XXII - Minúcias do Destino

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O Khoven era um castelo feito sob encomenda exclusivamente para Derik. Construída pelos anões de Cidade de Ferro, era um palácio suntuoso e com pouca defesa além de muros baixos que delimitavam o espaço da propriedade. Um porto anexo à propriedade tinha uma quantidade razoável de barcos ancorados, apenas esperando para batalhar contra o Mar Interno.

" Parece o tipo de casa que um vampiro teria" Grimm pensou, sentindo um arrepio. O motivo? As águas nevoentas, o pequeno bosque de pinheiros exclusivo para caça, as paredes escuras e as gárgulas nos portões. Passaram por elas na carruagem assim que o par de guardas anânicos abriram os portões de ferro.

Grimm conseguia ver vários anões fazendo a guarda pelo palácio, baixinhos e barbudos indivíduos com armaduras tão pesadas que o garoto pensou que as placas seriam escudos. Mesmo com a segurança reforçada, o palácio ainda parecia esbanjar riqueza. Uma fonte feita de ouro e decorada com estátuas de mulheres nuas jorrava água límpida e estava cercada de pavões de verdade.

- Eu nunca vi um pavão de perto. Uma amiga de infância minha já quis adotar um- Grimm comentou, se lembrando de uma época não há muito tempo.

- Geralmente eu almoço um deles em dias festivos- Derik respondeu, seco. Grimm ergueu as sombracelhas.

A carruagem atravessou aquele caminho pavimentado e bem cercado pelo jardim arborizado e cheio de pavões vivendo sua vida. Pararam de frente para as portas duplas de madeira que davam acesso ao interior do palácio. O garoto se sentiu aliviado ao finalmente deixar aquele espaço apertado e se alongou por uns minutos antes de seguir o mercador.

No interior, o Khoven tinha paredes cobertas por papéis de parede beges e quadros com molduras belamente talhadas. Quadros de mulheres, de reis, de duques e de outros homens desconhecidos. Diversos lances de escadas começavam na parede oposta à porta levavam para o andar de cima, enquanto na esquerda e na direita portas levavam a outros cômodos anexos ao átrio.

- Antes de pensar em jantar, primeiro vamos ao meu escritório. Preciso te mostrar com o que vamos lidar- Derik esticou os braços e servos bem vestidos tiraram seu manto e puseram nele um gibão escarlate.

Os guardas de Derik, os humanos e não os anões, acompanharam o passo de seu mestre e de Grimm pelas escadarias. Elas levavam diretamente até um andar com apenas uma iluminura na parede representando um Kraken engolindo um navio até as profundezas do oceano.

- Essa iluminura foi encomendada quando eu encontrei a Andruug Fastyr- Derik comentou, distraído. - Fui o único sobrevivente por pura sorte. Agarrado em uma tábua partida... pensei que morreria -

Grimm ficou em silêncio. A Andruug Fastyr também era uma feia e conhecida peça do garoto, detestava admitir mas também pensou que morreria naquele dia. Pensou como o ricaço deveria ter sido um felizardo.

Os dois, junto dos guardas, entraram no escritório. Era um aposento octogonal e coberto com um papel de parede da cor verde, perturbada só por uma janela retangular e um quadro de Derik com duas pessoas cujos rostos tinham sido queimadas da pintura. O chão era de tábuas alaranjadas e era ocupado por uma única mesa e duas cadeiras.

- Eu nunca deixo aqueles projetos de homens entrarem. Criaturas barbadas malditas que provavelmente cobiçariam isso... - Derik se sentou cautelosamente em sua cadeira atrás da mesa e indicou a outra para o jovem.

- Então...deixa eu ver se eu entendi, você quer invadir Arwend e pegar a Relíquia? Simples assim?- Grimm o indagou, tentando parecer profissional.

- Eu pretendo enviar uma frota de Messaria para cercar o castelo. Uma força total para pressionar os Guardiões, que são poucos e não tem a quantidade de homens que eu possuo - O ricaço encheu apenas para si uma taça de vinho. - Eles não vão aguentar muita batalha. Com você ao meu lado, vai ser fácil capturar a fortaleza sem grandes perdas e adquirir a Relíquia-

As Crônicas de Terror e Encanto - 𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora