capítulo 9

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Flashback on

O homem bem vestido se aproxima da garotinha de 8 anos que balançava as pernas pra frente e pra trás enquanto conversava com a irmã gêmea.

— Maraisa, por que você machucou a sua coleguinha?

Mara: eu não machuquei, só empurrei e ela caiu de cara no chão! — ergue as mãozinhas —

— por que você fez isso? Sua coleguinha precisou levar 3 pontos na testa, isso não foi legal

Mara: ela queria bater na minha metade embaixo do pé de manga lá de trás da escola, aí eu fui lá e briguei com ela!

— você se arrepende do que fez?

Mara: não, eu protegi a minha metade!

Mai: a metade é muito corajosa — dá um beijinho na bochecha da irmã —

— meninas, podem ir brincar agora, eu vou conversar com os pais de vocês

As duas garotinhas dão as mãos e voltam para a área de brinquedos, separada do consultório apenas por uma divisória transparente. Enquanto elas brincam, Almira e Marco César conversam com o médico psiquiatra.

— vocês fizeram bem seguindo a recomendação da escola das meninas e vindo até aqui. Pelo que eu pude perceber, Maraisa é uma criança muito inteligente e racional, e, pelos comportamentos que vocês relataram ter visto nela, posso concluir que há uma possibilidade dela ter algum transtorno de comportamento ou personalidade.

Alm: o senhor sabe qual?

— bem, há um leque de possibilidades, seria preciso uma avaliação bem detalhada para chegar a um diagnóstico. Contudo, pelas minhas análises, o mais provável é que esses sejam apenas comportamentos ansiosos.

Marco: como assim?

— veja bem, é perceptível que ela vem amadurecendo na cabecinha a necessidade de proteger, e defender a irmã, essa pode ser uma maneira que ela encontrou pra chamar a atenção das pessoas próximas.

Alm: ela não precisa fazer isso, nós tratamos as duas igualmente, assim como todas as pessoas próximas a nós!

— terei que discordar, senhora Almira. Pelo que pude analisar, esses comportamentos dela refletem uma criança que tem carência de carinho e atenção, recebendo boa parte disso apenas da gêmea, então ela a defende desesperadamente, por medo de se caso não o fizer, acabar perdendo o pouco que tem.

Marco: então ela só quer chamar a atenção das outras pessoas por que não se contenta só com a da Maiara?

— veja bem, ela não precisa só da atenção da irmã. As crianças, como qualquer pessoa, gostam e necessitam do carinho e atenção das pessoas que amam. Certamente Maraisa sente falta disso e age assim para que essas pessoas percebam que ela também merece isso tanto quanto a irmã, isso gera uma ansiedade nela que futuramente pode ser prejudicial, entendem?

Alm: entendo, entendo que isso é birra dela!

Marco: Almira! Nossa filha precisa de terapia!

Alm: vamos embora, Marco.

Flashback off

Maiara

acordei e encarei o teto, lembrando daquele dia. Ninguém sabe, mas eu ouvi tudo que o médico falou e hoje eu consigo entender claramente. No fundo, minha irmã ainda é a garotinha que só queria atenção e nunca recebeu. Viro a cabeça pro lado e vejo ela dormindo tranquilamente, parecendo um bebê. Despertando de meus devaneios, peguei o celular e vi a hora. São quase seis da tarde,então eu levantei e fui até a cozinha preparar o jantar, mesmo não levando muito jeito pra coisa. Estava tentando tirar a pizza do congelador quando ouvi a campainha tocar.

Mai: mãe, não adianta querer conversar de novo, a Maraisa não quer falar com vo... — abro a porta — Cesar Filho? Desculpa, irmão! Eu pensei que fosse...

Cesar F: a mamãe, saquei. Sei que vocês não andam se entendendo bem ultimamente.

Mai: e provavelmente vamos continuar assim por um bom tempo — coloco a pizza no micro-ondas — era sobre isso que você queria falar?

Cesar F: na verdade não. O Bruno me contou o que aconteceu, eu fiquei preocupado com vocês.

Mai: estamos indo, os meus hematomas já estão desinchando e a Maraisa reconhece que passou um pouquinho dos limites, mas não a julgo, o Fernando também passou.

Cesar F: também não a julgo. Ela te ama, só queria te proteger.

Mai: você nem imagina o quanto isso machuca ela — pego três potiguarzinhas na geladeira — servido?

Cesar F: valeu — abre uma garrafinha —

Peço licença ao meu irmão e vou acordar minha metade. Entro no quarto silenciosamente, subo na cama com cuidado e começo a distribuir beijinhos no rosto dela, que resmunga e se cobre.

Mai: meu amor, o jantar tá pronto, é hora de levantar...

Mara: não quelo...

Mai: vamos... — beijo sua bochecha — eu fiz uma comidinha bem totosa pa você!

Mara: tá bom, metade, acordei 

Mai: eeeeee!

nos abraçamos e descemos pra cozinha. O César Filho resolveu ficar mais um pouco e jantou conosco, falando de assuntos aleatórios. Terminamos de comer e enquanto discutíamos qual filme assistir, o celular dele tocou e ele fechou a cara ao ver a notificação.

Mai: que que foi, irmão?

Cesar F: mensagem da mamãe

Mara: tinha que ser a estraga prazeres — da um gole na bebida — que que ela quer?

Cesar F: conversar comigo sobre vocês duas





Nunca ● Maiara e MaraisaWhere stories live. Discover now