XVII - Coração Negro

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- .. cinco mil deles atacaram Alvinger. Informantes disseram que não houve resistência depois de dois dias-

- E as muralhas de Alvinger? Não significaram nada?- Gordon perguntou, desgostoso.

- Eles tem trabucos e catapultas. Um arsenal inteiro que carregam sobre rodas. A cada hora disparam, juntos, centenas de pedras- O mensageiro declarou, seco. - Mas se os trabucos não funcionarem, eles escalam muralhas, senhor. Com as mãos nuas-

O clima era de tensão no acampamento aos pés do Coração Negro, a floresta mais extensa do continente. Era também a mais perigosa. Suas faias, de copas altas e troncos escuros projetavam uma escuridão profunda, se olhasse mais para dentro da mata...Grimm veria apenas trevas. E a floresta fazia sons.

Grimm escutava a discussão tensa enquanto sentado do lado de fora da tenda. Beatrice esperava do lado de fora da tenda, estava impaciente. Os dois trocavam olhares como se um tentasse adivinhar o que o outro estivesse pensando e, se fosse isso, Grimm esperava que a garota tivesse tanta habilidade nisso quanto ele.

Gordon saiu da tenda, com o elmo debaixo do braço e a glaive apoiada no ombro. Tinha o sorriso de sempre, apesar dos olhos não o refletirem.

- Vou dar uma batalha para Felagund, meus jovens, uma batalha que ele jamais vai esquecer. Infelizmente não posso te acompanhar até Caer Medos-

- Isso significa...que eu vou sozinho até Caer Medos?- Grimm arregalou os olhos. - Merda, como eu vou achar a merda de um castelo meio da floresta?!-

- Não disse que você vai sozinho, rapaz- Gordon riu e pôs a mão no ombro de Beatrice. - Triss vai conhecer alguns parentes-

Beatrice pareceu ter recebido um tabefe, franziu as sombracelhas e se afastou a passos largos. Gordon murmurou algo como "criança rebelde" e foi falar com a menina. Grimm ficou próximo e escutou.

- Eu não quero ser a babá de um servo do fogo. Eu quero lutar ao seu lado, pai, eu quero mostrar o meu valor. Ir em Medos é tão...- Beatrice implorou, exasperada.

- Tão longe? Você quer ficar no olho do furacão, minha filha, só sabe se sentir forte se estiver onde acredita ser o mais importante-

- Eu quero lutar do seu lado. Quero ser uma guerreira igual ao senhor e para isso eu preciso vencer...lutar em batalhas igual a você. Se for para liderar os elfos eu preciso ser grande-

- Você não se torna grande em batalhas, Triss. Você se torna grande quando você impede as batalhas. Quando as pessoas não precisam morrer, e quando foi você que fez essa mudança, você se torna grande-

- As pessoas ainda morrem. Batalhas ainda precisam ser travadas, então eu ainda preciso lutar nelas. Eu vou precisar lutar nelas quando for rainha-

- Quando você for rainha. Enquanto não é, tente ser maior do que é agora. Você vai para Medos porque Elrion não confiará inicialmente em Grimm, afinal é um humano, é eu tenho certeza que você será bem acolhida. É meio elfo, mas é elfo-

- Poderia enviar qualquer capitão elfo, absolutamente qualquer um-

- Mas não vou. Você será a rainha, como faz tanta questão de lembrar, e por isso sua impressão é mais forte- Gordon lentamente desviou o olhar para onde Grimm estava. - Partam ao amanhecer. A floresta é perigosa de noite-

De manhã atravessaram as chamadas Artérias de Gaia. Um par de sequóias imensas como torres ladeando uma estrada estreita, recentemente pisada. Paredões e mais paredões de faias, abetos, pinheiros e cedros gigantes formavam um mar verde no qual não conseguiam achar nada além de troncos e agulhas de coníferas.

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