capítulo 17

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Maraisa

Depois de ficar mais algum tempo relembrando os bons momentos, voltamos pro jatinho e decolamos rumo à nossa casa. Eu tô me sentindo um pouquinho melhor agora, pensar em coisas boas era o combustível que eu precisava.

Chegamos em casa e enquanto a Maiara  foi fazer algo pra comermos, sentei no sofá e brinquei com as mangas do moletom, digerindo tudo que acabou de acontecer. Olho pro canto da sala e vejo meu piano, sinto falta de tocar. Me aproximo, passo a mão nas teclas e sento no banquinho, fecho os olhos, tocando uma melodia suave, quando dei por mim, um abraço quente me envolvia, passando uma sensação de segurança.

Mai: decidiu tocar, meu amor? — beija a minha bochecha — tá se sentindo melhor?

Mara: eu vi o piano e me deu uma vontade de tocar... — sorrio — eu acho que melhorei um pouquinho, Balala

Mai: que bom, minha vida! — sorri e me dá outro beijo na bochecha — vamos aos pouquinhos, tá bem? Você tem o tempo que precisar

Mara: mas e os shows?

Mai: quando você se sentir pronta, a gente volta — me olha — eu não vou te obrigar a nada

Sorrio levemente e acompanho ela até a cozinha. Depois do almoço, eu estava dobrando algumas roupas quando minha irmã surge na porta.

Mai: podemos conversar?

Mara: claro, sobre o que?

Mai: eu andei pensando e... — senta na cama — uma ajuda profissional seria bom pra você...

Mara: não, eu não quero fazer terapia! — me aproximo da parede — nem tente insistir

Mai: metade... — se aproxima de mim — vai ser bom...

Mara: você pode ter facilidade pra se abrir com alguém que nem conhece direito, mas eu não — deixo uma lágrima cair —

Mai: Maraisa...

Abraço os joelhos e olho pra ela com as bochechas molhadas pelas lágrimas.

Mara: eu não vou me abrir ou desabafar com ninguém, Maiara — seco as lágrimas — ninguém...

Minha irmã se aproxima mais e põe a mão no meu joelho.

Mai: nem comigo?

Mara: você não entenderia... — olho pro lado —

Mai: eu não vou poder te ajudar se você não se abrir... — segura minhas mãos — confia em mim, metade...

Respiro fundo e olho pra ela com os olhos cheios de lágrimas.

Mara: desde o início, eu fiz aquilo por muito mais do que vingança. Eu queria proteger você por que sabia que uma hora ele ia conseguir te arrancar de mim e eu não queria que isso acontecesse, eu tentei impedir isso custe o que custasse por que tive medo de ficar sozinha, medo de te perder por que a vida inteira eu ouvi as pessoas falando coisas pra mim e me tratando diferente do jeito que te tratavam, você sempre foi a única que me amou e eu não podia perder isso.

Mai: irmã...

Mara: então eu agi daquela maneira estúpida, e aí ele fez aquilo comigo pra se vingar... — tento controlar os soluços — ele disse que era pra eu aprender a não me meter na vida dos outros e foi muito violento, aquilo foi o que faltava pra eu transbordar... — respiro com as mãos tremendo — eu fiquei com nojo de mim, eu tive vontade de morrer...

Sem dizer uma palavra, Maiara me abraça e eu desabo naquele abraço, escondendo o rosto no peito dela.

Mai: vai ficar tudo bem...

Mara: por que todo mundo me machuca? Isso não é justo...

Maiara

Levo minha mão a cabeça dela e faço um leve carinho. Fecho os olhos e deixo algumas lágrimas cairem, ouvir esse desabafo da minha irmã foi como uma facada no meu coração. Minha metade tá destruída, a vida inteira ela aguentou tudo sozinha, estava mal e eu nem percebi. Cada dia mais eu odeio o idiota do Fernando e todo mundo que machucou a minha irmã.

E tirando o papai e o rabinha, a nossa família, que deveria nos apoiar mais que todo mundo, foram os que mais a machucaram. Maraisa a vida inteira foi tratada diferente de mim por que nunca foi o que esperavam que fosse, ela nunca foi perfeita o suficiente.

acho que toda família tem alguém que é  tratado feito lixo por não ser "o exemplo", "perfeito" ou "igual a todo mundo".

Mai: metade, olha pra mim — ergo seu queixo — eu prometo que ninguém nunca mais te machucar, e não haverá um dia na vida que você vai se sentir sozinha

Mara: eu acredito em você...

Mai: até o final eu e você, viu?

Mara: até o final — seca minhas lágrimas — não chora...

Mai: isso tudo também me afetou muito, cê sabe que eu sou sensível...

Mara: então eu cuido de você e você cuida de mim, o que acha?

Mai: é uma boa ideia — sorrio levemente —

Nunca ● Maiara e MaraisaWhere stories live. Discover now