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Era bem cedo, entre as cinco e cinco e meia da manhã. Louis havia saído de casa a pouco tempo. Era o único entre seus amigos que vivia sozinho.

Sua mãe havia morrido durante o parto, ele foi o primeiro e único filho.

Apesar de não ser a melhor pessoa do mundo e estar aliado a facções, o pai de Louis deu conta de cuidar do garoto do modo como conseguia.

Louis também o perdeu, aos dez anos, depois de um confronto com a policial dentro do morro.

Apesar de ser relativamente só desde os dez, ele ainda pode contar com um anjo em sua vida, que o cuidou desde o momento em que se tornou um orfão.

Helena era uma boa senhora, que morava a duas ruelas da sua. A mulher o vigiava e cuidava desde pequeno, não o deixava passar fome quando era criança e o cuidava nos dias de confronto.

Ela o empurrava para escola todos os dias, até onde desse. É claro que Louis largou os estudos durante o ensino médio, para trilhar o mesmo caminho do pai e entrar no crime.

Ao menos ele sabia ler o suficiente e fazer umas contas básicas, quando não precisava apelar para calculadora.

Helena desaprovou complementarmente, após ter perdido seu único filho em briga de milícia, ela abominava a prática.

No começo foi muito difícil aceitar, mas Louis era como um filho para ela, Helena o amava e nunca deixou de cuidá-lo.

Felizmente ela viu que seu pequeno afilhado que corria pelas ruelas do morro, descalço e sujo de barro, não havia perdido a humildade e nem sua simplicidade ao mudar de rumos.

Ela continuava não aprovando, mas cuidava dele do mesmo modo, embora fosse de idade e tivesse seus sessenta e um anos quase.

Independentemente de ser quase só, Louis ainda podia contar com Helena. Ele a visitava todos os dias praticamente, nem que fosse para trocar um abraço ou um "bom dia".

Parou em frente a pequena casa, com portão e um muro baixo. Ele bateu palma, só assim sua madrinha o ouviria. Tinha uma cópia da chave em casa, mas sempre a esquecia.

Vez ou outra ocorria de pessoas desconhecidas irem nas redondezas do morro e assaltarem os moradores, o que era um erro, pois raramente mexiam com pessoas de dentro da comunidade.

Mas Helena sempre foi muito livre nesse lugar, pois sabiam que a senhora era como a família para Louis.

Ele sorriu de canto ao ver a senhora de cabelos escuros, com alguns fios brancos, andando em sua direção. Ela era uma mulher incrível, mas um tanto cansada, por viver só.

— Bom dia, madrinha — foi a primeira coisa que Louis disse, apoiando as mãos no portão.

Helena abriu rapidamente, também havia um sorriso cansado em seus lábios:

— Bom dia, filho — a senhora baixinha lhe abraçou.

— Tudo bem? Eu vim saber se a senhora tá bem, acabei nem passando aqui ontem — ele disse, logo depois de deixar um beijo na testa da mesma.

— Tô levando a vida, mas tudo na paz de Deus — ela sorriu — já tomou café, filho?

— Ainda não, sai corrido de casa — suspirou — mas eu me viro, passo na feira e compro um pastel.

— Pastel, menino? Você tem é que comer direito. Vem, você vai tomar café aqui — ela o puxou pelo braço.

Não importava que Louis tivesse vinte seis anos, para Helena ele ainda era o mesmo garotinho teimoso e cheio de energia.

COMPLEXO 18Onde histórias criam vida. Descubra agora