tá.

Juliette: cê ainda tá em São Paulo?

Rodolffo: eu tô e você?

Juliette: eu também estou.

Um enorme silêncio se fez e ficou um clima estranho.

Rodolffo: Ju?

Juliette: oi?

Rodolffo: cê fica aqui até que horas?

Juliette: o dia todo.

Rodolffo: eu tenho que viajar as 14 horas para o interior mas eu volto por volta de 1 hora da manhã porque meu show começa cedo. Se ocê... Se... Ju...

Juliette: eu ainda estou acordada nesse horário. Se eu o quê? – ela disse com uma voz calma.

Rodolffo: cê toparia me encontrar só pra gente conversar um pouco? Como nos velhos tempos de amigos.

Juliette: Rodolffo... Eu estou no mesmo hotel de sempre. No mesmo quarto 301 e se tu quiser vir me ver eu vou te esperar, prometo.

Rodolffo: eu vou! – disse sem pensar muito.

Juliette: tu vai me mandando mensagens.  Te aguardo. Um xêro.

Rodolffo: tá. Um beijo.

Eu nem tive muita reação. Ela aceitou e eu nem sei o quê exatamente quero falar pra ela. Eu só desejo vê-la.

...

Meu Deus do céu. Olha o quê eu acabei de fazer. Acabei de marcar um encontro de amigos com o Rodolffo. Pra quê danado eu fui fazer isso? Porque eu resolvi ligar pra ele? O quê eu vou vestir? Eu preciso acordar Preto agora, ou não? Se eu contar pra ele com certeza vai maldar de nós, esse peste.

Decidido, eu não vou contar pra ninguém. Ninguém vai saber que ele vem aqui. A vida é minha e eu não preciso contar. Vou trabalhar muito e a noite vou pedir um bom vinho e esperar por ele. É assim que vai ser.

...

O dia correu depressa e eu só queria que tudo tivesse fim e chegasse o momento de eu ir encontrar com a Ju.

Resolvo ligar pra Bella e pedir pra ela ir comprar uns chocolates para que eu leve para ela no nosso encontro.

Ligação em curso.

Rodolffo: ôh Bella. Eu preciso que cê vá comprar uns chocolates daqueles que cê gosta para mim.

Bella: hum tá romântico hoje irmão? A Luana vai amar. Pelo menos vai dá algum mimo a menina.

Rodolffo: não é pra ela. Hoje coloquei um ponto final com a Luana, isso aí é para outra pessoa.

Bella: eita. Do nada assim? Cê é ligeiro.

Rodolffo: ainda há uma última esperança Bella. Uma última e eu quero me agarrar nela e tentar acreditar que um dia pode dá certo.

Bella: Irmão do céu. Sério?

Rodolffo: eu vou encontrar com ela hoje. Tem algumas coisas que eu preciso dizer pela minha paz sabe? Nem tem tanto a ver com ela... Tem a ver comigo.

Bella: ai irmão. Eu sei. Vai mesmo e não tenha medo. Eu vou comprar agora, daqueles que eu sei que ela ama.

Rodolffo: tá bom irmã.

Foi necessário falar pra Bella, ela sempre me incentivou a lutar pela Ju e não desistir no primeiro obstáculo mas talvez eu tenha sido fraco e partido sem lutar. Eu me auto sabotei e se a vida nos deu uma nova chance eu tenho que tentar fazer diferente dessa vez.

...

Que dia longo foi esse? Acho que durou uma eternidade. Tomo um banho gostoso e olho no meu relógio e já passa das 22 horas e eu ainda nem jantei. Até que Rallyson brota no meu quarto junto com Preto.

Rallyson: trouxe pizza madame.

Juliette: hum eu tô varada de fome desse jeito não tenho força pra nada.

Preto: e tu precisa de força pra quê muié? Pra ficar deitada?

Juliette: tu é besta visse. Nossa senhora.

Rallyson: Preto... Olha a lingerie da gata. Juliette do céu.

Juliette: meu Deus... Era o quê faltava, posso nem vestir minhas lingerie em paz.

Preto: mana... Cê vai receber alguém aqui hoje? Um boy bem lindo?

Rallyson: conta amiga. Não precisa dá nomes, só diga sim ou não.

Juliette: sim... Mas não pra isso que vocês, mentes poluídas, estão pensando. Vou receber na amizade.

Preto: ah Juliette... Deixa de mentir. Tu tá tão cheirosa que deve ter perfume na tua alma e uma lingerie dessa... Mulher eu não sou moleque não visse.

Juliette: aí vão embora. Eu não aguento mais nenhum. Chispa. Ah vão chupar um bode. Eu não tô pôdi não visse.

Preto: Juízo hein?

Os dois chatos vão embora e eu fico aqui pensando no que vestir para esse momento. Eu não quero ficar exatamente sensual porque eu nem sei se vai rolar alguma coisa mas também não quero ficar feia.

Sou desperta dos meus pensamentos com um forte estrondo que um trovão proporciona.

Juliette: meu Deus... O mundo tá caindo.

Olho o relógio e já passa das 23 horas e com certeza Rodolffo está bem pertinho de pegar a aeronave para voar pra cá. Mas como ele virá com tanta chuva?

...

O mundo tá trombado. Não sei como iremos conseguir decolar, se começar a chover já era.

Israel: a gente pode dormir aqui hoje.

Juarez: é o jeito... Fazer o quê?

Rodolffo: mas não tem mesmo condições de voar? Eu tenho um compromisso ainda hoje.

Israel: cumpadi... Que isso homi? Na madrugada?

Rodolffo: é a chance da minha vida.

Eu tô ansioso e decido avisar a Ju que talvez eu não consiga chegar no horário combinado. Não é justo deixar ela me esperando se aqui o tempo tá péssimo.

Mensagens on:

Rodolffo: Ju... Talvez eu não consiga chegar a tempo. Aqui tem muita chuva que talvez caia e nos impeça de chegar a tempo. Me desculpa.

Juliette: oi piruca. Não tem problema. Fica bem. Outro dia a gente se fala.

Rodolffo: Ju, mas eu quero mesmo te encontrar hoje. Eu vou chegar em qualquer horário da madrugada.

Juliette: tá bom. Então venha assim que tu conseguir chegar. Eu só vou deixar o hotel após as 10 horas da manhã. Te espero.

Rodolffo: um beijo!

Juliette: um xêro.

Falar com ela me deixa mais tranquilo diante desse contra tempo todo com a chuva.

...

Como Rodolffo disse que só vai chegar quando der, eu decido tentar dormir um pouco. Mas a ansiedade nem deixa.

Como pode isso? Nós já vivemos vários momentos juntos porque ainda sinto esse frio na barriga? Ele mexe mesmo comigo.

Resolvo ver o Instagram um pouco e lá está o story dele dizendo que tá preso pela chuva. Justo hoje, mas uma hora ele conseguirá chegar.

O quê iremos falar? Sinceramente eu não sei. Só sei que meu coração bate acelerado só de imaginar na hora que eu ver ele na minha frente.

...

O tempo finalmente melhorou e por volta de 00:25 conseguimos decolar.

Rodolffo: graças a Deus. Voltando.

Juarez: o quê há Rodolffo? Cê nunca foi ansioso.

Rodolffo: eu tô cansado... É só isso.

Juarez: sei... Me engane que eu gosto. Óbvio que tem alguém nesse rolê mas cê não vai contar então é isso.

Rodolffo: não preocupa não. Que se der certo o senhor vai ficar bem feliz.

Bella levantou a sobrancelha e disse:

Bella: e como vai hein...

Juarez: Deus te abençoe filho... Vai dá certo.

Ouvir aquilo do meu pai me deu mais fé. Era a minha chance, já que eu não consegui esquecê-la, eu preciso tentar lutar para tê-la comigo para sempre.
Fui o vôo inteiro ouvindo música e com os olhos fechados. Era uma forma de calmante e me fazia bem.

Até que finalmente chegamos na capital. Fomos até o nosso hotel e eu tomei um banho rápido, mesmo estando com muito frio, me arrumei,  peguei o necessário e sai com os bombons que eu levava pra ela.

A cidade enfrentava pontos de instabilidade devido a chuva e no relógio já passava das 2 horas da manhã.

Rodolffo: moço não tem como ir mais rápido não? – perguntei inquieto ao Uber.

Motorista: infelizmente não. Tenha paciência que daqui a pouco chegamos.

Rodolffo: quanto que dá a corrida?

Motorista: rapaz o quê você tá pensando em fazer?

Rodolffo: eu vou a pé. Eu tô perto. Conheço um atalho.

Motorista: estás doido? Só pode. Você pode ser assaltado e até morto.

Rodolffo: eu não serei. Eu só não posso esperar mais... Eu não suporto mais esperar.

Paguei a corrida e desci do carro no vento frio daquela madrugada chuvosa. Mas eu não queria esperar mais 30 minutos sendo que consigo chegar lá em menos tempo.

A passos largos e por vezes até correndo eu cheguei em frente ao hotel. Era ali que estava a minha felicidade e era ali que eu iria abrir o meu coração em definitivo.

...

Não consegui pregar o olho a noite inteira. Estava ansiosa e sem paz, e também preocupada com ele, já que até essa hora não me deu mais nenhuma notícia.

Até que ouço a campainha tocar. Era ele. Eu levantei da cama num susto e fui até de roupão recebê-lo porque o quê menos importava era minha roupa.

Abri a porta e ficamos um frente de frente para o outro.

Juliette: graças a Deus tu tá bem. Vem... Entra.

Rodolffo: só tô um pouquinho molhado. – ele falou fazendo uma cara engraçada mas realmente ele tava bem molhado.

Juliette: Rodolffo tira essa jaqueta. Tu vai resfriar. Eu te ajudo.

Ajudei ele a tirar a jaqueta e piorou muito a situação. Rodolffo tremia igual vara verde.

Juliette: ai menino... Tu tava doido pra vir tomando banho de chuva? Pelo o amor de Deus. Eu vou te aquecer.

Eu peguei outro roupão fofo e cobri ele e também o abracei. Meu objetivo era transferir um pouco de calor humano pra ele.

Juliette: se sente melhor?

Rodolffo: humrum... – ele disse num sussurro.

Juliette: vai passar... daqui a pouco tu tá bonzinho.

Rodolffo: eu senti tanta saudade desse abraço.

Juliette: eu também senti. – fui sincera. – senti muita saudade de tu. – falei passando os dedos sobre o seu cabelo.

Rodolffo: não faz isso... – ele pediu.

Juliette: mas eu não tô fazendo nada de errado. – falei me desprendendo dele e olhando para o seu rosto.

Rodolffo: esse é o problema. Cê não faz nada de errado... Cê sabe fazer os trem bem demais e quando cê faz carinho assim no meu cabelo, eu viajo. Eu sinto vontade... – ele engoliu no seco.

Juliette: vontade de quê? Diga!

Rodolffo: vontade de você. – ele falou mordendo o lábio inferior.

Eu não resisti e o beijei ali mesmo. Eu tinha a mesma vontade que ele porque não matarmos o nosso desejo?

Juliette: eu te quero tanto... Mais tanto. Eu esperei tanto por isso de novo.

Falei já o arrastando para a cama. E sim, eu queria amá-lo nem que fosse pela última vez.

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