XXVII - Terror

6 1 2
                                    


Ele estava vindo, trazendo fogo, sangue e destruição. Talvez estivessem todos condenados e tudo tivesse sido inútil até ali mas, se havia uma chance de impedir o monstro, a hora era agora.

Emergiu da água com um poderoso arfar desesperado, um náufrago moribundo batendo os braços para se manter boiando. Sua sorte era que sua armadura era mágica, com uma normal nem com seis braços poderia salvar sua vida. Acima de sua cabeça uma noite estrelada tinha se revelado, a névoa partiu.

- Acho que eu venci essa briga... - Murmurou, quando conseguiu identificar que nos altos conveses iluminados bem acima os ferais estavam ainda aturdidos. Destroços da poderosa embarcação de Derik estavam espalhados.

Se agarrou a uma tábua solta e bateu as pernas na direção da praia, as ondas quase destruíram o seu esforço. Quando enfim conseguiu chegar em terra firme e ver a frota de Derik tão longínqua quanto preferia, seus músculos mal respondiam aos seus apelos. Estava cansado mas os ligamentos queimavam, logo isso passaria.

Foi subir a montanha ainda sem estar totalmente recuperado, mancava como um velho e esperava achar algum sentinela. A ilha tremeu quando chegou na base da subida e depois não parou, depois de um esforço frenético para passar dos degraus, não resistiu à tentação de olhar para trás.

Uma nevasca rugia impiedosa contra as naus, o gelo devorava os cascos das embarcações sem a Relíquia do Oceano para anulá-lo. Grimm agora via uma Relíquia em toda a sua majestade, imparável e soberana. A Montanha de Arthelas despejava toda a sua vingança e poder contra a frota do inimigo derrotado, se aproveitando de sua fragilidade.

Os navios que não estavam presos no gelo começaram a levantar âncora e desistir da empreitada. Navegaram para longe, deixando as águas cinzentas para trás e amargando uma aparente derrota inesperada. Grimm ouvia os gritos de júbilo das sentinelas nas muralhas, comemorando sua vitória custosa.

" Mal sabem eles que esse sequer é o pior dos golpes... " Pensou, aturdido, acelerou o seu passo e logo estava diante dos portões do castelo. Não haviam guardas, todos estavam comemorando a queda dos ferais. Sequer bateu na porta do escritório dos Anciões, entrou direto com um empurrão firme.

- Estar expulso do nosso convívio não necessariamente significa que não precisa seguir as regras de uma sociedade civilizada - Fringill comentou, áspero.

Os Anciões pareciam abatidos mas cada um com seu meio sorriso nos lábios, pareciam estar satisfeitos. A esfera gelada estava repousada sobre o tampo da mesa, tendo formado uma fina película de gelo na madeira.

- A batalha não acabou...quer dizer, essa acabou. Outra pior ainda vai vir - Grimm ofegou, seus olhos pesavam.

- O que está dizendo? - Mestre Arthos questionou, se aprumando na poltrona.

- Felagund está vindo para Arwend. Com monstros, armas e com ele próprio. Pretende pegar a Relíquia usando a força e destruir a ilha se for preciso - Grimm coçou o nariz e arqueou uma sombrancelha. - O que foi? Não era pra ter dado a notícia? -

Toda a satisfação tinha se desmanchado, a maior parte dos rostos estava horrorizado. Seus ânimos se abateram como um cordeiro imolado para o sacrifício, Begorn estava com uma expressão de quem poderia esganar o aprendiz naquele momento.

- Você...tem certeza? - Mestre Niklaus perguntou, seu olho esquerdo tremia.

- Isso tem cheiro de ser culpa sua - Mestre Mynor, por outro lado, já partiu para a acusação.

- Ah, claro, eu adoraria ser assassinado por um demônio junto de todos vocês, meus amados mestres - Grimm abriu um sorriso irônico. - Esses monstros são soldados de Felagund emprestados a Derik e, se não ganharam com seu comandante provisório, vão tentar com o seu líder absoluto -

As Crônicas de Terror e Encanto - 𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora