TEMPORADA DE CAÇA

CAPÍTULO - 20

Senti os dedos da mão dela caminhar pelos meus cabelos. Eu só queria ficar ali o quanto pudesse, não queria ter que admitir que todos os problemas a minha volta eram reais. Não quero acreditar.

- Ei, calma, eu estou aqui - a voz aveludada dela sussurrou sobre meu ombro esquerdo. Ela continuou fazendo cafuné.

Permaneci em silêncio. Mais alguns segundos e senti mamãe fazer força para que nos separassemos.
Enquanto eu ia me recompondo, meus ouvidos captaram alguns barulhos de pessoas tossindo e uma mulher, que ao fundo cantarolava uma melodia e ia pentenado o cabelo.

- Algum sinal de quando a energia irá voltar ? - o médico proferiu, sua voz saiu empoeirada, devido ao uso da máscara.

- Nicolas está cuidando disso nesse momento, em breve teremos respostas - Felícia respondeu.

- Você vai ficar muito tempo aqui, querida ?.

- Não, só vim trazer o Léo, as pessoas precisam de mim lá fora - sua voz passou a se extenguir, enquanto recuava alguns passos - cuide bem, deles dois - ela apontou para onde eu e mamãe nos encontrávamos.

Antes que Felícia pudesse sumir de vista, chamei-a :

- Ei, obrigado por tudo.

- Dessa vez, mas só dessa vez, eu vou aceitar seu pedido. Até mais novato - ele falou sorrindo e em seguida sumiu através da porta.

A ala médica emanava uma calma oposta ao caos que se seguia pelos corredores. Cerca de 20 minutos se passaram e nesse período, mamãe e eu ficamos sentados juntos em cima da cama conversando sobre algumas lembranças.

Notei que ela estava usando uma faixa branca enrolando sua cintura.

- O Senhor Douglas - deduzi ser o médico -, falou que é normal essas dores em minha, não tem escapatória, falta pouco tempo para eu fazer trinta anos.

- Não, eu vou cuidar de você, assim como você sempre cuidou de mim, prometi isso ao papai e preciso honrar a promessa - disse.

- Léo, não deixe que seu coração se torne um escravo da honra - mamãe depositou sua mão sobre meu peito, me encarando com seus olhos profundos.

Refleti por um momento.

- Mas você não está bem e eu precis....

- Léo - ela segurou minha cabeça e me fitou -, eu sempre estive cansada, durante todos esses anos que o seu pai não esteve aqui, eu só me sentia sem forças, mas nos últimos dias, você me carregou e pela primeira vez em anos, eu me senti aliviada - algumas lágrimas deslizaram pela face dela.

- O papai ficaria orgulhoso de mim ? - estremeci.

- Sim, ele ficaria, e eu também, eu estou orgulhosa de você - ela finalizou e eu assenti com a cabeça. Nos abraçamos novamente -, mas você passou muito tempo querendo ser igual seu pai e se esqueceu de ser você mesmo - ela focou em meu peito.

Um cortina foi movimentada do outro lado da sala pelo outro médico, revelando uma mulher grávida numa cama, se tratava de Florença. Com um extremo cuidado, ela levantou e quando percebeu minha presença, sorriu brevemente e passou a conversar algo com o médico. Mas algo havia despertado minha atenção na movimentação dela, assim que os seus olhos foram apontados para mim, vi que as íris eram pretas e eu podia jurar que elas eram azuis no momento em que a conheci no refeitório. Mas, talvez eu possa ter me enganado e decidi jogar essa dúvida para fora da minha mente.

- Olha só para ela, minha barriga ficou duas vezes maior quando eu estava te esperando, Thiago passava a maior parte do tempo conversando com você e sonhando com o dia em que você colocaria os pés para fora - mamãe falou com um brilho diferente no olhar.