15 | nenhum benefício em ter amigas com benefícios

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— Então... na verdade ele nunca te traiu?

Simone parece verdadeiramente estarrecida com toda a confusão da traição-que-não-foi-traição.

Depois que Carlos foi embora, eu voltei correndo até meu quarto, onde a encontrei me esperando assim como pedi.

Confesso que parte de mim ainda estava receosa, com medo de que, apesar de meus esforços em convencê-la do contrário, Simone teria ido embora depois de me ver com Carlos.

E o pior nisso tudo é que eu sei que somos apenas amigas e Simone também afirmou isso quando tentei me justificar, mas eu sinto que, se algo tivesse acontecido entre Carlos e eu nessa noite, ela teria todo o direito de se sentir traída.

Que, honestamente, não faz sentido algum.

De qualquer forma, ela pareceu acreditar em mim, se deixou ser convencida por meu pedido sincero para que não fosse embora, e então eu pude explicar com detalhes tudo que aconteceu.

— Pois é, — Suspirei, enfim. — toda essa confusão foi culpa minha. Você já pode dizer que eu sou uma babaca precipitada.

Ela negou e remexeu na sacola plástica ao nosso lado na cama de casal, até tirar dali a embalagem com uma mini torta de chocolate branco e uma caixinha de suco de melancia.

Eu observei até que Simone usou o canudo colado à embalagem para furá-la antes de entregá-la a mim.

— Aqui. Você já deve estar se sentindo culpada o suficiente, So, então não vou falar mal de você.

Eu segurei a caixinha cheia de gotículas espalhadas e mordisquei meu lábio inferior para tentar conter qualquer coisa que não deva ser dita.

— Eu me sinto culpada, mas uma coisa boa surgiu disso tudo, não é? — Murmurei enquanto vejo Simone concentrada em abrir a embalagem do bolo antes de passá-la para mim junto a um garfo plástico.

— O que? — Ela perguntou, curiosa.

Eu raspei meus dentes por meu lábio mais uma vez

Sério, Soraya, se controla...

— Pelo menos eu conheci você, Simone.

É. Eu tentei me conter, mas falhei miseravelmente.

Diante disso, Simone ficou vermelha como nunca antes. E. não. disse. absolutamente. nada.

Claro que eu me senti meio otária e devo ter começado a ficar vermelha também, então me arrastei para fora da cama e fiquei de pé, pigarreando com força.

— Eu já volto. — Anunciei, dando as costas assim que a vi abrir a boca para falar algo.

Meu deus... eu não deveria ter dito aquilo.

Eu realmente não consigo lidar com essa nova versão de mim que tem cada vez menos medo de ser sincera com Simone, porque ao mesmo tempo tudo isso ainda me deixa insegura e assustada e então coisas assim acontecem.

Consequentemente, eu entro em crise.

Por isso, quando cheguei na cozinha, eu bati minha cabeça contra a porta da geladeira três vezes.

E eu nem mesmo sei o que vim fazer na cozinha.

Por sorte, meus pais ainda não voltaram e Joana já foi embora, então ao menos posso ter privacidade em meu momento de pânico e arrependimento.

— Soraya?

Privacidade é o caralho.

Como se não estivesse prestes a lascar minha cabeça contra o refrigerador, eu me engomei toda na posição mais confiante que conheço, virei para Simone, que acabou de chegar na cozinha, e exibi a expressão mais plena que consigo mostrar.

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