Capítulo 34 - Cartas (Parte IV)

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Querida Camila,

Acho que hoje você me perguntou a coisa mais estúpida do mundo. Você me perguntou se eu teria coragem de te trair, porque estávamos longe e porque, talvez, eu esteja com saudades de "alguém" para ter.

Nós discutimos. Discutimos porque eu não aceitei muito bem o comentário, porque eu não entendi como você consegue olhar pra mim e pensar que eu seria capaz de te trair. Na chamada, quando eu ri e perguntei se você realmente estava me questionando aquilo, eu queria ter dito apenas que não. Que eu nunca seria capaz de trocar seu sorriso, sua risada escandalosa, o cheirinho de baunilha do seu cabelo, seus olhos apaixonados me olhando ou seu abraço por nada. Por absolutamente nada.  Queria ter dito que eu te amava demais pra isso, que eu poderia ficar longe de você pela porra de anos e, se eu ainda estivesse em um relacionamento com você, eu não daria nem beijo na bochecha em ninguém. Deveria ter dito que era óbvio que eu tinha saudades de "ter alguém", ou, sendo mais rasgada, de transar, mas que eu sentia saudades de fazer isso com você. Eu acho que não demonstro da forma que eu queria demonstrar que só tem você na minha cabeça, Camila, para sair para comer, para assistir um filme, para ir ao parque, para transar, para dormir junto, só da você. Bom, agora eu tenho certeza de que não demonstro direito isso.

E, ao invés disso tudo, ao invés de dizer todas essas coisas, eu virei pra você e disse; "se você acha que eu seria capaz de te trair, por que você está comigo?"

Sim, escrevendo isso eu me sinto ainda mais estúpida, mas eu já entendi que eu não consigo ser totalmente aberta em relação aos meus sentimentos, não consigo dizer tudo que sinto. Eu consigo dizer que te amo, mas não consigo me aprofundar e te dar os motivos do porquê eu te amo. O porquê disso? Eu também não sei. Eu só fico com raiva por você duvidar assim de mim e acabo falando essas coisas. Eu sei que não deveria. Eu sei que deveria te ligar agora e pedir desculpas, mas, ao invés, eu estou escrevendo essa carta que eu nem sei mais se você vai querer ler, por estar com raiva de mim, mas, se você ler, saiba que eu te amo muito para pensar em alguma outra pessoa.

Eu tenho medo de que minha irresponsabilidade compulsiva e minha dificuldade de demonstrar tudo que sinto me faça de perder, amor. E, embora eu sempre bata nessa tecla de te perder, também quero que saiba que tração pra mim é usar alguém, e entre te perder e te usar, eu prefiro te perder quantas vezes forem necessárias.

Eu te amo demais, me perdoa por ser assim.

Com amor, Lauren.

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