09 | a gota d'água

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Eu acho que posso dizer que, felizmente, já assisti Meninas Malvadas tantas vezes que sei todas as falas de cor, assim pude entender cada cena do filme mesmo com a quantidade assustadora de vezes em que fui parar no mundo da lua enquanto o assistia.

Ao meu lado, Simone pareceu tão distraída quanto eu, e sei disso porque olhei para ela a cada minuto, mesmo sem querer.

O clima entre nós duas ficou desconfortável, não tenho como negar. A sinceridade causa isso, as vezes, e acho que é esse o caso agora. Eu fui sincera ao dizer que não posso envolver sentimentos nisso tudo e Simone parece ter sido sincera ao aceitar, entretanto, agora que temos as regras estabelecidas, parece ainda mais estranho.

Sem compromisso, sem exclusividade e sem sentimento.

Eu sei que estabelecer algo como isso pode ser a fórmula para um perfeito desastre, mas não creio que eu e Simone vamos nos deparar com qualquer fim trágico.

Toda essa coisa entre nós duas deve acabar tão rápido quanto começou, é nisso que acredito.

— Eu já vou indo. — Anunciei quando o filme acabou e os créditos foram acompanhados por nosso silêncio quase mórbido.

Simone só balançou a cabeça numa concordância, lentamente ficando de pé e sorrindo sem muito jeito para mim quando também me levantei.

— Obrigada por ter ficado mais um pouco. — Ela disse, parecendo sincera.

Eu só acenei sem muito jeito. Seria muito nojento da minha parte ir embora logo depois de gozar, então me sinto aliviada por ter ficado mesmo com o pânico que senti.

— Então, hm... tchau, So. Vá com cuidado.

Eu assenti mais uma vez, parando a um passo de sair do apartamento quando ela abriu a porta para mim. Um pouco incerta sobre o que estou fazendo, então, eu cocei minha testa antes de virar para ela e puxá-la para um beijo rápido de despedida.

Acredito que não existe problema em fazer isso, já que não envolve qualquer sentimento. É só um beijo.

— Tchau, Tebet. — Eu disse ao soltá-la, percebendo seu olhar ansioso sobre mim e percebendo também a forma como isso me deixa nervosa. — Boa noite.

— Boa noite, Soraya...

Dessa vez, eu finalmente fui embora. Deixei-a para trás e dirigi para casa, com a cabeça confusa, bombardeada pelas novas sensações que descobri com Simone e pela certeza cada vez maior de que seu corpo feminino me proporciona tanto prazer quanto o masculino.

Meu deus... eu sou mesmo bissexual?

Sufocada por tudo isso, eu mal consegui dormir quando me deitei nessa noite. Na manhã seguinte, logo cedo, eu soube que ficar em casa presa ao ócio não teria grande participação positiva na cura da minha mente, por isso decidi retomar o hábito que deixei morrer desde que descobri a traição de Carlos e me vesti para correr pelo bairro, até o parque.

Como não sou a única a fazer isso, as trilhas asfaltadas para pedestres me fazem cruzar caminho com outras pessoas, mas eu estou concentrada demais em minha própria respiração e nas músicas reproduzidas por meus fones de ouvido para me preocupar com qualquer uma delas.

Parece que estava dando certo, até que eu resolvi parar para comprar uma água e nesse pequeno instante de tempo minha mente viajou até ela.

Ainda com os fones plugados, eu tirei o celular da minha braçadeira e abri minhas notificações. Mensagens de Carlos, mensagens da operadora, uma mensagem de Theo, nenhuma de Simone.

Ignorando todas as outras conversas, eu apenas abri a última, rindo assim que vi a mensagem.

Theo

AFRODITEOnde histórias criam vida. Descubra agora