ILEGAL - vício da paixão

18

Diferente da última vez em que eu estive em um carro com o Jack Will, eu não contei os minutos que levamos até eu o ouvir dizer que já havíamos chegado.
Não apenas porque eu estava vendada e impossibilitada de olhar os minutos na tela do meu celular, mas porque eu estava nervosa e curiosa para saber o que eu ele estava preparando para mim.
Jack Will havia saído do carro. Eu percebi ao ouvir o mesmo bater à porta. Segurei o ímpeto de tirar aquela venda dos meus olhos, pois meus níveis de nervoso estavam aumentando a cada segundo que se passava.
Não demorou para que ele abrisse a minha porta e tirasse o meu cinto de segurança. Eu já estava preparada para que ele também tirasse aquela venda dos meus olhos que me afligia, mas o Jack Will segurou as minhas mãos, me guiando para fora do carro.
— Fala sério que você ainda vai me manter nesse suspense! — falei nervosa e ouvir o ruído da sua risada.
Pelo menos ele estava se divertindo.
— Tenha calma, Clark. Logo você verá! — ele falou com um tom alegre em sua voz.
Jack Will continuou me guiando para onde ele afirmava ser o lugar mais inesperado que eu poderia designar. Eu não sabia se era apenas um truque para atiçar ainda mais a minha curiosidade ou se realmente esse lugar existia e eu estava prestes a ver, mas tudo só me tornava mais ansiosa.
Quando eu o ouvir dizer que já havíamos chegado finalmente, eu quis arrancar a venda e finalizar a minha ansiedade, mas o Jack Will me parou.
Porém, para o meu alívio e surpresa ele mesmo quem a tirou, desatando o nó lentamente.
Enquanto a venda caia, eu avistava um enorme campo verde com muitas árvores a frente, e logo ao meu lado, havia uma toalha em xadrez branco e vermelho esticada na grama com uma cesta logo encima da mesma. Eu não pude conter o sorriso junto a minha reação incrédula pelo o eu estava vendo.
Jack Will vendo o meu sorriso, logo me perguntou:
— E então, gostou?
Embora eu estivesse surpresa, eu não deixei passar a oportunidade de tirar uma brincadeira com o mesmo.
— Foi você mesmo quem fez? — perguntei em um tom de brincadeira e ele fez uma careta.
— É tão difícil assim de acreditar que eu fiz algo legal? — ele perguntou.
— Não, eu sei que você faz coisas legais quase sempre. — respondi encarando o mesmo. — mas só não sabia que fazia esse tipo de coisa, é... fofa? — falei deixando ele surpreso.
O Jack Will disfarçou muito bem, mas eu pude ver que ele corou em uma fração de segundos.
— Ah... até parece que é a primeira vez que faço esse tipo de coisa para você. — ele disse rapidamente para iniciar um assunto. — ou você esqueceu do nosso primeiro encontro? — Jack Will me perguntou e então eu sorrir ao voltar brevemente àquela noite que estava cravada em minha memória e meu coração.
— Claro que não. — respondi e o Jack Will abriu um sorriso satisfeito.
— Bem, então chega de conversas e vamos começar o nosso dia. — ele falou sinalizando para que eu me aconchegasse na toalha do piquenique, e assim eu fiz.
Por incrível que fosse, o Jack Will escolheu o melhor lugar do parque para o piquenique. A vista logo à frente era linda, tranquila e harmônica.
O lugar não estava cheio, possivelmente por ser na semana, detalhes que só tornou tudo ainda mais incrível.
Para o nosso lanche, o Jack Will havia caprichado nos sanduíches de frango com queijo, e para acompanhar, trouxe suco de laranja. E como não podia ficar sem sobremesa, ele também trouxe bolo de chocolate com muito recheio.
Olhei para todo aquele capricho em comida admirada, tanto que a minha barriga logo roncou. O que provocou uma gargalhada espontânea do garoto.
— Você parece faminta. — Jack Will disse pegando um sanduíche da cesta.
— Desculpa, eu sair às pressas hoje que eu esqueci que não tomei café. — falei e ele sorriu gentilmente. — na verdade, eu iria tomar café com os meus amigos no refeitório do colégio. — continuei.
Ao mencionar os meus amigos eu rapidamente pensei nos mesmos e o que eles estariam fazendo agora.
— Ah, então que bom que você não comeu nada. — Jack Will falou me trazendo de volta à tona. — assim vai sobrar mais espaço para lanchar o que eu trouxe. — ele continuou me entregando o sanduíche e eu o peguei. No mesmo instante o Jack Will estava enchendo um copo de suco para mim.
— Obrigada. — falei antes da minha primeira mordida.
O garoto não falou nada, apenas me observava com expectativa enquanto eu bebia um gole do suco, e eu rir.
Ele provavelmente esperava de mim um feedback.
— O que foi? — ele me perguntou curioso ao ver que eu sorria.
— Eu quem te pergunto. — respondi ainda rindo. — por que está me olhando comer? — perguntei.
