Abra a porta

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Amanda saiu do hospital após a conversa com Arthur abalada. Ele tinha razão, claro que tinha. Eles precisavam viver até a última gota, sem prejudicar ninguém, sem ofender ninguém, mas viver. Sempre viver e ela tinha aberto mão de viver.

Ela achou que estaria vivendo a vida só dela após deixá-lo, ela achou que estava se colocando como prioridade, mas, na realidade, talvez estivesse fugindo por medo de não se encaixar naquele mundo que pertenceu a ele durante tanto tempo.

Antônio já sabia como era aquele mundo, ele já o conhecia, mas Amanda não, ela foi inserida naquele universo em que ele se encaixava tão bem. E se assustou. Ela entrou no carro e deu a partida e sua cabeça girava.

Ela se lembrou exatamente do dia em que tudo acabou, ela se lembrou dos olhos dele marejados de angústia e dor. Ela se lembrou da covardia dela e dele verbalizando o quanto era covarde fugir de um amor assim.

Um amor em que as almas se encontram. Um amor onde se perde e se encontra na mesma proporção. Um amor em que o mundo inteiro para só para você acariciar a mão do outro.

Ela fugiu, ela fugiu da melhor coisa que aconteceu na vida dela. Ela fugiu do sorriso sincero e da risada marcante. Ela fugiu do aconchego do abraço e das palavras ditas exatamente quando deveriam ser ditas.

Ela fugiu do desejo constante, do amor passional, do amor corajoso que defende e ama  acima de tudo.

Enquanto dirigia ela se lembrava de tudo que viveu ao lado dele desde do momento em que o conheceu. Todas as palavras de afeto, todas as juras de amor.

Os olhos choravam por tudo que ela tinha deixado de viver naquele ano. Ano que ela passou longe dele e tentou esquecer o quanto ele existia permanentemente dentro dela.

Antônio estava assistindo filme. Ele havia de acostumado a rotina tranquila de São Paulo. Eventos e casa. Ele evitava pensar na ausência dela por mais que ela estivesse perto. Ele queria que ela decidisse. Ele não podia ser deixado novamente, não conseguia mais lidar com isso.

Quando o porteiro anunciou a chegada, ele se recusou a acreditar. Não parecia ser real, mas quando abriu a porta lá estava ela. Ela estava de branco e com o rosto de quem havia chorado pelo caminho.

Amanda o encarou, ele estava de shorts e camiseta, com os cabelos despenteados.  Ele a encarava confuso, mas com ternura. Ele segurou a mochila que estava nas mãos dela.

- Eu tive um plantão ruim. – Ela disse segurando o choro. Antônio apenas a abraçou sem dizer mais nada.

E eles ficaram ali abraçados enquanto ela chorava não apenas pelo plantão, mas por tudo que havia acontecido até ali.

- Tudo bem, você vai ficar bem. – Foi o que Antônio conseguiu dizer enquanto a segurava em seus braços.

Ele sabia que para ela chorar era algo significativo demais. Ela raramente chorava e quando chorava havia mil motivos embutidos.

Após entrar no apartamento, Antônio serviu um chá de camomila para Amanda que estava sentada no sofá completamente imóvel. Após tomar seu chá, Amanda encarou Antônio. Ela poderia ir para casa ou ela poderia finalmente encarar que as duas decisões não fizeram da vida dela o que ela esperava.

- Eu errei. – Amanda disse enquanto encarava ele de pé. Ele estava encostado no balcão da pia. – Eu jamais devia ter ido embora.

- Está tudo bem, Amandinha. – Antônio tentou tirar o peso que ela estava sentindo.

- Não, não está. – Amanda disse segurando as lágrimas. – Você tinha razão. É covarde demais deixar um amor assim.

Antônio se lembrava de dizer isso. Que era covarde não viver esse amor. Mas se arrependia, ele jamais quis machucá-la.

- Eu nunca quis te ofender com as palavras, Amanda. – Antônio disse sério com o coração partido.

Ele era inacreditável pensou Amanda. Ele se culpa por algo. Ele jamais deveria se culpar.

- Eu deveria ter percebido que você não estava bem. – Ele disse sério. – Você deu sinais e eu sempre estava ocupado com o trabalho. Eu errei também.

Amanda o encarou perplexa.

- Eu podia ter falado com você. O que nos diferenciou sempre foi o diálogo. Nós sempre conversamos. Mas eu não achei justo trazer os meus problemas para você.

Antônio sorriu. Ela jamais entenderia, mas ele sim. Desde da primeira vez que a viu.

- Seus problemas são meus. Tudo que tem a ver com você também me afeta.

- Eu nunca deveria deixar você. – Amanda disse entre as lágrimas olhando para ele enquanto ele caminhava e ficava de joelhos com o rosto dela entre as mãos dele.

- Então, não deixe. – Foi o que ele disse antes de fechar os olhos e beijá-la primeiro de forma calma como se reencontrasse o caminho da vida. E depois a pegando no colo a levou para o quarto enquanto ela encostava a cabeça no peito dele e suspirava de alívio.

Depois de um ano inteiro, ela finalmente respirou.

O universo de nós dois - Amanda (DocShoes) Onde histórias criam vida. Descubra agora