07 | o que vai, volta

2.5K 314 346
                                    

É estranho perceber que meu encontro com uma mulher foi o melhor que eu já tive na vida.

Simone sabe me fazer rir com a mesma facilidade em que me faz ter surtos internos violentos, assim como me faz querer beijá-la com a mesma intensidade em que, as vezes, desejo socar sua cara.

Tudo isso é muito novo para mim. Não só por ser provocada por outra mulher, mas também porque nem mesmo os homens com quem me envolvi me fizeram sentir assim.

Era bom, com eles. Era fácil, preto no branco. Se eu me interessasse por alguém e fosse correspondida, ótimo. Podíamos sair para jantar juntos, talvez ir ao cinema, quem sabe transar sem compromisso. Caso não fosse correspondida, tudo bem também, eu seguia em frente sem remorso, até porque eles quem saíam perdendo.

Eu nunca gostei de joguinhos de conquista. Nunca gostei do chove-e-não-molha. Para mim, ou queria, ou não. Agora, entretanto, eu me vejo interpretando o papel que sempre condenei: o da pessoa que quer, mas finge não querer.

Não é algo premeditado, eu juro. Não estou tentando parecer uma conquista difícil para ela, é só que... é assustador me sentir assim.

Durante toda minha vida me foi dito que não era normal mulheres se envolverem com outras mulheres ou homens com outros homens. E embora eu nunca tenha feito represálias ou destilado ódio contra pessoas que fossem contra essa regra, eu estava firme em minha certeza de que não queria, tampouco podia, ser uma delas.

Então, eu não posso negar. Eu estou assustada. Muito. Mas Simone consegue despertar em mim o desejo de descobrir até onde posso ir antes de colapsar.

E foi isso. Pelo menos naquela tarde de sábado, depois de fugirmos daqueles valentões, eu tentei vencer minha relutância. Eu deixei Simone me fazer rir até a barriga doer, deixei ela escolher o lugar onde iríamos jantar e aceitei dividir a conta da pizza que compramos. Mas não a deixei segurar minha mão, nem me beijar na frente de outras pessoas.

Ela foi paciente sobre isso, mas me roubou um selinho quando me acompanhou até minha casa, mesmo que eu tenha insistido que ela não precisava fazer isso.

Simone me fez ter um dos dias mais inusitados e divertidos da minha vida e, deus, eu quis vê-la de novo. Por isso, esperei ansiosa que ela me mandasse uma mensagem, orgulhosa demais para ser a primeira a fazê-la.

Mas Simone não me procurou.

Por seis dias.

Enquanto isso, Carlos César, o ex traíra, bombardeou meu celular com mensagens exigindo que nos encontrássemos para conversar, mas foram todas devidamente ignoradas.

Tudo bem. É melhor assim. Quer dizer, eu não estava mesmo confortável com toda essa situação de beijar e fazer coisas a mais com outra mulher, então dessa forma, pelo menos, eu posso voltar à familiaridade da minha heterossexualidade, certo?

A única coisa que eu preciso fazer é superar meu orgulho ferido por ter sido dispensada dessa forma e fingir para mim mesma que não sinto meu coração acelerar a cada notificação recebida em meu celular, acreditando que pode ser Simone.

Eu sou uma fodida mesmo.

— Você não quer mesmo sair? — Melinda perguntou manhosa, jogado ao meu lado na cama de casal.

Como ela já está um pouco mais livre das provas na faculdade e eu preciso me distrair e tirar Simone Tebet da cabeça, nós marcamos de passar a noite juntas.

Mas enquanto ela quer sair para beber e dançar, eu só quero ficar na minha cama assistindo TV.

— Amanhã eu tenho a seleção no estúdio fotográfico. — Expliquei, zapeando pelos canais da TV a cabo no meu quarto. — É melhor ficar em casa descansando pra não aparecer lá de ressaca ou, deus me livre, com olheiras.

AFRODITEOnde histórias criam vida. Descubra agora