— Eu não estava olhando para você. — ele respondeu. — eu estava... olhando para aquela árvore atrás de você! — Jack Will continuou rapidamente.
A distorcida na conversa do mesmo  resultou na minha gargalhada sincera, e ele sorria ao me observar.
— Você mente muito mal. — comentei enquanto comia.
— Ué, e como você sabe que é mentira? — ele me perguntou.
— Porque se você estivesse mesmo olhando para a árvore atrás de mim e não para eu mesma, pode ter certeza que eu saberia. — respondi e ele sorriu.
— Então você acha que eu estava olhando para você? — ele perguntou com um sorriso presunçoso e eu apenas assenti, pois ainda estava comendo.
— Na verdade você queria mesmo era que eu falasse como estava o lanche que você trouxe. — respondi e ele abriu um sorriso malicioso.
— Se eu minto mal, você advinha muito bem. — ele comentou e eu rir em concordância. — mas e então, está bom? — Jack Will perguntou quando viu que eu já havia terminado o primeiro sanduíche.
— Está sim. — respondi e ele sorriu. — foi você mesmo que fez ou pediu para a empregada? — perguntei.
— Assim você me magoa. — ele disse e eu rir.
— Brincadeira. — falei. — mas é sério, você fez sozinho ou com ajuda de alguém? — perguntei.
— Digamos que eu tive uma ajudinha. Mas isso mudaria algo? — ele questionou.
— Claro que não. — respondi.
— Bem, pedi para a minha irmã me ajudar. — Jack Will falou. — ela fez o bolo e eu fiz os sanduíches. — continuou o mesmo.
O fato dele ter pedido ajuda a irmã só me fez pensar que talvez eles sejam bem próximos e provavelmente ela sabe sobre nós. Agora eu me questiono se o Jack Will já falou sobre mim para a sua irmã mais nova.
— Se quer saber, o sanduíche está muito bom. — comentei e ele sorriu.
— Obrigado. — ele falou. — aqui, pegue mais. — o mesmo continuou enquanto me entregava mais outro.
— Então acho bom você pegar o seu também, ou vai acabar ficando sem nenhum. — brinquei fazendo o Jack Will rir.
Passamos o resto da manhã conversando sobre várias coisas enquanto esvaziávamos toda a comida que o Jack Will havia trazido naquela cesta. A tranquilidade do parque, a vista e a conversa divertida com o garoto era um combo de distração que fez as horas passarem mais rápido do que eu esperava que passariam. Estávamos falando sobre faculdade e nosso futuro quando de repente o Jack Will deu um pulo e se colocou de pé me assustando.
— O que foi?! — perguntei nervosa analisando o mesmo.
— Já são quase uma hora e eu não te levei para almoçar! — ele respondeu nervoso enquanto arrumava as coisas dentro da cesta.
— Mas quem disse que eu estou com fome? — perguntei relaxando mais o garoto.
— Não está? — Jack Will me perguntou e eu neguei com a cabeça. — mas não é bom ficar sem almoçar, eu...
— Tudo bem, Jack. — falei o interrompendo enquanto segurava o braço dele. — eu realmente não estou com fome. — continuei.
Ele me encarou surpreso com a minha ação e então finalmente se acalmou. Logo eu o soltei e me recompus.
— Já que não está com fome, vamos para a segunda parte do dia. — ele falou se recompondo. — vamos no parque de diversões SM. — o mesmo continuou.
Eu não contive a minha surpresa, o parque SM é o maior e melhor parque que tem na nossa cidade aqui em São Francisco.
Por ser um ponto turístico e atrativo, o parque sempre vive lotado e todos tem o desejo de visitá-lo. Inclusive, eu e o Holden sempre sonhamos em ir para o parque e planejamos isso antes mesmo de nós mudarmos para cá.
O parque SM, além de ser um desejo dos turistas, ele também tem um "charme" a mais por ser localizado bem próximo à praia o que o torna ainda mais atrativo.
— Você está falando sério?! — perguntei surpresa e animada e o Jack Will riu com a minha reação.
— Claro. — ele respondeu. — vamos passar a tarde lá e depois eu compro alguma coisa para a gente comer. Já que você não quis almoçar. — o mesmo continuou.
Eu sorri com a preocupação e atenção dele, mas não comentei nada. Eu penas assenti enquanto estávamos guardando as coisas do piquenique.
No caminho de volta para o carro, o Jack Will estava empolgado enquanto me contava sobre as suas experiências no tão famoso parque. E embora eu estivesse mais ansiosa e empolgada do que ele, lembrei do meu amigo Holden e uma onda de culpa percorreu pelo meu semblante, o que não passou despercebido pelo Jack Will.
— Aconteceu alguma coisa, Laycey? — ele me perguntou preocupado.
Eu não sei dizer o que me trouxe de volta dos meus pensamentos de culpa, se foi a voz grave e preocupada do Jack Will ou se foi a menção do apelido que ele inventou para mim, eu só sei que sai de um transe para outro.
— Eu estava pensando nos meus amigos. — respondi encarando o chão.
— Ainda está se sentindo mal por eles? — ele me questionou e eu o encarei.
— Estou. — respondi. — eu já estou me sentindo mal por ter mentido para eles hoje e com certeza vou me sentir pior ainda em ir para o parque SM sem o Holden. — continuei triste.
O Jack Will cerrou o maxilar e olhou brevemente para o lado antes de voltar a me encarar.
— Mas você ainda vai comigo para o parque, não é? — ele perguntou com a voz um pouco alterada.
— O quê?! — questionei incrédula. — você não acabou de ouvir o que eu falei? — perguntei.
— Sim. — ele respondeu de forma rude. — mas eu quero saber o que vai fazer a respeito disso, se vai ou não vai comigo para o parque. — o mesmo insistiu.
— Eu... não sei. — falei e abaixei a minha cabeça e tudo o que eu ouvir foi a respiração impaciente do Jack Will.
— Se o que te impede de ir para o parque comigo são os seus amigos, lembre-se que você já inventou uma desculpa para eles hoje mais cedo para estar aqui agora comigo. — Jack Will falou.
Ele tinha razão, o pior eu já tinha feito.
Se eu já tinha mentido para os meus amigos para estar aqui, o que iria mudar em continuar com o Jack Will e finalizar esse dia?
Só uma pessoa, o Holden.
Ir para o parque SM que tanto planejamos para ir sem ele era tipo uma traição, ainda mais com uma pessoa que ele detesta.
— Você tem razão. — falei. — mas o que acha de irmos para um outro lugar? — sugeri na esperança do mesmo aceitar a mudança nos planos.
O Jack Will que estava guardando a cesta no porta mala me encarou confuso depois que fechou.
— Outro lugar, por quê? — ele me perguntou. — achei que estava empolgada para ir ao parque. — o mesmo continuou.
— Na verdade, eu estou. Mas não posso me divertir sabendo que o meu melhor amigo que amaria mais do que tudo ir, não está aqui. — respondi e o Jack Will se irritou, pois mudou drasticamente o seu semblante.
— E você só sabe sair se estiver com aquele cara? — ele me perguntou irritado e eu também me estressei, mas eu controlei a minha raiva para não piorar a nossa situação.
— Não é isso. É que antes mesmo de nos mudarmos para cá a gente planeja em ir para o parque e agora eu vou sem ele? — questionei.
— Acho que você se importa demais com ele. — Jack Will falou mais baixo, mas eu pude ouvir.
— Mas é claro que eu me importo, ele é o meu melhor amigo! — disparei.
— Seu melhor amigo? — ele perguntou com ironia. — as vezes você trata ele como se fosse mais do que isso! — o mesmo continuou.
Eu não pude conter a risada. E embora fosse mais irônica do que sincera, de certa forma me ajudou a controlar a raiva.
— Quer parar de ciúmes besta? — perguntei. — se eu sentisse algo a mais pelo Holden eu já teria me declarado para o mesmo. — continuou.
— Você?! — Jack Will perguntou gargalhando e isso me deixou irritada.
— Eu mesma. — respondi com deboche. — acha que eu não tenho atitude nem para falar o que eu sinto? — perguntei e o Jack Will parou lentamente de rir, como se estivesse se recompondo e então se aproximou de mim.
— E se fosse comigo, você teria coragem de dizer o que sente? — ele perguntou enquanto me encarava tão perto e tão fixamente que me deixou sem jeito.
Mas eu não me deixei abalar.
— Claro. Inclusive, vou dizer o que eu sinto por você agora. — falei deixando o Jack Will curioso e hesitante, como quem não esperasse por essa resposta.
— Prossiga. — ele falou mascarando a sua surpresa.
— Eu sinto raiva. — falei. — e detesto quando você age desse jeito presunçoso e malicioso como se me tivesse em suas mãos. — continuei.
Jack Will abriu um sorriso satisfeito, ele sempre gosta de ver o que o mesmo faz causa o efeito que desejava. Ou seja, ele ama saber que me abala de alguma forma.
Ele se aproximou tanto que eu tive que me afastar, e então me deparei com o carro dele atrás de mim.
Eu estava sendo encurralada por ele.
— Me desculpa se você acha que eu te tenho nas mãos. — ele falou e então se aproximou do meu ouvido. — acredite ou não, eu não desejei isso. — o mesmo continuou em um sussurro.
A voz grave e a proximidade que ele estava de mim me fez instantaneamente arrepiar, e eu estava tão desconcertada que não ligava se o Jack Will podia perceber ou não.
Eu estava sem jeito e não conseguia nem pensar direito, pior falar.
Sem que eu percebesse, ele abriu a porta do passageiro, a qual estava logo atrás de mim. Eu só vi que abriu porque eu ouvir o barulho da mesma.
Jack Will se afastou e eu fiz o mesmo. Então ele abriu a porta para mim.
— E então, ainda quer ir para o parque ou não? — ele me perguntou e eu apenas assenti ao entrar no carro sem dizer uma palavra.