Capítulo 14: Incompatibilidade aparente

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Alguns meses depois...

Abril de 2025

Essa semana eu trabalhei tanto mais tanto que hoje estou só o pó da rabiola. Eita que esse ano começou com tudo. Desde janeiro eu não paro em casa e sinto bastante saudades de mainha mas quem de fato anda muito irritado com meu ritmo de trabalho é o Paulo, ontem tivemos uma discussão feia sobre isso.

Por falar nele, olha quem tá me ligando.

Ligação em andamento...

Juliette: oi Paulo. Como está?

Paulo: oi minha rainha, vai conseguir vir embora hoje? Ju eu preciso muito conversar com você. Tem que ser pessoalmente.

Juliette: infelizmente hoje não, mas amanhã logo depois do almoço eu viajo para o Rio, eu te prometo.

Paulo: Ju essa situação está insustentável. Ao menos você conseguiu retirar o diu?

Juliette: se ontem tu tivesse deixado, eu te falaria que retirei o diu. Agora eu sou uma mulher pronta para receber um bebê em meu ventre.

Paulo: será mesmo Juliette? Você é convicta disso? – ele perguntou irônico.

Juliette: o quê tu quer insinuar com essa pergunta Paulo?

Paulo: Juliette eu te amo em absoluto e sou convicto, agora será que você está preparada para se tornar esposa e mãe?

Juliette: claro que estou.

Paulo: então que porra de fotos são essas que você postou no feed do Instagram? – ele falou com um tom de voz que eu nunca ouvi antes e era agressivo.

Juliette: Paulo é o meu trabalho. Entenda que eu faço isso profissionalmente e me pagam super bem para pousar pra essa grife de lingeries.

Paulo: não aceito mulher minha vestida como vadia em perfis de redes sociais. Busque outros parceiros e tente outros trabalhos. Eu não aceito esse tipo de coisa Juliette.

Juliette: pois tu vai aceitar sim porque tu me conheceu assim e por acaso em algum tempo do nosso relacionamento eu te dei motivo para tu achar que eu te engano ou coisa parecida? Tenha  vergonha de me acusar assim.

Paulo: amanhã conversamos mas para que tudo dê certo, muita coisa tem que ser esclarecida. E aviso, não aceito mais esse tipo de comportamento vindo da sua parte. – ele falou rude.

Ele desligou o telefone na minha cara.

Parece que depois que noivamos ele só tem três pensamentos fixos: o primeiro é me controlar totalmente, o quê tá me deixando muito chateada; o segundo é me engravidar na velocidade da luz;  e o terceiro, é o quê me deixa mais  estressada e me faz não ter vontade de não ter nada com ele, simplesmente ele não entende que não me sinto pronta. Não acho que sexo, principalmente o anal, tenha que ser feito por que o parceiro busca isso em nós, tem que ser algo que os dois se sintam a vontade para fazer, mas estou pensando em seriamente me abrir pra isso...  É preciso se abrir a prazeres novos como diz ele, mas eu queria tanto ter vontade de viver isso e que fizesse algum sentido pra mim como mulher mas ele tá se lixando pra isso e eu já não suporto mais essa pressão.

A verdade é que nosso noivado vai de mal a pior e cada dia mais me sinto mais arrasada, acho trabalhar loucamente tem me salvado de entrar numa depressão mas eu vou seguindo, ainda tenho fé de salvar nosso relacionamento.

...

Em Senador Canedo...

Larissa se encontra aqui em casa desde a hora do almoço e sinto que ela tem algo pra me falar e não fala.

Rodolffo: tá tudo bem?

Larissa: tá sim. Tudo ótimo querido.

Rodolffo: cê tem certeza?

Larissa: tenho sim. Mas Rodolffo, a gente já fica a bastante tempo e gosto de estar com você e me sinto confortável para partilhar a minha vida contigo. Acontece que hoje eu fui na minha ginecologista...

Rodolffo: Larissa tem algum problema? Se precisar de algo é só falar.

Larissa: não tem nenhum problema. Eu só estava vendo com ela alguns métodos contraceptivos. Acho que o diu é uma boa escolha para mim, o quê cê acha?

Rodolffo: bem, eu não acho nada e pra falar bem a verdade, não confio nesses trem, já te falei, por isso uso sempre camisinha. Prefiro evitar surpresas no caminho.

Larissa: cê tem tanto medo assim de engravidar alguém é  Rodolffo?

Rodolffo: eu  não tenho medo, eu tenho responsabilidade, é diferente. Eu cuido para que isso não aconteça por que sei que filho não é boneco, não é acessório.

Larissa: Rodolffo mas eu sei que cê sempre quis ser pai.

Rodolffo: sempre quis está no passado, o meu presente é outro rolê.

Larissa: tenha um filho comigo Rodolffo... Não precisa casar comigo. Seremos amigos, amantes, o quê cê quiser mas me engravide. Eu me sinto pronta para ter um filho seu.

Essa proposta me pegou muito desprevenido e eu fiquei estático.

Rodolffo: menina... Cê é nova e bonita. Criança não é brincadeira não Larissa.

Larissa: eu tenho uma vida estável e não sou tão novinha, já tenho 25 anos e quero muito ser mãe Rodolffo. Cê sabe que eu sempre fui sua fã, sei tudo sobre você e posso falar com sinceridade que te amo e além disso, eu sou completamente apaixonada nocê.

Rodolffo: tá vendo. Não tá certo. Nem uma coisa e nem outra. Não Larissa, não vou te engravidar... Não teremos um filho juntos. Porque não é certo ser assim.

Larissa: eu não tô te pedindo em casamento, em namoro e nem que me ame... Eu só tô pedindo que cê coopere para que a vontade de Deus se realize na sua vida. Que a promessa de te fazer pai seja cumprida.

Eu respirei fundo e sinceramente depois de tanto tempo eu me senti balançado com aquele assunto. É como um fantasma a me assombrar.

Rodolffo: Larissa cê é uma muié massa demais. Entenda que cê é muito boa pessoa mas não podemos fazer isso. Não é o certo. Eu não engravidaria ninguém dessa forma.m, para mim não tem sentido.

Larissa: nós iríamos dividir a guarda e eu cuidaria dele com o maior amor do mundo. Eu não me importo se você arrumar outras... Desde que, ao menos uma vez cê quisesse dormir comigo, passasse lá em casa. Eu te amo tanto. – ela me falava com o olhar fixo ao meu.

Meu Deus, isso não é justo com ela, meu subconsciente gritava.

Rodolffo: Larissa, eu te peço: deixe de me amar pois eu não mereço esse amor. E eu não irei te engravidar porque você merece algo com sentimentos e não algo assim... Vazio.

Larissa passou a mão em seu rosto com raiva e pegando sua bolsa fez saída em direção a porta.

Larissa: eu vou te esquecer Rodolffo, cê não me merece mesmo. Seu covarde. – ela saiu batendo os pés.

Óbvio que ela estava com raiva mas eu nunca a prometi nada e se a magoei foi por expectativas que ela mesmo criou.

Mas reviver esse desejo de ser pai é algo tão pesado pra mim, ainda mais depois do anúncio do noivado da Juliette. O noivo falando que eles vão engravidar logo. Como eu gostaria de ser ele e vê-la esperando um bebê meu.

Meu Deus que sentimento horrível, eu estou com inveja dele? É duro acreditar e aceitar mas estou. O fato é que o bloqueio da minha vida continua sendo ela. A razão do meu tormento é a lembrança constante dela. De como foi no princípio, no meio e no fim. Minha mãe sempre me falou que nunca temos paz quando temos assuntos pendentes e nós não conseguimos terminar cara a cara. Não conseguimos ser amigos e consequentemente nutri esse sentimento negativo em mim. Ver ela com ele me dá inveja sim e também me dá raiva. Eu queria ser ele e dá aquela entrevista e dizer que iria me casar com a mulher mais foda que  já conheci, queria poder gritar o quanto a amo e que juntos formaremos uma linda família que habitará todos os espaços dessa enorme casa. Mas eu não sou ele e tenho que me conformar de uma vez por todas com isso.

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