XIX - Família Perdida

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A ignorância as vezes era uma bênção. E ignorância era o que faltava a Takemichi naquela momento.

Como se o estresse e os sentimentos conflituosos em si já não bastassem, agora ele tinha que lidar com o fato de ter algum tipo de família. Esse era o seu desejo mais profundo, um desejo que ele dizia pra si mesmo que tinha esquecido. Mais uma das mentiras que contava pra si.

O desejo de querer alguém o esperando em casa ainda habitava nos lugares mais fundos de sua mente, onde ele jogava tudo que achava desnecessário. Talvez lá no fundo essa informação foi reconfortante, no entanto, uma voizinha falava mais alto.

"Eles te deixaram sozinho, e ela nem mesmo se apresentou quando te viu no hospital, ela não queria nada a ver com você. Se concentre no que é importante." — Concordou com a voz.

Não deveria gastar seu tempo refletindo em desejos do passado, quando vidas estavam em jogo. Quando sua vingança estava em jogo.

Essa era a única razão pra ele estar indo as pressas ao hospital. Seu coração não estava batendo forte. Seu corpo não tremia. Seu estômago não estava revirando em desconforto. Seus olhos não ardiam. E sua respiração não pesava... E é claro.

Nenhuma dessas afirmações eram verdadeiras.

O loiro parou na frente do hospital, respiração descompassada, levemente alterado. Olhou seu reflexo. Não parecia demonstrar nada do que sentia, não sabia se isso era bom ou não, sua falta de emoção para o exterior era uma das consequências de suas vivencias infernais, mas tinha que admitir que eram úteis em momentos como este. Suspira. Leva a mão ao cabelo e o bagunça ainda mais. Uma mania sua que nunca conseguiu deixar, não importa o quão irritante ela podia ser.

Takemichi decidiu que ficar plantado na porta do hospital não resolveria nada, ficar se remoendo também não.

Enquanto andava pelos corredores iluminados artificialmente ele repassava o paço a paço do seu plano com Naoto. Era um plano simples. Ele deveria se aproximar tanto da médica quanto do garoto, enquanto fortalecia os laços familiares ele tinha que atrasar a saída o mais velho do reformatório, isso daria um tempo para ele poder pensar melhor em como minimizar aquele caos. E se por acaso conseguisse fazer seus laços de irmandade serem fortes o suficientes para impedir o outro de matar Baji, estaria com sorte.

Ele teria mais sorte ainda se encontrasse Kisaki antes de toda aquela merda, matá-lo iria dar menos trabalho e mais satisfação.

O loiro desacelera os passos à medida que se aproximava do consultório da médica, ao chegar em frente à porta ele se deixa divagar mais um pouco. Ao abrir aquela porta teria que afugentar qualquer sentimento desnecessário, deveria se manter no controle e não dar brechas pra dramas familiares ou qualquer coisa do tipo. Ele não podia fugir, era uma pessoa diferente, ou pelo menos... Acreditava que era.

Ele coloca as mãos na maçaneta e abre a porta. Fechando seus olhos involuntariamente.

— Hanagaki-kun? – Ouve a voz da mulher, abre os olhos e a vê sentada em sua mesa, a loira se levanta deixando os papeis que lia de lado – Pensei que não iria vir, visto que a nossa última conversa não foi das melhores – Ela falava enquanto andava até ele. – Está pronto pra conversar? – A pergunta sai cautelosa, como se qualquer coisa errada que dissesse pudesse assustar o jovem. Ela não estava errada.

— Eu vim pra isso. – Se afasta da mais velha e senta numa maca que ficava no canto do consultório.

A mulher olha a cena num misto de curiosidade e preocupação, ela tinha impressão de que eles não estavam falando da mesma coisa.

Um longo e desconfortável silêncio se passa.

— Não vai sentar? – Takemichi aponta para a poltrona em sua frente.

Outra Rota - Mitake/Takemikey ( não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora