— Oi, professora Laquintinie! Nós estávamos passando por aqui e vimos a senhora de longe. — Xavier explicou.
— Ah... Certo, fico feliz em vê-los novamente. — Sorriu voltando sua atenção para mim. — Vocês querem entrar? Eu ainda não inaugurei, está tudo uma bagunça, espero que não se importem.
— De forma alguma. — Asher afirmou entrando em seguida com os outros dois.
No começo eu fiquei parada na porta, não queria entrar mas os meninos quase faltaram me empurrar para dentro. Saco, eles me pagam! Pensava.
Observei o espaço. Havia um pequeno palco enfrente, algumas mesas, só estava faltando pintar, dar uns retoques... Enfim.
— Podem se sentar. — Apontou em uma das mesas e então nós fomos.
Me sentei no canto e fiquei o tempo todo de cabeça baixa, evitando qualquer contato visual com Anna. Mesmo assim eu era capaz de sentir toda a sua atenção voltada para mim, não importa quanto os meninos falassem. Ela se sentou na mesa com a gente e vez ou outra perguntava sobre o colégio. Eu estava desconfortável, todos esses meses que passei tentando tirar ela da minha cabeça, foi inútil. Suas lembranças agora estavam ainda mais vivas.
— No próximo final de semana será a nossa formatura.
— Sério, Asher? Fico feliz em saber. Vocês chegaram tão longe, estou orgulhosa.
— Sim, obrigado, professora Laquintinie. Em falar nisso, se a senhora quiser aparecer no colégio no dia da formatura, nós ficaríamos...
— Não. — Interrompi. — Acho que a professora está muito ocupada para ir até o nosso colégio, não tem porque ela aceitar.
— Pelo ao contrário, eu iria adorar.
Olhei em seguida para ela. Minha expressão mudou radicalmente, eu estava nervosa. Por quê ela iria até o colégio? Para brincar ainda mais com os meus sentimentos, só podia ser a resposta. Olhei para suas mãos e notei a aliança. Cretina.
Me levantei.
— Esqueça o convite que o Asher te deu. Seria ridículo a senhora aparecer sem mais nem menos no colégio. A senhora não pertence mais àquele lugar, por quê iria para a formatura? — Apoiei as mãos sobre a mesa.
Noah me encarou boquiaberto.
— Não precisa falar desse jeito, Rebecca, foi só uma gentileza da nossa parte.
— Tudo bem, querido. — Fez gesto com a mão para que ele parasse de falar. — Vocês podem nos dar licença? Gostaria de conversar a sós com a Rebecca.
Todos concordaram.
— Ficar a sós? Não vejo motivo algum para fazer isso. — Cruzei os braços.
— Me dê apenas cinco minutos. — Se levantou.
— Não.
— Já chega, Rebecca.
— É o Xavier tem razão. Você está muito alterada, acho melhor fazer o que a professora Anna pediu. Seja lá o que tenha acontecido entre vocês, não deve ter sido tão sério. — Foi a vez de Asher.
Balancei a cabeça em negação. Eles realmente não sabiam nem dez porcento de tudo o que aconteceu entre mim e a Anna, então eles não tem o direito de opinar. Só que a cretina avisou que poderia ir até a minha casa mais tarde, caso fosse necessário, mas era óbvio que eu não permitiria. Então para me poupar disso, acabei aceitando conversar com a Anna. Os meninos ficaram sentados na mesa, enquanto nós fomos até os fundos.
Paramos em um cômodo não muito grande, acho que ela usava como uma espécie de cozinha ou algo do tipo, só que agora isso não entrava em discussão. Cruzei os braços novamente e exigi que ela dissesse logo o quê queria.
— Vejo que você continua guardando mágoa de mim depois de meses.
— Podiam ser anos, décadas... O sentimento continuaria o mesmo.
— E eu entendo completamente.
— Será mesmo? Porque se entendesse não teria me trago até os fundos do seu maldito estabelecimento! — Cerrei os punhos.
Anna se aproximou tentando segurar meu rosto, me afastei bruscamente.
— Esses meses também não foram tão fáceis pra mim. — Seus olhos lacrimejaram. — E te vendo agora... — Me analisava dos pés a cabeça.
— Conta outra.
— Estou sendo sincera!
— Você mentiu pra mim! Por um momento me fez pensar que nós poderíamos ter dado certo. Não foram com palavras, mas com suas atitudes! Foi com um passeio até o shopping de mãos dadas, com uma música que nomeamos só nossa...
E novamente ela tentava se aproximar. Empurrei ela para longe de mim, pedindo, implorando para que ela me deixasse em paz. Como eu seguiria com a minha vida se ela insistia em me atormentar dessa forma? Eu me sentia sufocada cada vez que tentava engolir tudo o que estava sentindo. Diferente de antes, agora eu não tinha mais com quem contar, eu não tinha mais ninguém.
— Não foi assim, tem que acreditar em mim. Eu estava tão assustada, você não faz nem ideia. Eu tive que fugir! — Tentava se explicar entre lágrimas. — Isso não é culpa sua. Não é sua culpa mas também não é a minha! E foram meses até que eu me desse conta disso. — Inclinou a cabeça para o lado. — Todo esse tempo eu tentei tirar você da minha cabeça, me convencendo que não havia sentimento nenhum além da atração física, porque tinha medo de ser sincera comigo mesma e de admitir que... — Parou no mesmo instante. Anna se sentou na mesa e se serviu com um pouco de água, como se fizesse uma pausa.
Sorri amargamente.
— Que...? — Incentivei, Anna continuava muda. — Termina o que você esteva prestes a dizer! — Pedi sendo ignorada com sucesso. — Você continua sendo a mesma covarde que daquela noite em que eu me declarei com todo o meu coração. — Posicionei a mão sobre ele.— Parece que nós duas aprendemos uma lição grandiosa, que diz assim... Só sentir não basta, precisa agir também. — A analisei, antes de me virar para ir embora. — Mas a cada dia que se passa eu me convenço do contrário. — Dei um sorriso sem humor.
— Quero que saiba que eu sinto a sua falta!
— Engraçado, porque você prefere me perder ao ser sincera comigo.
Anna abaixou a cabeça como a covarde que é.
— Sinto muito. Ainda não sei como fazer isso. — Girou a aliança no seu dedo.
Concordei por fim, não tinha mais o que fazer quando a parte que faltava precisava vir dela e não mais de mim. Porque quando duas pessoas querem alguma coisa, elas fazem acontecer.
— Então isso é um adeus... De novo. — Comprimi os lábios. — Então não ouse aparecer naquela formatura, porque sinceramente, eu espero nunca mais ter que fazer isso, espero nunca mais te ver de novo. — Terminei saindo da sua presença.
Parece que algumas coisas nunca mudariam e me convencer do contrário só deixava isso ainda mais claro.
Depois de ter saído do estabelecimento, não quis tocar no assunto com os meninos que logo que me viram saindo, vieram atrás de mim. Avisei que precisava ficar sozinha e eles concordaram me deixando em paz.
Voltei para casa por fim.
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A Tout de Suíte?
RomancePara a minha querida professora de Francês, por ter me ensinado que a vida não é um conto de fadas. OBS: Leiam essas obras na ordem que quiserem, mas o aconselhável é ler Meraki primeiro. OBS: PLÁGIO É CRIME!