Maraisa
Brincamos com a Mel o dia todo. No final da tarde, o produtor ligou bravo, nos apressando pra voltarmos aos palcos. Eu quero muito cantar de novo pros nossos fãs, mas tenho receio que esse retorno e a correria dos shows atrapalhe o processo de adoção. Pra não contrariar a minha irmã e não causar ainda mais problemas, eu disse pra ele que voltariamos com a agenda de shows no inicío da semana, o que antecipou a volta da Mel pro orfanato.
No caminho de volta pra casa, paramos no sinal e eu respireo fundo, tentando afastar os pensamentos desnecessários. A Maiara percebeu que havia algo errado e colocou a mão na minha coxa.
Mai: eu posso saber o que se passa nessa cabecinha?
Mara: eu só tô preocupada com o processo de adoção, metade. A diretora do orfanato falou que vamos precisar preencher muita papelada, e o juíz ainda precisa decidir se estamos no perfil de pessoas que podem adotar...
Mai: é um processo complicado, mas nós vamos conseguir equilibrar com os shows, se é isso que mais te preocupa — ri levemente —
Mara: você me conhece mesmo.
O sinal abre e seguimos nosso caminho. Já de tarde, arrumamos as malas pros shows da semana e decolamos de madrugada. De manhã, arrumamos as coisas no quarto do hotel, eu estava revisando o repertório quando recebi um e-mail do conselho tutelar com os requisitos para entrar no programa de adoção e conseguir a guarda da Melissa.
Mara: Maiara! Vem aqui!
Mai: tô aqui, irmã! O que que foi?
Mara: recebi um e-mail do conselho tutelar com os requisitos pra adotar uma criança
Mai: e você atende a todos eles?
Mara: espera... — leio com calma — nós atendemos, eu acho. Precisamos ver isso com mais calma.
Mai: mas já é um começo — sorri dando pulinhos — eu quero muito ser titia logo!
Mara: precisamos ir com calma!
Durante a semana, recebi vários e-mails e ligações sobre esse assunto. O pessoal da equipe ficou muito animado com a notícia, eles parecem até mais anciosos do que nós duas juntas. Cumprimos a agenda da semana e como teríamos uma reunião com a assistente social, resolvemos aproveitar a nossa folga pra resolver tudo de uma vez.
Maiara
Entramos na diretoria do orfanato e a Maraisa começou a tremer. Puxei dias cadeiras pra ponta da mesa e sentei ela ao meu lado. A assistente social chegou já olhando meio estranho pra nós e sentou na outra ponta da mesa.
— fico feliz que tenham retornado com a gente e principalmente que tenham tido tempo de vir até aqui.
Mai: apesar da nossa vida agitada e dos problemas pessoais recém resolvidos, nós somos muito responsáveis.
Ass: muito bem, vamos direto ao ponto, apesar de atenderem aos requisitos, há algumas questões em vocês que entram em atrito com o que se espera no perfil de pessoas habilitadas a adotar.
Mai: como quais? — arqueio a sobrancelha e apoio os braços na mesa —
Ass: você e sua irmã são figuras públicas, como iriam garantir que a criança não sofresse uma grande exposição?
Mara: nós somos bem reservadas, isso eu posso garantir.
Ass: outro ponto é que vocês são cantoras, vivem na estrada, vão garantir a ela todos os direitos que a lei prevê para as crianças?
Mai: nós podemos estar sempre viajando mas temos quem poderia cuidar dela enquanto trabalhamos, afinal, precisamos sustentar ela, certo?
Ass: certo, mas...
Mai: mas o que?
A mulher caminha pela sala e se aproxima de nós, ela nos olha de cima a baixo, provavelente por minha irmã estar de boné pra trás, jeans, camiseta e eu com um vestidinho curto colado azul clarinho e bolsa da gucci.
Ass: vocês duas... — morde a tampa da caneta — como posso dizer, não parecem o tipo de gente mais adequada pra adotar uma criança.
Mara: por que? Eu posso saber? — minha irmã levanta e eu agarro seu braço —
Ass: você é desleixada e sua irmã é patricinha, ambas parecem não ter noção de como se cuida de uma criança.
Mara: olha aqui sua vaca, em primeiro lugar, não se deve julgar as pessoas pela aparência, e em segundo lugar, lave a sua língua pra falar da minha irmã! Quem é você pra decidir se uma pessoa pode ou não dar um lar pra uma criança inocente?
A diretora, que até então estava quieta, se aproxima de nós.
Mai: Maraisa, calma...
Mara: Eu e a Maiara podemos muito bem educar uma criança, cuidar dela e tratá-la com o devido carinho e respeito que ela merece, e vamos fazer isso do nosso jeito! A Melissa vai ser nossa, quer você queira ou não!
Ass: você é bastante agressiva, isso não é...
Mai: cala a sua boca! — dou um tapa na mesa — mais uma palavra sobre nós e eu enfio a minha mão no meio da tua cara, por que eu posso ser boazinha, mas não tenho sangue de barata!
Entrego uma pasta pra diretora do orfanato, pego minha bolsa com uma das mãos e seguro a mão da Maraisa com a outra.
Mai: aqui estão os documentos que pediram, nós não vamos ficar aqui aguentando desaforos! Vem, metade! — caminho até a porta de mãos dadas com a minha irmã —
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Nunca ● Maiara e Maraisa
Fanfictionbrigas são inevitáveis, em qualquer que seja o relacionamento. O Orgulho sobressai a lucidez e as palavras são cuspidas desenfreadamente, sem filtro algum. elas faziam parte do cotidiano de Maiara Carla, que se sentia sufocada de tanto viver no mei...