XXV - Caronte

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Arwend era um bastião no meio de dois mares: um de monstros e outro vasto e cinzento. As naus começaram cedo a fazer o seu trabalho logo depois de desfraldarem as bandeiras e logo depois as enrolarem novamente.

Ao raiar do dia as catapultas rangeram e dispararam. As pedras vinham girando no ar com um eixo louco e a ventania gelada pouco conseguia fazer contra elas. Despencaram sobre a montanha com uma potência avassaladora, a fazendo tremer desde suas fundações. Não pareciam conseguir fazer nada até que, não uma pedra, mas um relâmpago solitário acertou em cheio uma sentinela.

As nuvens começaram a cobrir todo a ilha de Arwend em uma espiral, mal conseguiam ver um palmo à frente devido à neblina. Por outro lado, Derik e seus ferais conseguiam. Mais pedras rodopiaram na direção do castelo e só uma única conseguiu chegar. Atravessou uma parte das ameias e caiu no pátio com um forte barulho.

Os relâmpagos e a chuva caiam sem parar, mas pouco depois a chuva se transformava em nevasca. Se aproveitando da confusão gerada pelos projéteis, estes cessaram para dar lugar ao desembarque de ferais na costa. Os seus botes atulhados de soldados chegaram na praia levados por altas ondas que passaram por cima da superfície do litoral congelada. Em formação, os ferais avançaram pelas dunas de areia branca na direção do caminho que subia a montanha.

Desaceleraram pouco a pouco conforme iam avançando até o topo de Arthelas, até que enfim nos portões de Arwend só havia um feral trêmulo e parcialmente congelado diante da guarita. Foi abatido por uma bola de fogo azulado e rolou pelas escadarias rochosas. Quando a chuva cedeu, Grimm viu centenas de ferais congelados e outros tantos recuando para os botes de novo.

- Vencemos a primeira leva - Grimm sacudiu a mão direita para aliviar o brilho azulado dela.

- Primeira? Essa é a décima tentativa - Begorn o corrigiu. Ergueu o machado do ombro e o arrastou pelo chão. - Agora vem a décima primeira -

As monstruosas máquinas que cuspiram rochas voltaram a ranger todas juntas e, como se as mãos dos deuses se revoltassem contra a sua criação, os pedregulhos voaram empurrados por um vento que arrancou os pinheiros mais próximos da praia de suas raízes. Golpearam como punhos as fundações da montanha e se fragmentaram ao atingir as ameias, seus fragmentos rodopiaram pelo ar e esmagaram sentinelas logo ali.

Begorn se elevou acima de um dos merlões e esmagou com um dos projéteis com o machado em riste. Agora mais parecido com um urso do que com um homem, sua altura provavelmente justificava esse aumento de força. Apenas pedacinhos choviam quando o machado pesava contra os alvos em movimento.

As pedras não pararam de vir. Os ventos assoviavam e violentamente puxavam os sentinelas de um lado para o outro, estavam agora vindo de duas direções diferentes e soprando um contra o outro. Isso afetava a trajetória das pedras que agora atingiam aleatoriamente, se desviando do castelo ou fazendo até as torres tremerem.

- O que caralhos...? - Grimm desviou de um pedregulho com dificuldade.

- É o poder de guerra de Derik que agora está contra nós... - Begorn declarou e depois olhou para baixo da muralha. - E era uma distração... -

Os exércitos de ferais voltavam a desafiar a montanha e dessa vez os ventos gelados não davam conta sozinhos. Alguns conseguiam tomar posições nas escarpas e dispuseram de seus arcos. Os guardiões mantiveram a distância de cima das ameias e começaram a também disparar flechas.

Uns chegaram até os portões e levantaram uma parede de escudos, subindo degrau por degrau lentamente. Setas não os afetaram e estavam agora segurando terreno para que um aríete subisse a montanha. Grimm viu aquilo e parou de enfrentar pedregulhos para descer ao solo e enfrentar os monstros no mano a mano, de sua canhota emanavam rajadas de chamas azuis e com a destra brandia Ignis.

As Crônicas de Terror e Encanto - 𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora