Ainda não tinha amanhecido e as praias brancas de Arwend estavam em bastante silêncio. O garoto observava hipnotizado, ainda em choque, o dançar das ondas cinzentas do mar. Tudo ali parecia mais bonito, conforme a ficha caia de que talvez nunca voltasse.- Grimm...o conselho ainda pode desistir de última hora. Talvez seja um blefe, talvez você apenas seja retirado da ordem...- Begorn tentou quebrar a mudez.
- Ah, sim, claro. E eles vão também me entregar o Elo Arsenal, pedir desculpas e apertar a minha mão também, né?!- Grimm retorquiu, o tom alto e carregado de sarcasmo. - Nem você acredita nisso, mestre.-
Begorn ficou o encarando durante um bom tempo o garoto, com uma expressão dolorida. Grimm quase sentiu pena, mas então se recordou que talvez tudo fosse menos doloroso para o próprio garoto se o mestre tivesse sido sincero. Isso aumentou a sua raiva.
- Eu tentei, garoto, isso eu prometo a você.- Foi a resposta dele. De alguma forma, isso apenas fez Grimm explodir de vez.
- NÃO TENTOU O SUFICIENTE, MERDA!- Grimm gritou, sentindo as manchas douradas tomarem conta das mãos e o calor se expandir. - EU QUE TENTEI! CADA DIA DA MINHA VIDA EU TENTEI SER O GUARDIÃO MAIS DEDICADO DESSE LUGAR, TENTEI SER PARTE DISSO AQUI MESMO TUDO ME DIZENDO O CONTRÁRIO. EU FIZ DE TUDO APENAS PRA PERDER TUDO POR CAUSA DE ALGO FORA DO MEU CONTROLE E QUE EU NEM ENTENDO DIREITO OQUE É!-
Grimm não soube onde externalizar todo aquele ódio, mas sua magia talvez lhe deu a resposta. Em cada mão, o calor se tornou uma esfera flutuante de fogo. Uma foi arremessada em Begorn, que com um movimento rápido de mão a dissolveu. A outra, no ódio do momento, foi arremessada contra uma rocha e gerou um pequeno estouro.
- Me perdoe, garoto. Por favor, eu só peço pelo seu perdão.- Begorn tentou se aproximar do aprendiz, mas este se afastou, novamente canalizando mais fogo. Era tão fácil, tão natural, mas ao mesmo tempo tão fora de controle.
- Peça perdão, porque a culpa é sua. Se não tivesse fugido de cada oportunidade de me dizer oque era...isso.- Grimm mostrou a outra esfera de fogo e então a arremessou em outra pedra. - Talvez as coisas teriam sido melhores.-
- Eu tive medo de que não fossem, garoto. É um poder maldito, que as pessoas no mundo odeiam. Um poder quase incontrolável e perigoso para uma criança, eu tive medo ao ver você o despertando tão cedo.- Begorn começou a explicar, para a surpresa de Grimm, o homem se sentou nos rochedos. - Eu pensei que se te incentivasse a usar isso, o poder ficaria forte demais para você. O risco dele te consumir era muito alto, afinal eu nunca me senti apto para isso. Não sou como os meus mestres, hoje mortos em Prometheia.-
- Você também tem esse poder...- Grimm concluiu, assustado, de repente deixando a raiva temporariamente de lado. - E por que você diz que eu não conseguiria controlar? Você controla, eu também poderia.-
- Eu aprendi a controlar isso em uma época onde a magia não era restrita a duas dúzias de arcanos e em que os servos do fogo ainda existiam. Nessa época mestres competentes poderiam torná-lo um exímio portador do fogo, mas esses mestres estão tão mortos quanto a nossa ordem. -
- Os Anciões também me chamaram de servo do fogo.- Grimm se recordou. - Então eles sabiam sobre tudo isso...por que eles também esconderam?-
- Porque eu os pressionei a isso. E isso é também o motivo pelo qual eles não fizeram questão de pensar muito sobre seu banimento, a desculpa da remota possibilidade de você ser controlado por Felagund caiu como uma luva - Begorn cerrou os dentes, agora também tinha raiva. - Você era visto como uma arma em potencial. Resolveram te descartar, quando viram que mesmo crescido você era teimoso, cabeça dura, inconsequente e desafiante demais para seu próprio bem.-
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As Crônicas de Terror e Encanto - 𝐈
Fantasía- Segunda Versão - " As trevas consomem o coração daqueles com covardia demais para encarar sua própria sombra" Em uma ilha onde são criados os maiores caçadores de monstros, o garoto Grimm de apenas quatorze anos vê o o seu mundo inteiro virar...