Oito

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— E o que você achou que ela diria, Rebecca? Isso deve tê-la pegado muito de surpresa

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— E o que você achou que ela diria, Rebecca? Isso deve tê-la pegado muito de surpresa.

— Ela só não precisava ter falado daquele jeito comigo, Jun-Seo! É normal ter uma reação assim, mas não precisava exagerar.

Estávamos numa sorveteria onde nos encontramos depois que sai do emprego da minha mãe. Jun-Seo fez questão de pagar e obviamente eu não recusaria, sorvete de graça.

— Talvez seja melhor assim.

— Independente de ser melhor assim ou não, eu me senti muito ofendida. Nunca fiz nada de errado e ainda sim ela não gosta de mim. — Senti meus olhos encherem de lágrimas. — Ela é uma pessoa completamente insensível, Jun-Seo! — Choraminguei.

— O quê você vai fazer agora?

Sua pergunta realmente me fez pensar, eu não era de levar desaforo para casa e com aquela Francesa aguada não seria diferente.

— Já que ela não gosta de mim, vou dar motivos para que sua raiva faça sentido pelo menos.

— É melhor não, Rebecca, você pode se meter em encrenca.

— E desde quando eu ligo? Se ela não gosta de mim, eu preciso dar um bom motivo pra isso.  

Sorri de lado ignorando os sermões de Jun-Seo e pondo a minha cabeça para funcionar. O quê eu poderia fazer para deixá-la tão desconcertada? Me perguntava.
 

[...]

 
Os dias foram passando e as provas chegando. Deixei meu plano de lado por um tempo, só até as atividades para nota terem acabado.

E isso durou cerca de quase um mês.

Nesse meio tempo evitava completamente a minha professora, fazendo com que ela pensasse que eu não estava mais interessada e que tudo isso não passava de um simples capricho da minha parte. Nesse período também confessei para meus outros amigos que gostava de mulher, todos aceitaram a ideia muito bem e até queriam achar uma parceira para mim, mas neguei.

Quando a semana de por meu plano em prática se iniciou, eu finalmente me animei. Hoje era segunda e teríamos aula de Francês daqui alguns minutos.

— Bom dia, turma! Quero informar que estou bem satisfeita com as notas das primeiras avaliações. Todos se saíram muito bem. — Sorriu orgulhosa recebendo até aplausos da sala. — Agora chega, vamos começar a aula, por favor. — E virou em seguida para o quadro.

Comecei então a conversar e dar risada com os meninos do fundão, tirando Jun-Seo que não queria se meter e eu entendia seu lado. Qualquer queixa que tivesse, ele poderia perder a bolsa e até a chance de ingressar na faculdade de arquitetura como tanto almejava fazer.

Já os outros...

— Fala sério, Rebecca, lembra daquele dia no cinema? — Asher questionou entre risos.

— Aquele em que o Xavier estava tão distraído no filme que saímos de fininho e os deixamos para trás?

— Isso! — E rimos. — Você devia ter visto a sua cara, Xavier.

— Vocês são uns cuzões, isso sim. Além de terem me deixado para trás, ainda foram naquela festa que eu insisti pra nós irmos e na hora ninguém aceitou.

— Oh, não fica bravo, docinho... — Noah zombou.— Foi só uma brincadeirinha de nada.

Gargalhamos.

Ouvi a professora Anna pedir para que fizéssemos silêncio, continuei com o assunto e só parei quando os meninos fizeram cara de espanto. Antes que minha risada cessasse, senti a professora me cutucar.

Não uma. Não duas... Mais várias vezes.

— Será que eu vou ter que te tirar da sala? Ei, estou falando com você!

— Ah, não enche o saco! — Segurei seu braço antes que ela voltasse a me cutucar.

Toda a sala agora nos encarava boquiabertos. Seus olhos me miravam com um sentimento indecifrável.

— Vou pedir pela última vez que faça silêncio, ou se não...

— Se não o quê? — Soltei seu braço, esperando ansiosamente por sua resposta.

— Eu vou ser obrigada a chamar seus pais.

— Uau, mas que medo. — Bocejei.

— Faça o favor de se retirar da minha aula.

Balancei a cabeça negativamente. Jun-Seo me lançou um olhar de reprovação.

— Perdoe ela, professora Laquintinie, a Rebecca só estava tirando umas dúvidas... Não era a intenção dela incomodar.

— Defender a sua amiga não fará diferença nenhuma, senhor Han, isso é entre mim e ela.

— Ela está certa, Jun-Seo, você não precisa me defender. — Voltei a bocejar. — Sabe o que acontece, professora Anna?

— Não, não faço a mínima ideia.

— É que sua aula estava tão chata que eu quase dormi, então precisei arrumar alguma coisa que me distraísse. — Sorri.

Anna deu as costas indo até a porta, abrindo e apontando para fora.

— Saía! Se a minha aula está tão ruim assim, ache um lugarzinho para a senhorita dormir. Inclusive a sala da detenção parece ser bem confortável...

— Já que insiste. — Levantei e passei por ela.

Fora da sala senti minhas pernas trêmulas. Me direcionei até o banheiro e apoiei minhas mãos sobre a pia. Pensei que fazendo isso eu não sentiria absolutamente nada, afinal, eu fazia coisas muito piores nos outros colégios mas ver o seu rosto tão decepcionado me quebrou.

Só que meus sentimentos de agora, não me impediriam de continuar.
 

[...]

— Você só pode ter ficado louca, Rebecca!

— Me deixa um pouco em paz, Jun-Seo. — Arrumava minha bolsa.

Passei o restante das aulas e até intervalo na detenção, mas felizmente não precisei ficar depois da aula. Cheguei depois de um bom tempo que os outros haviam ido embora, esperando até que meus amigos fossem, só que era óbvio que Jun-Seo ficaria para me dar um sermão daqueles.

— Te deixar em paz? Rebecca, você precisa parar.

— Acontece que eu mal comecei. — Olhei na direção da porta avistando Emma. Sorrimos uma para a outra como uma forma de se cumprimentar.

— Eu sei que você está chateada, mas não quero correr o risco de te perder. — E finalmente ele conseguiu atrair toda a minha atenção. — Você é o mais próximo que eu tenho de um lar, você e os meninos se tornaram minha família... Não faça nada que vá resultar na sua expulsão. Faça isso pela nossa amizade.

Abaixei a cabeça.

— Ok.

— Rebecca...

— É sério, eu prometo que não vou fazer nada de radical. — Levantei a mão em sinal de juramento, ele concordou meio desconfiado e finalmente me deu liberdade.

Nos despedimos porque ele precisava resolver umas coisas, e por fim eu fui em direção da Emma.

— Sentiu saudades?

— Não tanto quanto você. — Brincou. Passei o braço envolta do seu pescoço e fomos caminhando para fora do colégio.

Chegando lá, encontrei a professora Francesa guardando algumas coisas no porta-malas do seu carro. Fazia alguns dias que seu marido não á buscava. Ela fez uma cara de paisagem como se tivesse se esquecido de algo e foi nesse momento que uma lâmpada se acendeu na minha cabeça.

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