30 | ei, keanu você

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— Soraya, agora já deu. É melhor parar. — Eu nem sei quem diz, dessa vez, já que tanto Calvin quanto Naomi estão pegando no meu pé há horas para parar de beber.

— Me solta. — Eu resmungo, com o corpo mole demais quando tento me livrar das mãos de Naomi para alcançar a garrafa que Calvin está me negando.

— Puta que pariu... eu preciso fechar o bar. Deixa de ser sem noção! — O barman se enfurece, puxando a bebida para longe de mim.

Ao fundo, a música já deu lugar ao som de cadeiras e bancos sendo arrastados e colocados em cima das mesas. O bar, antes cheio, já esvaziou completamente e apenas os últimos funcionários estão por aqui. E eu só me dei conta disso quando, há cinco minutos, tive que correr até o banheiro para vomitar.

— Chega. Isso já está ficando feio. — Naomi resmunga, segurando meu braço com um pouco mais de firmeza para conseguir me afastar do balcão. — Eu vou te deixar em casa.

— Não! — Minha voz ébria ecoa pelo bar vazio, mas meu corpo não tem a mesma força que minhas cordas vocais e, com mais um puxão, sou vencida. — Me solta, merda!

— Eu gosto de você... eu realmente gosto, mas agora eu só queria te quebrar no soco. — Minha colega de trabalho declara, seu braço me envolvendo na altura entre os cotovelos e o ombro para me guiar.

Quando dá mais um passo em direção da porta, eu tropeço em algum obstáculo invisível e caio para a frente, sobre meus joelhos, primeiro, e depois de cara no chão.

— Porra... — Naomi pragueja, rapidamente se ajoelhando ao meu lado e me ajudando a me erguer o quanto é possível. — Você se machucou?

— Você acabou de dizer que quer me quebrar no soco... — Gaguejo entre um soluço e outro.

— Foi jeito de falar, é claro que eu não quero que você se machuque!

Eu não respondo, já que sinto meu corpo travar com um novo impulso de jorrar as tripas para fora. Para minha sorte, é apenas um reflexo. Ao menos por enquanto.

No entanto, Naomi parece se alertar ainda mais pelo meu estado deplorável e, quando ergo o rosto, ela está olhando para Calvin, que está ainda detrás do balcão, com um olhar impaciente.

Depois de uma guerra silenciosa entre os olhares dos dois, o barman suspira em derrota e se livra do avental envolto em sua cintura, pendurando-o num gancho na parede. Depois, ele pega uma bolsa e a coloca atravessada, caminhando com a postura derrotada.

— Fechem o bar pra mim, por favor. — Ele diz para os funcionários ao fundo, então aponta com o queixo para mim. — Tem uma emergência aqui.

Depois de receber uma resposta que pressuponho ser positiva, ele se agacha do meu outro lado e, em silêncio, usa a ajuda de Naomi para me colocar de pé outra vez, então meus braços são colocados ao redor do pescoço de cada um; eu, literalmente estou sendo carregada para fora do bar. Pelas duas pessoas mais aleatórias da minha vida.

Durante o caminho, eu vejo mais brigas do que achei que seria possível de acontecer num intervalo tão curto. Eles brigaram comigo quando me embolei para explicar o caminho, brigaram a cada vez que quase caí e os carreguei junto, depois brigaram entre eles para decidir se deveriam parar na loja de conveniência para me comprarem algo para comer e então brigaram para decidir que comida comprar. Aí brigaram quando eu me babei toda para comer. Quando chegamos no apartamento, mais uma briga, dessa vez porque os dois tentaram passar de uma vez pela porta e nos enganchamos todos nela.

— Essa é a pior noite da minha vida. Espero que saibam disso. — Calvin resmunga, mas sendo surpreendentemente cuidadoso ao me ajudar a deitar na cama.

AFRODITEOnde histórias criam vida. Descubra agora