13 | inocente como um beijo malicioso

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— Soraya?

Eu olhei para o lado assim que ela me chamou e enfiei meu celular já desligado de volta no bolso da minha calça, assim não existe a menor possibilidade de meus pais estragarem meu dia com Simone através de suas ligações insistentes.

É óbvio que eles não vão me deixar em paz por abandonar o brunch na casa de Marco dessa forma, mas eu realmente não quero pensar nisso. Pelo menos não agora.

— Oi. — Eu a respondi, caminhando lado a lado com ela pela calçada de pedras do bairro residencial de luxo.

— A gente ainda não sabe pra onde está indo? — Ela questionou, com um sorriso pequeno.

Eu olhei ao redor, sem uma resposta imediata.

— Minha casa não fica tão longe, mas não acho que seja boa ideia ficar lá. Meus pais vão iniciar uma perseguição infindável assim que perceberem que eu não estou mais no brunch.

— Isso não vai te dar problema? — Ela perguntou enquanto continua acompanhando o ritmo das minhas passadas, as mãos nos bolsos de sua calça e nossos braços roçando um no outro enquanto caminhamos tão próximas assim.

Eu precisei umedecer meu lábio apenas por sentir sua pele tocar a minha a cada movimento despretensioso, sem deixar que nem mesmo a atmosfera quente transforme esse toque em algo indesejado.

— Eu realmente não quero me preocupar com isso agora. — Foi o que respondi, acabando por enfiar minhas próprias mãos nos bolsos para conter meus impulsos de tocar em Simone, talvez abraçá-la pela cintura para senti-la ainda mais perto.

Ela, por outro lado, curvou um pouco os ombros e assentiu silenciosamente. Cinco passos depois, ela voltou a se manifestar:

— Nós ainda precisamos comemorar, né? — Ela apontou, parecendo ansiosa. — Quer... comprar um vinho? Ou a gente pode voltar e roubar uma garrafa de champanhe do brunch...

Eu ri de sua ideia, apesar de negar imediatamente.

Ela suspirou, pensando noutra sugestão.

— Eu te chamaria para ir pro meu apartamento, mas eu não garanto que vou conseguir não tentar te beijar se ficar sozinha com você, então...

Ótimo, porque também não garanto conseguir não beijá-la caso ela tente.

— É. — Foi o que eu respondi. — Eu realmente não sei para onde podemos ir.

Simone ficou pensativa por alguns instantes, até me olhar com expectativa outra vez.

— E se nós formos ao Parque das Flores? — Ela sugeriu. — Lembra? Nós tivemos um encontro lá, até tivemos que fugir de uns valentões...

Eu ri com a lembrança apesar de, no momento, o desespero ter sido real.

— Você está tentando transformar isso num encontro, Tebet? — Acusei, brincalhona.

Ela negou de prontidão.

— Claro que não, So. Nós somos só amigas, agora. Esqueceu?

Outra risada minha escapou, dessa vez um tanto menos natural.

Quem diria que eu ficaria decepcionada ao ver Simone negando suas investidas contra mim?

O mundo... é, ele capota.

— Nós podemos ir para o parque. — Eu disse, esforçada em não evidenciar qualquer decepção. — Chamo um táxi?

— Não, a gente está muito longe, vai custar uma fortuna. Vamos de ônibus mesmo.

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