35 | o sol não pode brilhar tão intensamente quanto você

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SIMONE, parte 2

Eu te amo, Soraya

Eu te amo. Tanto, tanto, tanto!

E me odeio por não saber como reagir agora.

Porque ela está aqui em minha frente. Ela está molhada, magoada, de volta para mim. Ela está aqui e tudo que eu consigo pensar é no quanto a amo, sem conseguir mexer sequer um músculo.

— Simone... — Ela então me chama como num pedido carente, o cabelo loiro grudando em seu rosto; os olhos mais bonitos do mundo, vermelhos pelo choro.

— So... — Eu respondo, piscando como uma tonta. Depois, olho para as malas no chão, para a mochila em suas costas e percebo o que é tão óbvio.

Soraya não voltou para mim. Ela não voltou, porque nunca me deixou.

Com meu próprio choro ganhando força outra vez, eu sinto minhas mãos tremendo quando procuro as suas. Então sinto os dedos frios, a pele macia e úmida, e subo meu toque por seus braços com devoção. Ao alcançar seus ombros, eu a puxo em minha direção quase em desespero, até sentir o corpo se encaixar no meu. Até sentir as peças do meu coração despedaçado e desesperançado se encaixarem outra vez.

— Você me escolheu... — Eu digo em voz alta, ainda com medo de ser tudo um grande mal entendido.

Ainda em meu abraço, Soraya beijou meu pescoço, subindo um rastro de beijos até minha mandíbula, depois por toda minha bochecha até tocar em meu rosto com sua mão pequena e me olhar daqui, bem de pertinho.

— Sempre. Mil vezes, em mil vidas. Eu vou escolher você, Simone.

Eu não sei o que dizer. Não sei sequer se existem palavras no mundo, em qualquer idioma, capazes de expressar o que eu estou sentindo agora. Por isso, eu não tento falar. Eu subo minhas mãos, ainda trêmulas pelo frio e pelo nervosismo, até segurar cada lado de suas bochechas. E sem me importar em secar minhas lágrimas, as suas ou nossos corpos, eu a beijo.

A mão dela amassa minha blusa, a outra segura minha nuca com força, e sua língua toca a minha. Com nossas bocas juntas, no silêncio do beijo cheio de saudade pelas horas que pareceram dias, nós dizemos tudo que precisamos dizer.

Eu amo você. Eu estou aqui por você. Tudo vai ficar bem.

Ainda sem qualquer palavra, os dedos de Soraya deslizam pela lateral de meu pescoço e ela afasta sua boca da minha, respirando fundo quando mantém seu nariz em contato com minha bochecha. Eu tento alcançar seus lábios mais uma vez, mas ela recua suavemente ao deslizar a pontinha de seu nariz em minha pele.

— Você está toda molhada, bebê... — E é a primeira coisa que ela diz, preocupada.

— Não. — Eu resmungo, voltando a envolver sua cintura com um abraço que a deixa bem coladinha em mim. Com um beijo em sua bochecha, eu anuncio: — Hoje sou eu quem cuido de você.

Soraya apoia o queixo em meu ombro, assentindo suavemente depois de alguns segundos de espera.

— Cuida, por favor.

Sem mais demora, eu dou um beijo em sua testa e me afasto para pegar as malas do lado de fora antes de trancar a porta mais uma vez, então chamo-a até o quarto.

Sem entrar, eu paro por um instante ao lado de Keanu e sorrio para ele.

— Boa noite, Keanu. Eu vou cuidar da sua outra mãe agora.

— Boa noite, peludinho. — Soraya também diz, agarrado à minha cintura, toda carente. E mesmo toda inchada pelo choro e tremendo pelo frio, ainda se esforça para dizer para mim: — Eu sempre penso em como seria bizarro se ele de repente respondesse...

AFRODITEOnde histórias criam vida. Descubra agora