— Minha vida é uma desgraça.
O barman riu, provavelmente pensando que eu já estava bêbada demais.
— Não, sério mesmo, nada dá certo pra mim. — Eu insisti.
Como ele pode se divertir enquanto eu me lamento sobre os infortúnios da minha existência deprimente?
— Calma lá, Sra. Minha-vida-não-presta. — Ele disse, usando a coqueteleira para preparar o drink de alguma outra cliente menos chata que eu. — Você tem as chaves de um carrão, suas roupas são de marca, parece ter boa saúde e é bonita o suficiente pra fazer seis mulheres te abordarem desde que chegou. Não parece que você é uma sofredora.
Eu virei o resto da bebida em meu copo, sentindo meus movimentos mais lentos por causa de todo o álcool que já tinha ingerido.
— O carrão é da minha mãe, as roupas de marca estão molhadas por causa da chuva, e tá, minha saúde é boa mesmo, mas não use o fato de eu ter sido abordada por seis mulheres como algo bom, porque é sério, eu sou heterossexual.
— E é por isso que você está num bar lésbico. Faz sentido. — Ele provocou, se afastando para servir o coquetel.
Quando voltou, eu expliquei, ansiosa: — Eu não sabia que era um bar lésbico. Só entrei no primeiro que vi e aconteceu de ser esse. Mas eu gosto de homem, só de homem, eu amo homem.
— Ok, hétero, eu já entendi. Você gosta de homem. Parabéns.
— Mas afinal, o que você está fazendo em um bar lésbico? — Perguntei curiosa — Não parece ser um ambiente onde um homem trabalharia comumente.
— Dinheiro. Eles precisavam de um bartender e eu precisava de um emprego. Aqui estou eu. — O barman respondeu de forma simplista.
Eu deixei minha postura relaxar sem muita elegância, e o bartender me serviu uma dose de sei-lá-o-que.
— Mas você parece meio idiota, — Ele recomeçou, sorrindo de forma debochada — olhe ao redor. Não existem muitos homens por aqui.
— Qual é, Calvin! — Eu bati o copo no balcão, fazendo um pouco de bebida respingar no mesmo. — Eu estou aqui porque acabei de pegar meu namorado com outra mulher, a última coisa que eu quero agora é arranjar homem. Eu só quero beber, porque bebida não trai!
— Isso aí, gostosa! — A mulher sentada no banco ao lado do meu bradou, e eu apenas a olhei com preguiça antes de voltar a olhar o bartender.
— Calvin? — Ele perguntou, levantando as sobrancelhas como se estivesse incomodado com o apelido que tomei a liberdade de usar.
— Quando você se abaixou, eu vi sua cueca. É Calvin Klein. E eu preciso te chamar de algum jeito, então vai ser assim, Calvin.
— Perguntar meu nome não passou por sua cabeça?
Eu respirei fundo e ergui os ombros com algum desleixo quando estiquei minha mão. — Eu sou Soraya. Como você se chama?
— Eu não digo meu nome a clientes chatas, Soraya. — Ele rebateu, ignorando minha mão estendida, e eu suspirei sabendo que me encaixo nessa categoria.
Mas antes que eu pudesse reclamar, outra coisa me chamou a atenção. Um grupo reunido nos sofás do outro lado do bar começou a fazer muito barulho, entre gritos e risadas, e, curiosa, eu olhei para elas tentando descobrir o motivo do alarde. Entretanto, não havia nada de incomum acontecendo por lá.
Quer dizer, nada de incomum para o que eu imagino que seja normal num bar lésbico. Das seis, quatro estavam sentadas nos sofás agrupados, e duas estavam de pé. A maior delas encostada na parede, a menor em sua frente e seus corpos estavam tão próximos que pareciam estar prestes a se fundir, como se estivessem se comendo por cima das roupas. O estranho na cena é que a mulher que estava encostada na parede tinha seu pescoço sendo devorado pela que estava em sua frente, e suas mãos estavam segurando a mesma, mas ela estava olhando para mim.
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AFRODITE
Fanfiction[Concluída] Soraya aprendeu duas coisas importantes: em primeiro lugar, seu ex-namorado é o pior homem da face da terra. Em segundo lugar, ela foi avisada para manter distância de Simone Tebet, a autoproclamada deusa do sexo e dos corações partidos...