Cap XIX - O Zumbi de Palmares

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O capítulo a seguir pode ser um pouco pesado demais, tratando sobre racismo, escravidão e, principalmente, a crueldade contra humanos. Se você for sensível a qualquer dos temas relatados acima, recomendo que não leia.


Na floresta ressecada, os animais faziam barulho ao fundo, enquanto ele caminhava, vendado, ensanguentado, enquanto dois soldados da capitania de Pernambuco o empurravam.

Ele se lembrava de muito pouco, só se recordava de estar na mata, talvez brincando, talvez caçando, não sabia ao certo.

Sua perna doía, mas não podia parar de caminhar, não o deixariam parar.

Enquanto andava, tropeçou, caindo de cara no chão.

Com um chute nas costelas, um dos soldados mando ele se levantar, gritando e xingando.

– Será que não te ensinam nem a andar direito naquela merda de quilombo?

Com dor, ele se levantou e continuou a andar, mancando, talvez com o tornozelo torcido.

Depois de vários minutos de caminhada, eles pararão.

Ele tentou forçar sua audição, tentando perceber onde estavam. Parecia que tinham saído da mata, o barulho era de uma cidade pequena, ou um povoado.

Alguns passos foram se aproximando dele, era sem dúvida alguém adulto. Ao fundo, ele achou ter ouvido um sino tocando.

– Aqui está, senhor – disse um dos soldados – o escravo que o senhor pediu.

– Perfeito, perfeito – disse o homem, um barulho de moedas foi ouvido enquanto falava – mas não podia ser um pouco... maior? Não acho que esse possa me ajudar com tudo.

– Foi o maior que encontramos – disse o outro soldado – estava embrenhado na mata, sozinho.

– Então ele era...

– Sim, de um quilombo. Não acho que tivesse fugido, devia só ter se afastado um pouco demais.

– Nossa...

O homem se aproximou mais, tirando com cuidado a venda dele, que abriu os olhos com dificuldade, acostumado com a escuridão.

Sua visão foi se adaptando aos poucos, enquanto ouvia o homem com roupas de um padre falar.

– Consegue me entender? Olá meu jovem, é um prazer conhecê-lo. Meu nome é Antônio Melo. Qual é o seu?

O jovem olhou para ele confuso, assutado. Não respondeu.

– Ele fez uma pergunta, crioulo desgraçado! – disse um dos soldados, enquanto batia na cabeça dele, o fazendo se curvar de dor.

O padre rapidamente se colocou entre eles, tirando-o de perto do agressor e repreendendo o mesmo.

– Não toque nele! – gritou Antônio – É só uma criança! Minha criança!

O soldado se assustou e deu um passo atrás, relutante.

O garoto olhou para eles, assustado. Não importa o quanto tentasse, não entendia nem uma palavra.

O padre se voltou para ele, acariciando sua cabeça e tentando acalmá-lo.

– Não está nos entendendo, está? É claro que não, como poderia. Bom, se não tem um nome, não tem problema. Vejamos... Francisco! Esse será seu nome. Francisco, realmente um ótimo nome – o padre se levantou e acompanhou francisco para dentro de sua residência – Vamos, Francisco, você tem muito a aprender. Quantos anos você tem? Seis, sete?

Ragnarok - A última EsperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora