V - Vigília

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Os alojamentos estavam silenciosos como se um fantasma noturno tivesse por ali passado e a todos matado. Não era difícil de acreditar, Grimm pensou, levando em conta oque acontecia..

Begorn e o garoto caminharam no ar frio de Cyen, por ruas bem habitadas e ativas mesmo durante a noite...agora vazias a não ser pelos mortos. Haviam alguns civis que não se esconderam bem, monstros brutalmente esmagados e uns poucos guardiões abatidos. Grimm não mirou os caçadores de monstros por muito tempo.

A escuridão dificultava seu caminhar por entre os becos e vielas. O garoto iria sugerir uma vela, mas Begorn simplesmente abriu a palma da mão e dela uma chama brotou. Grimm ficou em choque.

- Você...você também pode fazer isso? Então...o tempo todo você sabia sobre essa...coisa?- Grimm perguntou, estupefato. Não sabia se sentia raiva ou admiração. De todo modo, não sentiu nem um nem outro, o nervosismo lhe roubou temporariamente as emoções.

- Tive esperança que isso em você pudesse sumir. Que não se manifestasse...e quando ocorreu eu fui tolo o suficiente para tentar não chamar atenção.- Begorn murmurou, calmo como a brisa gelada. - Falhei.-

Grimm tentou abrir a boca, mas se calou. Tropeçou em algo no chão e tentou ir ver oque era, mas o mestre o ergueu com firmeza pelo braço e o pôs para andar novamente. Em ritmo acelerado pelas ruas, topando ainda com um ou outro guardião recém saído vitorioso, chegaram em uma praia que nem Grimm conhecia direito.

Era um cais escondido, banhado por águas cinzentas e com vista razoável da ponte que levava até Arwend por cima do estreito. No topo da ponte ainda ouviam o som de combates, aço e estampidos. Um grito profundo e agudo, de gelar as estranhas, ecoou.

- Os combates na ponte ainda não cessaram. Vamos pegar o atalho.- Begorn puxou um navio pequeno e de baixo calado, uma mera embarcação de pesca.

- Nunca conheci essa parte da ilha.- Grimm comentou, arrepiado por conta dos sons de combate e do frio cortante.

- De tudo que esconderam de você...esse é o menor dos males.- O homem o pôs dentro do barco e então o soltou do cais. Com a ajuda de um remo longo e movimentos nervosos, deslizaram por águas plácidas até chegarem na praia branca. Até agora, o único espaço intocado, os monstros não tinham chegado na ilha da fortaleza.

A proa foi bater nos rochedos escurecidos, saltaram da pequena embarcação e foram pelas dunas brancas e falésias para subir a imensa montanha que reinava por sobre toda Arwend. Arthelas, a montanha, fazia com que sua sombra aumentasse a escuridão. Mas as janelas do castelo tinham luzes.

- Os Anciões vão orientar sobre o curso das decisões que nem eu consigo pensar em como tomar. Me desagrada te colocar a mercê deles, mas não há escolha.- Begorn comentou, fazendo a limpeza da neve sempre que Grimm se aproximava dos degraus.

- Se não confia nos Anciões, por que vai me levar até eles?- Grimm questionou. Pensava que questionar tinha sido o início dos seus problemas com eles, mas parecia que se enganara.

- Porque os Anciões são a autoridade na ilha e mais sábios que eu. E mesmo que não concorde com suas filosofias, eles querem o mesmo que eu e você. E sabem oque exatamente surgiu entre os nossos objetivos.- O mais velho o encarou nos olhos profundamente.

- E o que exatamente surgiu no meio desse objetivo?- Grimm fizera a pergunta errada, como percebeu tarde demais. Não sabia o objetivo suposto, mas sabia quem era o empecilho. Ainda estava fresco na sua memória.

- O retorno de um demônio de poderes com proporções massivas. Como o mundo jamais viu.- Curto e grosso, mas com a voz carregada de ansiedade.

- Esse demônio se conectou comigo.- Grimm contou, a respiração se tornando pequenas nuvens esfumaçadas na sua frente. - Eu vi ele, falei com ele e no final recusei uma proposta dele.-

As Crônicas de Terror e Encanto - 𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora