PARTE III | CAPÍTULO - 26

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TEMPORADA DE CAÇA
- Parte III -

" Deixe de ser caça e vire caçador;
só assim não virarás comida".
- Melissa Hadassah -

Deitados e encostados mais uma vez nos bancos do metrô, eu recebia um cafuné no cabelo. Ainda sentia minha mão tremer e não paro de pensar em tudo que tinha acontecido à duas horas atrás.
A chuva continuava e os relâmpagos clareavam a noite em flashs repentinos.
Meu braço passou a doer mais e mesmo que eu tentasse ignorar, meu corpo dava vários sinais que se aquilo não fosse tratado, algo pior poderia acontecer mais tarde.

- Sabe onde seus pais podem estar agora ? - abri os olhos e Victor estava deitado no outro banco, totalmente encolhido.

- Não - a resposta veio seca e em seguida, ele se virou para o outro lado. Eu conhecia essa rejeição, as vezes tudo que queremos é encontrar um lugar seguro para nossa mente descansar e não precisar se ocupar com os problemas da vida real.

Alguns passos rápidos foram soados lá fora, me levantei rapidamente e peguei o revolver do meu bolso, não haviam balas, mas os caçadores não precisavam saber disso.
Acompanhando um alto barulho de um trovão, pulei para fora do veículo e subi no piso superior da estação. Em cima, dei de cara com um grupo de vinte pessoas, não eram inimigos. Abaixei a arma.

A minha frente, com semblantes cansados e totalmente molhados, estavam habitantes do búnquer. Poucos rostos eram familiares, entre eles estavam: Luiza, Marta, Letícia, Antônia, Erik e Tony. Quatro crianças e cinco mulheres grávidas também estavam no grupo.

- Falei que ia voltar - Marta estendeu a mão e apertei-a de volta, dei um breve sorriso.

Minha tia se aproximou de mim, não esperei que ela tomasse a iniciativa e dessa vez, eu mesmo a abracei. Em meio ao frio da noite, aquele momento trouxe um pouco de calor.

- Quem é o menino ? - Tony questionou. Olhei para trás e na porta do metrô, mamãe segurava a lanterna e ao seu lado, Victor nos observava calado e tímido.

- É uma longa história, depois explico. Só sobraram vocês? - falei, já esperando más notícias.

- Outros estão vindo atrás pelos trilhos, a maioria foi dispensada pelos caçadores. Mas uma parte dos nosso fora capturada.. - Marta passou a explicar e pela primeira vez senti uma tristeza genuína nela -, Felícia e Nicolas.. - ela se interrompeu - eles.. foram levados Léo.

Travei por completo e rejeitei as palavras que saíram da boca dela, não queria acreditar. Meu ódio para com o império crescera ainda mais e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar o cenário e consequentemente o destino de Nicolas e Felícia.

- Mas Bianca e o bebê? - perguntei aflito.

- Não se preocupe, estão vindo no grupo de trás - Marta tranquilizou.

Todos nós mantinhamos a sensação de desolação e perda, seja nos olhos, na face ou até mesmo nas feridas. Naquele momento, apenas o caos imperava. Uma parte do grupo entrou para o metrô e juntos, procuraram se aquecer.

Na área das cabines da estação, sentei-me ao lado da minha tia e por poucos minutos ficamos sozinhos, enquanto o restante do grupo procurava se abrigar da chuva ou montava guarda. O restante do pessoal poderia chegar a qualquer momento.

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