10 | você só me liga quando está chapada

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Simone, por favor... me responde.|

Deixa pelo menos eu me desculpar direito :/|

Eu continuei olhando para a conversa, sabendo que minha espera por uma resposta é em vão, mesmo que ela apareça online no aplicativo.

Sei disso porque essa não é a primeira mensagem que mando para ela desde que tudo aquilo aconteceu. Eu mandei um total de três pedidos de desculpas nos últimos quatro dias e foram todos dolorosamente ignorados.

Ela sequer visualizou.

Impaciente e ainda com o peso na consciência me tirando toda a paz de espírito, eu larguei o celular ao meu lado na cama e cobri meus olhos com meu braço num gesto puramente frustrado.

Meu arrependimento vai muito além da consequência de ter perdido as chances de estar com alguém por quem senti tanta atração e um interesse e curiosidade genuínos. O que me tira o sono e a concentração, agora, é saber que eu a magoei.

Tipo, de verdade.

E isso eu não queria, de forma alguma.

— Porra, caralho... — Eu praguejei, pela primeira vez não motivada por mais um surto de decepção ao me ver pensando demais em outra mulher. O que me motiva, contraditoriamente, é a certeza de que toda essa minha resistência e receio feriram Simone.

Sem saber o que fazer, eu voltei a pegar o celular e fui na conversa da única pessoa com quem sinto que vou me sentir confortável para falar abertamente sobre isso, e é estranho perceber que esse alguém não é Melinda.

Theo, pode falar?|

Theo

|Mais ou menos... é urgente?

Não... mas me avisa quando puder conversar :/|

Theo

|Vc tá ocupada?

Theo

|Eu só não posso ficar no celular, mas se vc puder vir até aqui a gente pode conversar

Theo

|Algo me diz que é sobre a garota da boate...

Eu ponderei sua sugestão por muito pouco tempo. Desocupada como estou desde que larguei a universidade, eu não tenho muitas obrigações, então também não tenho um motivo que me impeça de ir até ele, coisa que faço assim que recebo sua localização.

— Joana... — Eu chamei ao descer a escada, vendo-a limpar o móvel da sala. — Eu vou sair, devo jantar na rua mesmo.

Ela me olhou em silêncio antes de concordar, deixando a atmosfera um pouco mais desconfortável.

As coisas estão estranhas desde que ela me viu beijando Simone — logo antes da minha babaquice colossal em dizer que ela me beijou à força — mas nem eu, nem ela tomamos qualquer iniciativa para esclarecer o que aconteceu naquele dia.

Ela não me questionou, tampouco eu me justifiquei.

Depois de sustentar nosso desconforto por mais algum tempo em que pensei em dizer mais algo, acabei optando por não fazê-la, e somente me despedi de uma vez antes de sair em busca de um táxi.

Cerca de vinte minutos depois, eu desembarquei diante de uma academia de luta e fui facilmente instruída ao perguntar a recepcionista na entrada onde eu poderia encontrar Theo, e ela apontou para um canto do recinto quase vazio, com meu mais novo amigo socando repetidamente um saco de pancadas preso a uma viga metálica no teto.

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