O universo de nós dois - Amanda (DocShoes)

Dona Lourdes

Quando Amanda olhou no prontuário, lá estava ela Dona Lourdes havia quebrado o braço. Ela sorriu com o irônico fato da senhorinha simpática se chamar exatamente Dona Lourdes.

- Obrigada minha filha. - Dona Lourdes agradeceu segurando a mão de Amanda que sorriu. - Você é um anjo.

- Imagina, dona Lourdes. Estou aqui exatamente para isso. - Amanda disse sendo interrompida pela entrada de um senhorzinho com a expressão preocupada.

O marido de Dona Lourdes, senhor Manoel. O homem estava preocupado, mas Amanda o acalmou e informou sobre a necessidade de Dona Lourdes de dormir aquela noite no hospital.

Então, Manoel saiu para comer enquanto Amanda ajudava as enfermeiras a organizarem as camas da enfermaria. Amanda já havia avisado ao hospital sobre a necessidade de mais espaço para o SUS. E ela continuaria tentando. Nenhum paciente dela ficaria desconfortável.

- Seu marido ficou preocupado Dona Lourdes. - Amanda disse sorrindo sabendo que ela já estava bem.

- Ah, menina, estamos juntos há quarenta anos. - Dona Lourdes disse e Amanda percebeu que os olhos dela brilharam.

Amanda sabia que aquilo era amor puro e simples. O olhos de Manoel brilharam ao poder ficar perto de Dona Lourdes e saber que ela estava bem.

- E você? Tem um namorado menina. Claro que tem. É tão bonita. - Dona Lourdes perguntou com carinho enquanto abria a gelatina de morango.

- Eu não, dona Lourdes. - Amanda respondeu ajeitando o travesseiro de outro paciente ao lado. - Não tenho muito espaço agora para isso.

Lourdes encarou a jovem com un sorriso sábio nos lábios. O tempo nos ensina muitas coisas. Mas, acima de tudo, nos ensina como o amor é importante.

- Você encontrará um amor, menina. - A senhora disse tranquila. - O tipo de amor que faz todo resto poder esperar e você apenas o vive intensamente.

Amanda encarou a senhora. Não conseguia mentir para os seus pacientes.

- Eu já encontrei e perdi. - Amanda disse séria. Perder, deixar, desistir. Eram todos verbos que a atormentava todos os dias.

- Se encontrou uma vez pode reencontrar novamente. - Dona Lourdes disse antes de se deitar para dormir.

Amanda saiu da enfermaria com milhões de pensamentos. Como o melhor ano da vida dela havia acabado de forma tão abrupta? Como ela podia ter deixado a coisa mais especial que ela encontrou? Como tudo isso aconteceu? Era a insegurança? Foi o medo de perder toda aquela felicidade? De simplesmente ele perceber que não era ela?

A cabeça dela girava e girava de todas as lembranças.

O primeiro beijo deles foi na festa do líder dela que foi na semana do aniversário dela. Como eles haviam planejado. Enquanto tocava Sonhos do atitude 67, ela o viu a encarando. Isso já estava acontecendo com frequência. Os abraços mais longos, as declarações mais frequentes, ela tinha medo de perder a ligação instantânea que ela teve com ele se avançasse para além da amizade.

Mas tudo estava ficando intenso demais. Enquanto ele a encarava dançar, ela sorriu para ele e ele se levantou. Amanda se lembrava da sensação de borboletas no estômago, ela era ela mesma ao lado dele, ela era espontânea, engraçada, amiga. Ela dançava de forma desajeitada segundo ela mesma, ela era apenas ela ao lado dele. Ela só queria ser ela mesma ao lado dele. Talvez isso fosse o maior indício de que era para ser.

Antônio se aproximou abrindo um sorriso imenso e esticou a mão para dançarem juntos. Como se não houvesse ninguém mais ali enquanto eram observados com atenção por Larissa, Fred e Aline que torciam por eles.

Era como se eles tivessem um universo apenas para os dois. Como se eles estivem conectados entre eles e nada mais importava. Antônio respirava fundo enquanto ela cantava para ele até que ele a abraçou pela cintura e encarou os olhos dela e foi como ela tivesse o enxergado pela primeira vez.

- O que você está fazendo sapatinho? - ela perguntou entrelaçando os dedos na mão dele que a agarrava pela cintura.

- Eu estou te vendo. - Foi o que ele conseguiu dizer.

Amanda respirou profundamente olhando para os cílios dele e para a testa úmida do suor. Ela não queria acreditar que ele estava nervoso. Por que ela estaria nervoso por ela?

- É, como eu estou parecendo? - Amanda disse sorrindo sem graça.

Antônio não conseguia mais segurar. Ele havia tentado não estragar aquela amizade. Ela era tão importante para ele que valia a pena não ter o que desejava apenas para tê-la ali para sempre. A pergunta que rondava a sua cabeça era sempre a mesma "E se eu tentar e eu estragar a nossa amizade?" Mas o corpo estava falando a todo momento que aquela amizade ia além, muito além do que ele havia imaginado.

- Amandinha, eu queria...- Antônio começou a dizer quando ela entrelaçou os dedos na nuca dele, entrelaçando os cabelos e brincando com as pontinhas dos dedos. Os olhos dele se fecharam e o arrepio subiu pela espinha.

- Eu também quero. - Amanda havia tentado. Mas ela o queria tanto. Os dois se encararam como se algo tivesse mudado e Antônio colou os lábios nos dela e pareceu que era o primeiro beijo. O beijo mais especial da vida de ambos. Como se a vida houvesse começado naquele momento.

E para ela havia começado.

- Amanda? - Arthur disse olhando para ela que estava sentada em uma sala de espera sozinha. Quando ela o encarou ele sorriu. - Tudo bem?

Arthur era a estrela do hospital. O médico mais famoso e cobiçado pelos pacientes da área particular.

- Tudo bem, eu só estava pensando. - Amanda disse se levantando sem fazer questão de ajeitar o jaleco ou o cabelo.

- Noite difícil? - Arthur perguntou com olhos sinceros. - Quer tomar um café?

Amanda nunca aceitou tomar um café com ele enquanto todos os outros médicos e residentes faziam questão da companhia do jovem prodigioso diagnóstico. Ela não o achava chato, ela só sentia que eles eram de mundos diferentes. Enquanto ela ralou muito pelo diploma, ele nasceu herdeiro de um hospital famoso de São Paulo e declinou a família para ser a estrela meritocrática do Sírio.

- Eu vou para casa. - Ela disse olhando para frente.

- Certo, bom descanso. - Arthur disse acenando, mas ela sequer viu, pois já tinha andado.

- Essa menina é especial. - Disse Maria uma das enfermeiras principais da equipe de Arthur.

- É, ela é. - Arthur completou voltando só trabalho.

Amanda chegou em casa e pegou seu celular. Encarou o contato e sorriu.

Na tela do telefone o código de Los Angeles e o nome com todos os emojis que tanto significavam para eles dois. Ele salvou o nome dele e os emojis sorrindo alto enquanto a segurava pela cintura sem querer soltar.

- Eu nunca mais vou te soltar – A voz dele ressoava nas lembranças dela.

- Eu nunca mais vou te deixar me soltar. – ela respondeu e quando viu o contato riu o beijando o intensamente mais uma vez. 

Dona Lourdes 🏡❤️‍🩹🪴🐴🥗☕🥊🥋👞💼

Ela queria ligar, queria ouvir a voz dele, que pegar um avião e deitar no peito dele vendo o sorriso dele enquanto ele iria mexer no cabelo dela. E eles ficariam horas dessa forma, sendo apenas eles. Ela nunca mais se encontrou depois que o perdeu.

Ela queria ligar, ela queria muito ficar naquele dia.

Mas ela era covarde.

Covarde

A palavra ressoava.

(Chagas e apresentação de Arthur ❤️‍🩹)