XXXXII

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Narrado em terceira pessoa com o principal ponto de vista do Kazutora

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23 de Maio 2005

11:45 da Manhã, Reformatório Juvenil de Tokyo

"— Vai pro inferno!! – A voz estridente gritou, num misto de medo, desespero e fúria. Não demorou para o pequeno garotinho reconhecer como sendo a voz de sua mãe, ou melhor, como a mulher gostava que ele a chamasse de Hiraki-san.

Ele não entendia ao certo porque deveria a chamar assim, todas as crianças que vira chamavam as devidas mães de "mãe" ou "mamãe". Não pelo primeiro nome delas, apesar que ele sabia que isso era até que um privilegio quando se tratava da mais velha, afinal era um pouco óbvio o descontentamento estampado na cara da mãe sempre que dirigia o olhar ao filho.

CRASH

O alto barulho de um vidro – provavelmente um jarro de flores muito caro – se espatifando no chão foi ouvido.

O garoto se encolheu ainda mais no armário que se escondia, o corpo frágil tremendo, lágrimas grossas e silenciosas se formando no canto dos olhos, como uma criança de 2 anos e pouco meses, o pequeno já deveria estar chorando em plenos pulmões, mas ao invés disse ele tentava ao máximo tampar os seus soluços com as duas mãos sobre a boca, elas também cobriam parcialmente o nariz, dificultando que respirasse. O frágil garoto sabia muito bem que seria pior se os seus pais o ouvissem. Seria pior porque eles o odiavam mais do que odiavam estar juntos.

— Sua Vadia! Como você ousa-

Antes do homem terminar a fala, o alto som da grande porta de madeira da sala foi ouvido, o som era tão estridente que o garoto também teve que tampar as orelhas, tentou ao máximo controlar os poucos barulhos que saiam do seu choro, instintivamente ele se arrastou de costas para o fundo armário. Ele estava com medo, muito medo, não queria ter que apanhar e não aguentava mais eles brigando, só queria que aquilo parasse. "Será que todas as famílias são assim dentro de casa?" Perguntou-se internamente, não sabendo o que queria como resposta. Se fosse "Sim", então o melhor era não ter uma, ficar sozinho deve ser melhor do que aquilo... mas caso a resposta fosse "Não", então, porque a sua era assim? Não era justo, ele não queria passar por isso.

Sua mente estava tão agitada que, por um misero segundo ele se esqueceu de se controlar, como consequência um soluço escapou. Seu corpo travou na hora, tudo parecia estar em câmera lenta, menos o seu coração, esse batia freneticamente dentro do seu peito, tão forte que o machucava. Observou num fluxo lento a luz do cômodo em que estava escondido ser acesa, logo depois a silhueta de uma pessoa se aproximando do armário e depois a porta sendo aberta. A imagem de sua mãe logo se revelando a sua frente. O armário ainda estava escuro, e a luz do cômodo não era lá das melhores, a coisa mais reconhecível era a sombra do rosto meio obscurecido, mas ainda visível da mulher.

— Kazutora? – A mãe suavemente chamou. Ele não respondeu, ainda com muito medo, depois de alguns segundos sem obter respostas a mulher voltou a falar novamente, dessa vez ela se abaixou e colocou uma parte do corpo para dentro do armário, se aproximando do garoto — Kazutora, está tudo bem. – Ela estendeu a mão em sua direção e ele se preparou para o que viria a seguir, fechou os olhos com força, vendo algumas pintinhas colorida na visão escura.

No entanto o que ele esperava não veio, ao invés disso a mão tinha pousado em sua cabeça e agora fazia um carinho gentil e amoroso. Reunindo um pouco de coragem abriu os olhos novamente, encarando a figura da mulher, com hesitação ele também esticou a mão, tocou o rosto com as mãos tremulas, assim que a palma encostou completamente na face da mulher e remexeu um pouco, ele pode sentir o canto da boca da mesma se esticar e a mulher posar a cabeça levemente na sua mão. O pequeno sentiu que poderia finalmente chorar com toda potência, ele então se impulsionou pra cima da mais velha, que o recebeu de braços abertos.

Outra Rota - Mitake/Takemikey ( não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora