O restante do tempo que eu tive de intervalo e aulas passaram bem rápido até. Jun-Seo perguntou o que aquela garota queria, então contei que nós só ficamos. Ele disse que já “imaginava,” talvez ele seja vidente e eu não saiba.
Minha mãe me ligou pedindo para que eu fosse hoje até o seu trabalho entregar uma pasta que ela havia esquecido. Ela acabará de retornar ao emprego, depois de tirar um mês de férias. Dessa forma eu me despedi logo dos meninos para que pudesse andar logo, mas antes de sair do colégio eu dei de cara com a Anna no corredor.
Nos encarávamos visivelmente sem graça.
— Vê se não é a minha professora favorita! — Sorri me aproximando. — Ei, será que podemos conversar?
— Sobre?
— Sobre... Hum, você sabe.
— Não, sinceramente não. — Mentiu. — Se não for nada de importante, eu preciso ir embora.
— Sério, eu quero conversar com você. — Juntei as mãos como se implorasse. — É bem rápido!
Ela assentiu por fim.
— Podemos conversar na sala dos professores, tudo bem?
Balancei a cabeça positivamente e então fomos.
Chegando na sala, eu não sabia por onde começar e a professora Francesa parecia muito impaciente o que me deixava ainda mais nervosa. Seus olhos me miravam curiosamente.
— Eu sei que me viu no banheiro, mas não é o que a senhora imagina!
Anna cruzou os braços.
— O quê você acha que eu imaginei? Vocês duas estavam se pegando como se não se importassem com quem poderia entrar.
— Inclusive, a senhora pareceu bem interessada.
A mesma arregalou aqueles olhos azuis me fazendo sorrir de lado.
— O quê está insinuando?
— Nada, nada não! — Me repreendi mentalmente por ter dito aquilo. — Mas porquê ficou todo aquele tempo nos assistindo?
Anna deu uma risada sem humor.
— Ah entendi, eu tinha que ter saído correndo para não atrapalhar o casalzinho?
Revirei os olhos ignorando aquela pergunta, era notório que essa conversa não chegaria em lugar nenhum.
— Pense o que quiser, só não me entregue na direção, por favor! — Pedi me virando com o intuito de sair logo dessa sala. Já estava cansada desse assunto.
Foi nesse momento que senti sua mão agarrar meu braço, me fazendo virar novamente. Meus lábios estavam entreabertos denunciando a minha surpresa.
— Pode ficar despreocupada, não irei contar a ninguém. Só tenha cuidado se não você e sua namorada podem se encrencar.
Olhei para sua mão que ainda segurava meu braço.
— Emma e eu não somos um casal. Só ficamos uma vez e pronto, nada demais.
— Entendo, a senhorita deve ter muitas paqueras. — Soltou meu braço.
— Na verdade a pessoa que eu gostaria de estar é meio impossível de acontecer, então o quê adianta? O quê adianta ter várias no meu pé, se não posso ter quem eu realmente quero.
Anna sorriu.
— Hoje em dia tudo se resolve e se consegue com um bom diálogo. Se gosta de alguém, diga para essa pessoa.
— Acontece que eu já falei...
— Ah é? E o quê ela disse? — Pareceu interessada.
Olhei no fundo dos seus olhos e mesmo que meu coração estivesse prestes a pular pela boca, eu não podia perder essa oportunidade de jogar um verde para colher maduro, então respondi sua pergunta com a maior sinceridade do mundo.
— Ela me disse, hoje em dia tudo se resolve e se consegue com um bom diálogo... Se gosta de alguém, diga para essa pessoa. — Repeti cada palavra sua fazendo-a recuar um passo para trás. — Professora Anna? Eu sinto um desejo muito forte pela senhora. — Confessei.
Minha vergonha era grande, mas meu fogo no rabo era maior. Sei que me arrependeria depois por ter me confessado assim dessa forma, mas era a única chance que eu tinha para deixar claro que sentia algo por ela. Ouvi sua risada sem um pingo de humor, suas bochechas estavam bem vermelhas, ela até chegou a cruzar os braços novamente para ver se disfarçava.
— A senhorita tem um ótimo senso de humor...
— Não, só estou falando sério com a senhora, acho que nunca falei tão sério com alguém em toda a minha vida.
— Rebecca... Não diga essas coisas.
Me aproximei ainda mais.
— Mas a senhora me disse que eu precisava expressar meus sentimentos.
— Não achei que fosse falar de mim. — Balançou a cabeça em negação. — Eu sou sua professora, sou casada e a senhorita é só mais uma adolescente confusa.
Franzi a testa incrédula.
— Adolescente confusa?
— Além do mais a gente pode se meter numa confusão enorme. Não quero mais que diga essas coisas. — Fez uma pausa dramática até continuar: — Eu não gosto de mulheres e muito menos de você.
Abaixei a cabeça com o que eu acabará de ouvir. Não acredito que ela estava dizendo isso na minha cara.
Suspirei pesadamente e assenti.
— Certo, nunca mais a senhora vai ouvir falar sobre isso.
— Excelente. — Encostou na mesa. — Agora vá, já está tarde.
Dei as costas indo embora finalmente desse colégio, sentindo uma decepção e raiva invadir meu peito.
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A Tout de Suíte?
RomancePara a minha querida professora de Francês, por ter me ensinado que a vida não é um conto de fadas. OBS: Leiam essas obras na ordem que quiserem, mas o aconselhável é ler Meraki primeiro. OBS: PLÁGIO É CRIME!