XX - Canção de Guerra

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Illuvendel era tão linda como uma jóia. Colorida e festiva, sempre com o tocar de harpa de sua Senhora, mesmo longínqua a sua música chegava para que as fadas acompanhassem com seu canto. Os elfos de Illuvendel também tinham ricas vestes cheias de adornos e armas de mais nobre estirpe.
Mas tal qual uma jóia, Illuvendel era fria.

Grimm geralmente escalava os ramos superiores das árvores-torre do palácio e ficava observando a vida se desenrolar. Era como se não houvesse vida ali. Os elfos iam e vinham e não conversavam, apenas tocavam alguma melodia em suas harpas e iam embora.

Seus banquetes eram silenciosos a não ser pelo som da música. Eles comiam e iam embora sem proferir uma só palavra. Sabia que não era uma característica geral dos elfos, pois entre os compatriotas de Gordon e Beatrice haviam brincadeiras e conversas ruidosas. O Lago das Fadas, por outro lado, parecia ser só habitado pelas fadas.

Tentou se animar um pouco ali naquele lugar que já o irritava, no processo se preparando para a guerra que se avizinhava. Ao longe, sentia um cheiro acre e uma energia poderosa e sombria. Treinava com Beatrice todos os dias, assim como treinava com Arabelle anos atrás, o jardim era seu lugar de treino.

- Cuidado com os pés- Beatrice avisava antes de bater com o cabo da lança nos joelhos de Grimm. O garoto grunhia e revidava, sua espada sem gume atingiu a mão da garota.

- Nunca demore muito com a arma se estiver usando a lança. O alcance é a sua força- Grimm retrucou. Pela prepotência, uma simples rasteira quase o derrubou no chão. Desequilibrado, foi fácil receber uma sequência de estocadas por todo o corpo até finalmente ficar ajoelhado.

- E nunca demore muito com a língua se estiver sem alcance- Beatrice retorquiu, por sua vez, se apoiando na lança com um sorriso cínico. - Eu venci-

Grimm cuspiu, meio tomado pela irritação e meio ocupado pelo divertimento. Aceitou a ajuda dela para se reerguer e fez uma careta ao se levantar, as dores vinham acompanhadas de uma queimação.

- Só me deixa me recuperar que eu vou te derrubar no chão de pedra, cachinhos dourados- Grimm provocou, jogando a espada sem gume para o lado e apanhando Ignis para afiar. A espada prateada era seu xodó, gostava de simplesmente parar para admirar o fio reluzir.

- Grimm, eu queria te perguntar um negócio- Beatrice disse, testando o peso da lança e treinando estocadas.

- Vai em frente, sua recompensa por ter me colocado de joelhos- O garoto puxou o pescoço e estalou.

Uma folha das torres do jardim caiu suavemente no chão, ziguezagueando até repousar na grama avermelhada. Mesmo depois da folha cair a brisa continuou rodopiando pelos seus rostos.

- Você tem medo?- Ela perguntou.

- De quê eu teria medo?- Grimm estava confuso, um tanto quanto pego de surpresa.

- Antes eu dizia que você era inconsequente, mas agora eu penso...se sou eu a covarde. Você não tem medo quando simplesmente se joga pra lutar em um precipício? Não tem medo quando se põe entre eu e um lobisomem? Não tem medo em esperar pacientemente para enfrentar um demônio?-

- Você está perguntando se eu tenho medo de morrer, certo?- Grimm mirou a fonte, despreocupado.

- Exatamente-

- Eu tenho sim. Eu tenho sempre o medo de morrer- O garoto nem precisou pensar muito.

- Então por que você continua fazendo tudo isso de peito aberto?-

- Porque é aquilo que me resta- Grimm respondeu prontamente. - Eu sou um exilado que já fez muita coisa errada nessa vida. Eu perdi tudo aquilo que eu tinha e poderia ter, recebi apenas uma dádiva que me condenou a uma jornada de conhecimento e perseguição.-

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