Quando giro a chave na fechadura, meu corpo inteiro parece tremer em antecipação. Não é uma boa sensação, não sei o que há de ocorrer neste final de semana.
A casa está levemente escura, apenas a arandela no corredor acessa e cuidadosa empurro minha mala pelo corredor.
Eduardo não está, não há sinal de minhas filhas e finalmente me permito suspirar.
Não gosto da sensação que me assola em minha própria casa, essa que por tanto tempo foi um refúgio, um prazer natural de estar em meu lar, um casulo projetado para trazer felicidade e segurança mas que nos últimos anos, tem debaixo das tintas na parede marcas irreparáveis na história desse lugar.
Foi aqui que minhas marias cresceram e se tornaram mulheres, bonitas lembranças. Mas foram aqui também minhas piores brigas com Eduardo, as noites em que eu o esperava mesmo chegando tarde do trabalho e ele não estava. Quando chegava, o cheiro de bebida e de sexo barato me deixava enjoada. Das primeiras vezes houveram gritos, discussões acaloradas e aos poucos tornou-se apenas silêncio.
Foi aqui também que tentei em vão reparar tudo isso, onde comecei a baixar meu olhar para ele e fazer o possível para não acontecer reprimendas, para tentar salvar o que no fim, já estava morto.
Em meu quarto, trancada sozinha, separo um pijama no closet e uma toalha limpa, rumando para o banheiro na esperança de uma chuveirada e de encontrar minha cama em seguida.
O cansaço me domina, mesmo que eu tenha dormido grande parte do dia.
Frente ao espelho, no desnudar de meu corpo, vejo a marca clara dos dedos de Eduardo em meu braço. Um roxo azulado que se espalha, a evidência crua de sua ira marcada em minha pele clara demais.
O que deveria ser um banho calmo e curto, se torna agitado e longo. Debaixo da cascata d'agua, me permito realmente chorar depois de todos os fatos.
Minha garganta dói com os soluços que não seguro, minha cabeça girando nas memórias do início daquele dia.
A ira de Eduardo não era desconhecida aos meus olhos, mas eu nunca havia a visto tão clara.
O maior problema naquilo tudo, era que das outras vezes, mesmo sabendo hoje que era completamente errado, eu me sentia culpada, mesmo sabendo que na maioria delas nunca houve uma grama de culpa minha.
Mas agora, hoje, hoje não. Não há culpa em mim, nem uma vírgula dela e em partes, é libertador.
Mas a sensação é de queimação no estômago, um limite a muito ultrapassado e que preciso muito mais rápido do que jamais pensei, colocar um ponto final.
Também não consigo não pensar em Alessandro, na maneira como ele inicialmente parecia calmo mas em como em uma fração de segundo estava socando a cara de Eduardo, a raiva presente em seus olhos como nunca havia visto.
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Em Nome do Argumento - Simone e Alessandro - Simolon
FanfictionDentre as quatros paredes prestes a desabar de um casamento já em ruínas, Simone escuta atenta a confissão do marido sobre a quebra de uma única promessa feita entre os dois. Diferente da imagem pacífica que a sociedade tem sobre ela, o sangue da m...