26 | ame todas as pequenas coisas

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— Simone! Simone, espera! — Eu a chamo enquanto tento alcançá-la, mas ela está fugindo rápido demais.

Acontece que Hera acertou nosso calcanhar de Aquiles. Ela mirou diretamente no nosso elo mais frágil e o golpeou impiedosamente.

Por isso, depois de tanto lutar contra o constrangimento, contra o receio de estar entre meus amigos, de se sentir inferiorizada mesmo quando não tentavam fazer isso, Simone chegou ao seu limite e a última provocação foi a gota d'água que faltava para fazê-la transbordar.

No fim, quem foi convidada a ir embora foi Hera. Mas quem fugiu foi Simone.

Ela hesitou por um instante. Então, pareceu se fragilizar de vez e se afastou de mim. Recuou pela água, em direção à margem, a roupa molhada se colou completamente ao seu corpo e com os pés nus ela abriu suas passadas desesperançadas pelo caminho de volta, pela trilha entre as árvores que a princípio percorremos juntas, sorridentes, e agora percorremos uma distante da outra, porque não consigo alcançá-la.

— Simone, por favor! — Eu peço, desesperada por vê-la continuar a se distanciar enquanto meus pés molhados fazem folhas mortas e terra se grudarem à minha pele enquanto tento alcançá-la.

Também descalço, eu piso forte demais num graveto e a dor me faz praguejar baixo, mas eu sigo em frente, até ando mais rápido, quase corro, e finalmente a alcanço. Nesse momento, seguro seu braço, impedindo-a que se agache e entre em nossa barraca.

— Simone!

— Para, Soraya! — Ela pede, tentando se soltar, mas a seguro com mais empenho. — Já chega de fingir que a gente é compatível.

— O que você está dizendo? — Pergunto, com os olhos tão arregalados quanto minhas sobrancelhas estão contraídas.

— Ela tem razão, Soraya... olha pra você e olha pra mim. A gente não tem nada em comum e...

— Eu gosto de você e você gosta de mim. Eu te faço feliz e eu sou feliz com você. Essas são as únicas coisas que precisamos ter em comum. Ou você não gosta mais de mim? Você não fica mais feliz quando está comigo?

— Não é isso!

— Então? Você vai deixar uma babaca daquela dizer o que eu e você podemos ser uma para a outra? Você vai simplesmente jogar no lixo cada esforço meu para ser boa para você e espera que eu jogue no lixo todo o seu esforço para tentar ser boa para mim também? Por causa daquela garota, Simone?

Seu corpo finalmente parece ceder. Não voluntariamente, no entanto. É como se ela perdesse a força para tentar fugir de mim, então sua respiração desajeitada complementa o que seus olhos vermelhos e úmidos querem dizer.

— Eu não sou nada perto de você, Soraya... eu não sou nada perto das pessoas que você chama de amigos. Eu sou só uma garçonete que nem conseguiu se formar na escola e que precisou fazer sexo por dinheiro mais de uma vez. Como você acha que eles vão reagir se descobrirem isso?!

— E o que me importa como eles vão reagir? Se algum deles pensar em te diminuir por isso, eu faço questão de nunca mais chamar uma pessoa assim de amigo. E nunca mais diga que você é só uma garçonete que não conseguiu se formar na escola. Você é muito mais que isso, Simone, e eu não vou deixar você pensar tão pouco de você mesma.

— Mas é como eu me sinto! — Ela diz. É a primeira vez que levanta a voz assim para mim, em seguida usa sua mão para secar uma lágrima que escorre, orgulhosa demais para deixá-la percorrer todo o caminho. — É assim que eu me sinto e eu tenho vergonha todo dia da minha vida, mas nunca tive tanta vergonha quanto senti perto dos seus amigos, Soraya!

AFRODITEOnde histórias criam vida. Descubra agora