XXIII - Filho do Exílio

12 1 5
                                    


Grimm via o sol nascer, seus olhos brilhavam e um vento com cheiro de fumaça atraia as suas narinas. Sentia um chamado forte, um desejo irrefreável do coração. Em parte mágico e em parte racional, em parte instintivo e em parte aquilo que mais queria.

- O que está fazendo?- Arabelle questionou, estava só fingindo dormir. Grimm suspirou de impaciência, agora seria mais difícil convencê-la.

- Mudando de rota- O rapaz respondeu sem olhá-la. Grimm só conseguia olhar para noroeste, guiado pelo seu espírito.

- Você está louco?!- Arabelle arregalou os olhos, estava furiosa. - Eu preciso estar em Arwend logo. Derik vai atacar as ilhas e provavelmente vai arrasar tudo e eu preciso entregar essa tal Relíquia-

- Não sei se você percebeu, minha cara- Grimm chutou a tampa do baú. Provavelmente a garota estava ocupada demais em não morrer durante a tempestade para perceber isso. - O baú pode ser lindo, mas Derik te passou a perna. Está vazio -

- Aquele filho da puta...aquele filho da puta!- Arabelle pôs a mão na testa e sentou no convés. - Eu tô incrédula. Como?-

- Os guardas te seguraram e ele provavelmente tinha algum anexo secreto no escritório. A Relíquia de verdade...ele usou contra a gente- Grimm puxou as cordas e verificou a bússola, a agulha de cristal confirmava sua rota.

- A Andruug Fastyr...é uma Relíquia?- Arabelle esqueceu o ódio, dando lugar para a surpresa. - Inacreditável...Derik é um monstro de verdade-

- É, um baita de um monstro, uma pena para os guardiões- Grimm tentou desconversar, queria continuar manejando o navio com o esforço de dois. Pelo visto a garota não o ajudaria.

- Você também é um guardião. Foi criado como um - Ela respondeu, decidida.

- Engraçado, geralmente não jogam um guardião em um continente onde coincidentemente ele é perseguido - Grimm foi seco.

- Ainda sim é o lugar onde você foi criado. Vai deixar centenas de pessoas morrerem por mero egoísmo seu?!- Arabelle jogou as mãos para o alto.

- Você tá tentando me chantagear, não vai funcionar- Grimm cerrou os dentes, irritado, suas mãos esquentaram. Chamas brotaram delas e fizeram a amurada que seguravam chiar e enegrecer.

- Pessoas com as quais você conviveu durante sua infância e inocentes. Não quer interferir?- Belle pôs as mãos na cintura. - Você tem poderes mágicos e agora consegue usá-los. Isso é uma diferença enorme para a batalha. Pode ser a diferença entre a derrota e a vitória -

- Esse mesmo poder foi escondido de mim porque Begorn achava que seria uma arma. Eu só descobri o que isso significava às vésperas de ser lançado no mar e sem saber dominar isso - Grimm mostrou as mãos para ela, cobertas de fogo. Ela recuou. - Até você me vê como se eu fosse uma arma para eles -

- Isso não é verdade... - Ela balbuciou, mas o garoto apenas virou as costas e liberou as chamas na direção da água. Por um tempo elas brilharam, chiaram e soltaram vapor. Depois disso tudo ficou quieto, apenas o barulho do vento e das ondas.

Demoraram muito para sair do mar aberto e chegar até onde Grimm efetivamente queriam. Dividindo uma quantidade miserável de suprimentos, navegavam sem dizer uma palavra um para o outro. Noite, dia, noite, dia e noite vieram e foram, o silêncio os destruía.

O garoto avistou seu destino ao pôr do sol mas só chegaram na praia durante a noite. Grimm deixou a embarcação e caminhou pela areia cautelosamente, via as colinas rochosas bem ao longe. Não se preocupou em olhar para descobrir se sua companheira o seguia, apenas andou na direção do interior da ilha.

As Crônicas de Terror e Encanto - 𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora