Capítulo 7: Transparente

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Acordei e procurei Rodolffo  pela cama, ele não estava. O chamei e ele não respondeu. Busquei qualquer vestígio dele e não achei. Ele se foi. Não sei se é uma boa perspectiva mas eu sei que sempre foi assim, ele sempre se foi antes do sol nascer, esse era o nosso combinado.

Mas por que tá doendo? Eu queria ter acordado com ele do lado mas não é bem assim que as coisas acontecem.
Peguei meu celular em busca de uma mensagem dele e de fato lá estava um áudio que ele me enviou.

Rodolffo: bom dia Ju. Quando cê ouvir esse áudio eu estarei do outro lado da cidade e as 8 horas estou embarcando para Minas Gerais,  mas a gente vai se falando. Um beijo.

Eu resolvi gravar um outro áudio.

Juliette: dá notícias. Faça boa viagem e um xêro.

Eu não queria que tudo voltasse ao que era antes, meu desejo é a escrever uma nova história, mas como? Não vejo brechas na minha vida para um relacionamento agora mas também não quero perdê-lo mesmo sabendo que o risco era enorme e o nosso triste afastamento pode acontecer de novo e é tudo isso que eu não quero agora.

...

Eu nem dormi e já tenho que viajar. Minha cabeça tá a um milhão. Penso em tudo que rolou ontem entre a Ju e eu. Foi intenso e prazeroso mas parece que depois do sexo a gente não consegue se entender em nada. É uma arenga atrás da outra. Ela dizendo que tem ciúmes, eu querendo ir embora e ela me  convencendo a ficar. É um caso complicado mas tem amor, eu amo aquela dona encrenca.

Bella: tá pensando em que mocinho?

Rodolffo: nas encrencas que eu me meto por livre e espontânea vontade.

Bella: ih deu ruim de novo?

Rodolffo: meio que não... Meio que sim.

Bella: ixe. Tá confuso?

Rodolffo: sempre foi minha cara, sempre.

Bella ficou rindo pra mim e fiquei me lembrando de uma música do Vitor e Léo que poderia incluir no repertório do show “lembranças de amor” acho que ela fala um pouco de nós indiretamente e gosto de cantar coisas que tem a ver com meu momento de vida atual.

Rodolffo: cumpadi será que poderíamos colocar uma antiga no repertório?

Israel: uai sim... Qual seria?

Rodolffo: lembranças de amor do Vitor e Léo.

Israel: boa. É uma música muito bonita para a parte romântica do show. Tá apaixonado cumpadi?

Rodolffo: êh cumpadi... cê não tem jeito.

Israel: eu quero saber quando meus sobrinhos vão chegar uai... Então imagino que cê tenha que tá apaixonado pra isso acontecer.

Rodolffo: cê quer que eu diga uma coisa, na real mesmo. Perdi a esperança de ser pai.

Israel: que isso cara? É um sonho por que cê perdeu a fé assim tão rápido?

Rodolffo: porque eu não quero ter um filho com qualquer uma e quem eu queria que fosse a mãe não tem tempo suficiente pra isso.

Israel: calma. Tudo no tempo certo. Não pensa assim, ela também te ama. Eu sinto isso tem tanto tempo... é que cês são difíceis demais. Dois cabeças duras.

Eu não respondi nada e tentei tirar um cochilo nesse trajeto de avião. Olhei o celular brevemente e vi que tinha uma mensagem da Ju mas não fui ouvir, pelo menos não agora.

...
Um mês depois...

É novembro de 2022 e hoje faz um mês que nos vimos. Infelizmente um novo encontro não veio e sinceramente parece que não tem muito o quê ser feito. Estou trabalhando tanto que não tenho tempo para administrar minha vida e estou literalmente terceirizando e um relacionamento agora é impossível para mim, coisa que Rodolffo percebeu e está bem insatisfeito.

Mesmo com  Rodolffo dizendo que queria fazer diferente e lutar por nnó, não conseguimos evoluir, estamos nos abandonando cada dia mais. Ele até queria vir aqui no Rio me ver mas eu tava tão cheia de trabalho que não consegui achar um tempo para nós e isso o deixou extremamente magoado.

A distância vai nos desmotivando aos poucos mas eu não queria que ficássemos assim, meu desejo é ficar com ele pra sempre, para vivermos momentos eternos juntos.

Vi na agenda de shows da dupla que todos os eventos do fim de semana são próximos a Goiânia. Numa última tentativa de encontro, eu ligo pra ele em chamada de vídeo.

Chamada em curso...

Rodolffo: oi. – ele fala e já vira a câmera do celular - Mãe olha quem tá aqui... – ele fala levantando o celular e eu vejo que ele tá no apartamento da mãe.

Juliette: oi dona Vera. Tudo bem?

Vera: tudo sim querida e você? – ela fala de modo gentil.

Juliette: eu tô bem, graças a Deus.

Rodolffo voltou a câmera para si e finalmente resolveu dá alguma palavra.

Rodolffo: e aí Bastiana, o quê há?

Juliette: por que tu tá assim?

Rodolffo: assim como?

Juliette: frio... Seco. Rodolffo você quer desistir da gente, de novo?

Rodolffo: Ju eu acho que a gente não devia falar isso por telefone.

Juliette: sabe o quê eu tava vendo... Que sua agenda de shows é toda aí vizinha a Goiânia e tu nem me convida pra ir te ver.

Rodolffo: pra quê? Cê não tem tempo.

Juliette: Rodolffo, pare de agir assim.

Rodolffo: eu sou assim Juliette. Se você não me entende é melhor pararmos com tudo isso de uma vez. Você nunca tem tempo para nós e eu tô bem cansado de dá murro em ponta de faca. Ou tem uma mudança ou não tem mais nada, entendeu?

Juliette: você não manda em mim e eu faço o quê eu posso pra te ver. Agora se tu não faz o mínimo esforço de entender as coisas, aí é problema seu.

Rodolffo: é mesmo... O problema é todo meu. Eu que continuo insistindo nisso mesmo sabendo que não me levará a lugar nenhum. Juliette não adianta, não temos jeito. Ocê nunca vai querer ser a minha namorada, esposa e tantas outras coisas que eu espero em uma mulher.

Juliette: se você pensa assim, tá bom. Eu não tenho mais argumentos e mesmo te amando eu te deixarei em paz. Você precisa viver o quê tem vontade e eu não posso te proporcionar tantas coisas.

Rodolffo: sabe Ju, tudo poderia ser tão diferente. 

Juliette: tu disse que não ia desistir e olha aí, tu tá desistindo.

Rodolffo: eu não posso te obrigar a ficar comigo Juliette, entenda isso. Relacionamento tem que ser as duas partes, ocê não me quer na sua vida, não tem espaço para mim aí.

Juliette: você é um egoísta, isso é a verdade Rodolffo. – digo já com lágrimas nos olhos.

Rodolffo: eu não sou egoísta e você nesse momento tá sendo injusta comigo.

Juliette: você só quer uma brechinha para cair na gandaia de novo, confesse!

Rodolffo: é... Cê nunca vai entender mesmo. Sempre é isso, o grande culpado dessa história sempre serei eu, não tem jeito para mim, né isso Juliette? – ele disse com um olhar triste.

Juliette: se tu quer seguir a sua vida, siga. Não precisa mais me procurar. De preferência vê se me esquece para sempre. – disse cheia de orgulho.

Rodolffo: seu pedido é uma ordem. Fica bem e boa sorte. Adeus.

Juliette: adeus.

Desliguei a chamada e me pus a chorar. Ele simplesmente nem quis mais argumentar, não quis ao menos terminar ao vivo e sim por uma chamada de vídeo. Foi quase um ano longe, uma recaída em uma noite e eu me sinto destruída. É tão difícil aceitar um fim e agora sei que é para sempre por que eu também quis assim e mandei ele me esquecer.

...

No apartamento da mãe de Rodolffo, Goiânia.

Vera: meu filho cê tem certeza? Eu vejo que cês se gostam tanto.

Rodolffo: não temos futuro mãe... Eu passei um mês inteiro atrás de vê-la nem que fosse para dá um abraço mas nunca tem tempo pra mim. E não estou recriminando ela por correr atrás dos seus sonhos mas não consigo sobreviver de migalhas. E só isso ela pode me ofertar. Pra mim já deu e depois dessa chamada piorou tudo. Ela me pediu para que eu a esqueça e assim eu farei mãe.

Vera: ôh meu filho, de verdade, eu fico triste por vocês mas já que está sendo assim é melhor terminar mesmo. Eu torcia tanto por vocês. Eu pensei que enfim meu netinho viria.

Rodolffo: é mãe... Acho que não vem de mim não. Que a Bella te dê os seus netos por que essa era ‘papai’ não vai chegar nunca para mim.

Vera: meu filho não diga isso. Você é jovem e tem uma vida pela frente, não pense dessa forma.

Rodolffo: desisti. Joguei a toalha. Entreguei os pontos com relação a isso. É fim de jogo. Meus filhos serão enterrados com as lembranças de amores que não viveram tempo suficiente para que eles vinhessem ao mundo.  Mas tá tudo bem, eu não tenho revolta. Deus me dará outros sonhos, eu creio.

Vera: Rodolffo, tudo tem seu tempo. Nem antes de nem depois, Deus faz tudo muito bem planejado mesmo que os caminhos não sejam retos. Não desista assim de algo que você sempre quis.

Rodolffo: eu sempre quis mas não tive a sorte de gostar de alguém que quisesse o mesmo que eu, entende? Mas eu compreendo, não é simples assim para a mulher gerar um bebê, muito pelo contrário é bem difícil, mas eu imaginava que quando a gente gosta muito de alguém, esse sentimento multiplica e se transforma numa nova vida mas não assim na realidade e eu já recebi um ‘não’ que doeu tanto que em definitivo eu não quero receber outro.

Vera: mas não foi a Ju quem te deu esse ‘não’, então não misture as coisas.

Rodolffo: ela não disse porque eu jamais propôs nada parecido para ela, nos cuidamos bem para evitar qualquer coisa inesperada mas é claro que ela me daria também um ‘não’, eu não preciso necessariamente perguntar, já sei a resposta.

Vera: dói te ver assim tão desiludido filho mas vou pedir a Deus que cicatrize o seu coração e lhe dê a oportunidade de viver um relacionamento que você se sinta feliz de novo.

Minha mãe me abraçou e nos seus braços eu reencontro um pouco a minha paz. Só digo uma coisa, mais verdadeiro que o amor de uma mãe não há e quando eu estou mal encontro nela um abrigo que só ela tem para me ofertar.


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