XI - A Máscara

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Grimm nunca antes tinha ido em um baile. Era um evento no mínimo esquisito, nele as pessoas valsavam elegantes com trajes ricos que nele pinicavam e apertavam. Não era feito para usar gibões, mas sim camisas de malha de ferro.

Incomodava, mas lá estava com Florian, Tybron e a Companhia do Dragão Malhado. Seis meses tinham se passado desde a tragédia de Khann e tivera de ganhar a vida durante esse tempo. Não se orgulhava: extorsões, furtos, assaltos, sequestros, espancamentos e principalmente assassinatos tinham sido ordens diárias.

Fizera da espada a sua única lei. Embora agora a espada estivesse bem presa na bainha e não trajasse armadura, mas sim desagradável seda e cetim. Suas mãos queimavam de impaciência, os olhos flamejavam de raiva, se conteve a um alto custo. A escuridão ocultava seus corpos quase inteiramente, em seu canto afastado de todos os sons da noite, a sala escondida tornava seus planos obscuros ainda mais obscuros.

- Só algumas horas, talvez minutos...- Florian repetia a Grimm, tentando aplacar a ira do menino. Era fácil para ele falar, o luxo lhe caía bem, a capa de seda azul escuro estava cobrindo despreocupadamente o ombro esquerdo.

- Por que você mesmo não faz isso?- Grimm indagou, mal humorado.

- Você é melhor para a tarefa.- O líder respondeu, leve.

Grimm resmungou e ficou analisando cada um dos dançarinos, para isso pôs o corpo para fora da parede falsa. Todos eles usavam máscaras de animais ou de pierrot, valsando juntos em um carrossel de dissimulados, ricos esnobes sob a luz de candelabros. O garoto quis se aproximar, por isso pegou para si uma máscara de pierrot e foi procurar um par.

Convidou uma moça de cabelos loiros bem presos por flores amarelas em uma longa trança. Ela trajava um vestido azul de tirar o fôlego, combinando com os cintilantes olhos da cor de não-me-esqueças por trás da máscara de lobo. Ela tocou a mão de Grimm com sua luva de cetim, aceitando o convite.

- Você é ruim em conduzir.- A mascarada percebeu logo de cara, Grimm riu.

- Me ensina?- Pediu, risonho. Ele pôs a mão na cintura dela e juntos giraram em torno de si, com ela conduzindo com leveza e atenção. Grimm a acompanhava como podia, mas o foco todo era em como aquela mulher deslizava pelo salão.

- Está ficando quase aceitável.- Foi a vez da mascarada rir. Ele se sentiu um pouco mais confortável e se soltou, até que quando deu-se por si estava girando-a no lugar. Na surpresa ela pôs a mão em seu peito.

- Se assustou?- O garoto perguntou, mas percebeu que ela afastara mão talvez por sentir a temperatura do corpo de Grimm. O fogo, tão incômodo quanto útil.

- Quem é você?- Ela perguntou. Ele não soube responder. Procurou Florian com o olhar e percebeu que o líder estava impaciente, soube oque significava e buscou o alvo com um olhar ansioso. O encontrou a passos rápidos através da multidão em direção ao banheiro.

Se afastou da moça sem dizer nada, apenas olhando uma última vez para seus cintilantes olhos azuis. Ela ficou sem muita reação, ainda confusa. Grimm deslizou então pela multidão, enquanto seu alvo ia às cotoveladas procurando sua latrina.

Adentrou no banheiro, a única iluminação era uma candeia sobre uma bancada onde havia uma bacia com água, o tênue brilho fazia reflexo no plácido conteúdo da bacia e lançava sombras no rosto do objetivo da missão. O homem fez suas necessidades e foi lavar-se, percebendo tarde demais o reflexo de seu perseguidor no espelho do banheiro.

Só teve tempo de arfar, antes de Grimm segurá-lo pela nuca e bater com seu rosto contra o espelho, o quebrando em pedaços. Puxou mais uma vez o cabelo e bateu contra a parede agora nua, a máscara também se partiu.

As Crônicas de Terror e Encanto - 𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora