AFRODITE

44 | nadando juntas

Poder deitar ao lado de Simone, sob as estrelas, parece um sonho.

Também é assim que me sinto por receber seus beijinhos enquanto nos agasalhamos juntas debaixo da coberta e ela sussurra baixinho que me ama.

A barraca foi montada, depois de muita enrolação. Mas nós acabamos deitando do lado de fora, para poder ver cada pontinho de luz lá no alto, fazer planos sob eles e juras de amor desajeitadas, mas sinceras.

Foi assim que passamos todo o dia, aqui nesse lugarzinho só nosso, pelo menos por hoje.

Nos amando.

Cozinhamos juntas. Tomamos banho juntas. Fizemos testes online juntas também.

Um monte de coisa... sempre com amor.

Às vezes com um pouquinho de tesão.

Teve um pouco de raiva também, porque ela não para com essas brincadeiras para me dar susto. E aí, quando ela cai na risada, eu sempre a odeio por 10 segundos.

— So... — Ela me chama, empacotadinha, toda encolhida contra o corpo da namorada que também se encolhe contra ela.

— Diga, coisa linda... — Peço, sorrindo boba enquanto ela dá um cheirinho em meu pescoço, antes de dizer:

— Quero ver o sol nascer de novo, com você.

— Hm... você quer? — Pergunto, abraçando-a forte, passando uma perna ao redor de sua cintura para abraçá-la inteirinha. — Cactozinhos gostam mesmo de sol...

— Sim. Eu sou seu cactozinho e você é o meu cactozinho. Então vamos orgulhar nossos bebês cactos e aproveitar o solzão nascendo, lá perto da cachoeira.

— E vamos tirar uma foto bem bonita para mostrar para eles.

— Mas é claro? Não me subestime, So! Eu trouxe minha polaroid!

Cara...

É possível morrer de amor por alguém? Tipo, literalmente parar de funcionar por amar tanto?

Eu acho que está acontecendo. Eu acho que estou literalmente morrendo de amores por Simone.

— Bebê lindo... — Eu a chamo, meio manhosa.

Simone não diz nada, mas esfrega a bochechinha em meu ombro quando mexe o rosto até mirar os olhos escuros, grandes e preguiçosos em mim.

Com um sorriso rendido, eu peço:

— Diz aquilo... eu keanu você...

Simone sorri, até fecha os olhos e se aconchega mais, mas diz: — Eu keanu você mais que tudo, So.

Meu sorriso deve crescer até ficar maior que o próprio universo, enquanto eu a abraço mais forte e fecho meus olhos, cansada depois de um dia inteiro de dengo para lá e para cá.

O silêncio vai se formando num jeito confortável, acolhedor, embalando o sono que já se torna cada vez mais irresistível e que vai me levando por pensamentos preguiçosos.

Acho que Simone até pensa que eu já dormi, porque se assusta quando, de repente, verbalizo o último pensamento que tenho:

— Sisa... eu acho que estou com saudade do Keanu...

Ela me olha mais uma vez. Pergunta: — E de Regina e Gominho também?

— Muita.

Ela suspira quase em alívio, antes de explicar o porquê.

— Achei que eu era a única. Não queria ser uma mãe carente, aí fiquei calada. A gente devia ter trazido eles...

— Sim... da próxima vez, a viagem em família vai ser com a família toda.