22 | não suficientemente bom para a verdade em clichê

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— Melinda... você beijou a Sofia... a amiga da Simone. — Eu anuncio em voz alta, caso ainda não tenha ficado claro para ela.

— Eu percebi isso agora que tô vendo as duas juntas! Mas obrigada por narrar o óbvio!

— Eu, hein, precisa desse coice? cavala. Só quis confirmar!

— Olha, Soraya... não vai dar. Eu vou embora.

— Que? E o que eu digo a elas? Que você ficou toda bitolada de vergonha por ter beijado a Sofia quando estava bêbada?

— Diz que me deu diarreia. Ninguém questiona diarreia.

Eu reviro os olhos, agarrando-a pelo braço antes de puxá-la para dentro, mas Melinda faz força para trás, tentando resistir. Assim, ficamos empacadas na entrada.

— Deixa de besteira, Melinda Alves!

— Soraya Thronicke, é sério! Eu não me preparei psicologicamente pra isso!

— A Sofia nem deve lembrar de ter beijado você. — Eu tento tranquilizá-la, mas o efeito é oposto.

— Nossa, valeu.

— Ou talvez ela lembre e vocês se beijem de novo. — Contraponho com um dar de ombros. — Será que você pode parar com essa frescura?

— Não é frescura, é que... ela foi a primeira garota que eu beijei, poxa. Eu não sei como agir agora... e se ela não gostar de mim ou...?

Eu suspiro ao ouvir sua confissão preocupada e relembro que, no fundo, Melinda é só um bebê.

Ela e a Simone vão se dar bem, pensando por esse lado.

— É só agir como sempre, Mel. Se ela não gostar de você e de sua personalidade, o problema é dela, porque você é minha pessoa favorita do mundo inteiro e existe um motivo para isso.

— Você ainda gosta mais de mim que da Simone? — Pergunta, manhosa.

— É diferente. — É o que respondo sinceramente.

O que eu sinto por Melinda e o que eu sinto por Simone possuem naturezas distintas a partir de certo ponto, então é injusto comparar.

Enfim, Melinda respira fundo e solta o ar numa lufada resignada, então adoravelmente arruma os cabelos e faz um gesto positivo para mim.

— Ok. Seja o que Deus quiser.

Eu rio de sua atitude dramática, mas não me coloco em posição de julgar porque, sinceramente, minhas crises quando comecei a me envolver com Simone foram bem piores que o breve momento de hesitação de minha amiga.

Assim, eu contenho qualquer piada boba que poderia fazer e finalmente a puxo bar adentro, em direção ao sofá onde Simone está. E ela abre um sorriso enorme assim que me vê. Um bebê. Mas aí ela ficou de pé para nos receber e eu vi sua bendita calça jeans com rasgos na coxa e joelho. Um tesão.

Então eu percebi que sua postura entrega um pouco de nervosismo e ela esfregou as mãos na calça como para secar o suor. Porra, um bebê.

— Oi, So. — Ela disse para mim quando parei perto, e eu vejo seu olhar ansioso viajar de mim até minha amiga. Então ela virou-se brevemente para Melinda, educada e nervosa, antes de se apresentar com a voz trêmula: — Oi. Eu sou a Simone.

— Oi, Simone. Melinda, mas pode chamar de Mel, ou como preferir. — Anunciou também um pouco nervosa, embora eu saiba que é mais por conta da presença de Sofia. — É um prazer finalmente te conhecer. Soraya fala muito sobre você, sabia?

— É? — Ela perguntou, secou as mãos na calça mais uma vez e se atrapalhou com o que fazer com elas a seguir, então apoiou ambas na própria barriga.

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