XIV - Pico da Insanidade

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𝐏𝐀𝐑𝐓𝐄 𝐈𝐈𝐈: 𝐎 𝐄𝐑𝐄𝐌𝐈𝐓𝐀

Uma sombra entrou pelas janelas de uma hospedaria já abandonada em Messaria. Uma invasão grosseira, mas que sumiu com um só item de valor: um baú coberto de linho branco. Tesouros de uma missão fracassada em um mausoléu de espíritos.

Depois disso, a sombra nunca mais foi vista em Messaria. Alguns se perguntaram se tinha algo a ver com o assassinato do arconte e com a invasão da prefeitura.

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Grimm respirou fundo e esperou, a mão firmemente apegada no cabo da espada. As montanhas brancas de calcário eram difíceis de subir. Se apoiava nas rochas com a mão esquerda e com a destra mantinha seu único refúgio contra a insegurança de ser emboscado naqueles passos na fronteira do mundo selvagem.

Grimm conhecia a região, tinha vagado por ela durante um ano desde que deixara Messaria. Caçara nas florestas próximas, matara criaturas dos bestiários de seu povo e, principalmente, procurara por algum vestígio de Widelford. Se havia alguém que pudesse conhecer a sua sina, era o druida.

- Isso pode estar por aqui...- Grimm murmurou para si mesmo. Era difícil não fazer isso quando passava tanto tempo sozinho no ermo, convivendo com animais e com monstros. Às vezes trocava coisas com outros nômades ou com soldados da Sacra Cavalgada, que não reconheceriam seu maior alvo num adolescente maltrapilho vivendo de coelho e esquilo.

A montanha foi vencida depois de uma escalada íngreme, só precisou depois disso se içar para cima de uma grande rocha e então estava onde queria, próximo ao pico. Em tempos antigos quando os reinos eram jovens e os reis eram os tataravós dos de hoje, tinha sido erguido um templo da Ordem do Fogo ali. Pouco tinha sobrado além de paredes, runas, pilares e estátuas.

Só tinha descoberto da existência desse lugar, no topo de uma das mil outras montanhas da Coluna dos Orques(a cordilheira que flanqueava as Cidades Mercantes no leste), através do depoimento de pessoas da região. Sabia que esse lugar era usado há menos de vinte anos pelos servos do fogo, até o expurgo da ordem pelas tropas do Usurpador.

" É estranho que um homem que eu nem conheça esteja me perseguindo com tanto ódio. Alguém que eu nunca vi o rosto.." Grimm pensou se os mortos ali naquele templo também tinham sido perseguidos assim.

Se ajoelhou perto de uma coluna coberta de desenhos de dragões, encontrando ali as ossadas de dois homens e de uma criança enterrados em poeira e terra. Ficou ali parado e escutou o vento vir do norte, ecoando entre os mortos, o lamento inaudível das almas que já não podiam clamar pela vida. Estava em um local de tragédia.

Grimm se levantou depois de minutos incontáveis e então analisou as estátuas. Partes de guerreiros, dragões e sóis de mármore, jogados ao chão como se fossem sujeira. Espadas partidas, armaduras estilhaçadas, capas rasgadas e corpos decompostos. E o vento era frio.

- Nós pensar que sem saque na montanha...pensar que acabou.- Uma voz rústica e grosseira soou atrás de Grimm. O garoto tentou se levantar e recebeu um cabo pesado de machado no queixo, não viu de onde vinha antes que já estivesse no chão.

Grimm sentiu seu mundo girar. Suas costas bateram pesadas na pedra fria e quando ergueu a cabeça, foi para ver um grupo de seis orques na sua frente. Eram de pele cinzenta ou verde escurecido, rostos inchados e olhos profundos de um preto ainda mais profundo. Seus dentes pareciam ter sido lixados e quebrados até que todos se parecessem com caninos de um amarelado encardido.

- Ouro...ouro...- Os orques grunhiam como se fossem porcos, rodeando Grimm e pisando nos crânios e ossos largados. Espalharam as cinzas e depois se aproximaram do garoto.

As Crônicas de Terror e Encanto - 𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora