X - Mausoléu

9 1 4
                                    


Talvez o mundo não fosse pequeno. A vida talvez não fosse um fato consumado. Se era tão fácil inventar um pecado, ao ser um servo do fogo e portanto perseguido, seria também fácil se envenenar com o próprio veneno.

A colunata caminhava sem parar pela estrada de terra batida que contornava as bordas das montanhas de basalto chamadas de Ninhos de Goblin. Grimm não via os goblins, mas os escutava toda noite, com seus grunhidos e raspar de armas primitivas nas rochas. Era quase assustador, apenas não vencia os pesadelos constantes com demônios de olhos vermelhos.

Quando passaram por meio de um estreito túnel nesses passos, o anão Tolbrun tomou a frente e os levou até um certo ponto. Quando nem ele conseguiu mais enxergar, sem nem saber o motivo, Armenil tomou a frente e com um movimento sutil do cajado e algumas palavras murmuradas e esquecidas, conjurou uma pequena esfera brilhante de luz, flutuando sobre a ponta do bastão.

- Como conseguiu fazer isso?- Grimm se aventurou a perguntar, impressionado.

- Isso é um feitiço simples...- Armenil sorriu, vendo a empolgação do garoto. - Eu só preciso unir mana na ponta do cajado e usar minha força de vontade para fazer essa mana imitar um elemento já definido pelas palavras que eu proferi, no caso...luz.-

- Todos os feitiços são feitos desse jeito? Ou só esse em específico? E o que é mana?- Tantas perguntas e com uma pessoa que podia lhe dar respostas.

- Calma, rapaz, uma pergunta de cada vez!- Armenil ergueu uma das mãos, enquanto erguia o cajado afastando as trevas. - A mana é a energia que a sua alma libera durante a existência do espírito, basicamente um produto do seu simples ato de viver. Essa energia pode ser moldada por estudiosos ou então usada de forma mais bruta, por vários outros caminhos. A manipulação dessa energia vital chamada mana é conhecida como magia. -

- E você usa essa magia para imitar elementos, certo?-

- Sim, mas não somente. Magos também conseguem manipular a mana fora de seus corpos, como a mana na natureza e em outros seres. Na natureza podemos controlar materias já existentes, como mudar o curso de rios ou mover colinas...-

- Isso parece fantástico.- Grimm não deixou de comentar, pensando nisso. Se ele era tão mágico assim, então tinha potencial para fazer esses prodígios?

Emergiram das cavernas e saíram em um pequeno bosque de sentinelas que se espalhavam pela íngreme encosta de um morro. Descia até o litoral, em uma baía que permitia em outras eras um porto natural e seguro, mas que agora apenas abrigava ruínas e estacas propositalmente fincadas para impedir qualquer navio de pisar ali.

Um pedaço de terra era separado do resto do Continente por um estreito canal provavelmente não natural. Uma ilhota que abrigava um castelo anteriormente belíssimo, suas colunas juntas formavam desenhos incompletos, até mesmo tintura e gravuras podiam ser identificadas na fachada de Khann. Mas era inútil achar ali uma beleza sincera, afinal tudo tinha sido entregue ao fogo, os archotes que queimaram o refúgio élfico tinham destruído iluminuras e tudo que queimasse.

- Nenhum cavaleiro vermelho.- A menina Leslie comentou orgulhosa, Grimm olhou para ela.

- Graças a você. Seu caminho realmente foi bem efetivo.-

- Em partes por causa da minha especialidade em...subtrair coisas dos outros. Mas tive a ajuda de Tybron.- Ela explicou, modesta, se referindo ao carrancudo de túnica vermelha.

- Os cavaleiros vermelhos provavelmente estão escondidos. Vão nos ver assim que nos aproximarmos das ruínas.- Florian deu a palavra, agora tinha subido em uma elevação e mirava toda a planície abaixo. Tinha pouca atenção no bosque próximo, quando Grimm ouviu um farfalhar nas redondezas. Teve uma reação rápida, mas não rápida o suficiente, sacando a espada apenas pouco antes da seta por pouco passar somente perto da cabeça de Florian.

As Crônicas de Terror e Encanto - 𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora