Capítulo 23 - Uma Ação Perigosa

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Narcisa ainda estava parada no jardim de inverno quando retornei para a mansão, mas poluindo ainda mais as plantas mórbidas com um cigarro de filtro branco. Ela me olhou por cima do ombro e curvou seus lábios para baixo.

- Sabe o que ela poderia ter causado se Voldemort ou qualquer outro a encontrasse?

- Vai contar?

- Não.

Parei ao lado dela e Narcisa me ofereceu o cigarro em sua mão, fazia muitos anos desde que eu decidi que ser um adolescente rebelde não estava mais nos meus planos.

Eu peguei e traguei, minha garganta queimou e meu estomago revirou em um enjoo que mal consegui conter, uma sensação horrível.

- Como ainda gosta dessa coisa?

- Eu não gosto, mas Lucius detesta. Mantem a boca dele longe da minha.

Respirei fundo, eu já estava cheio dessa história de Narcisa de que odeia o marido.

- Angelique só está tentando ter alguma importância.

- Ainda bem que está acabando, você a engravidou?

- Estou tentando, mas ainda não dá para saber.

O queixo dela tremeu, por uma pequena vingança pessoal eu sorri, gostei da sensação de dizer a ela que estava me deitando sobre outra mulher, noite após noite.

- A parte boa é que logo ela estará longe e você vai colocar sua cabeça de volta no lugar.

- Está errada, minha cabeça está no lugar, mais que nunca. Angelique é uma mulher inteligente e enérgica como eu nunca conheci e estou inclinado a convencer o Milorde disso, talvez, ela não tenha que se afastar por muito tempo.

Narcisa riu, não de um jeito falso, o que me irritou ainda mais profundamente.

- Você envelheceu, Severo. Mas continua o mesmo menino ingênuo.

Não respondo porque não sei o que ela quis dizer com isso e no fundo, tenho medo de descobrir. Ela se vira lentamente e sem pressa alguma se afasta até a entrada do jardim.

- Fique tranquilo, eu não vou dedurar.

Me virei, mas ela já tinha partido. Depois da reunião daquela noite, tudo o que eu quero é voltar para Hogwarts, descer até a masmorra e me esconder na toca úmida e escura que é o meu quarto.

Fiquei ali dentro da lareira, tentando partir para a escola e dar a Angelique uma boa lição. Minutos depois estava atravessando a sala da minha casa. Estava silencioso, a única lâmpada acesa sendo na cozinha e mesmo assim, fraca.

Sinto cheiro de cinzas, mas não dentro de casa. Sai á porta e a encontrei na calçada, enrolada em um roupão fino demais para aquele ar gelado, Angelique estava agachada ao lado de uma lata cheia de chamas. Me aproximei com cautela, mesmo que Lee já tivesse cochichado para ela que eu estava ali.

- Queimando memórias?

Angelique puxou a fita marrom escura de dentro de um rolo de filme super 8 e a jogou na lata.

- Lucius Malfoy gravou todas as vezes que me contratou.

Suas palavras foram como flechas envenenadas perfurando minha carne, senti várias partes do meu corpo ardendo.

- Ele é um homem ruim.

- Eu sou pior, Severo.

Dei a volta e me agachei á frente dela, com a luz vermelha do fogo, percebi que ela esteve chorando, queria ampará-la e fazê-la dormir na esperança que a dor passasse pela manhã.

- Não é, você é boa. Você...

- Eu só peguei os meus. Devia ter mais de cinquenta filmes naquela gaveta, mas eu só peguei os meus – ela soluçou e jogou os rolos de filme vazios no fogo.

- Tudo bem, eu resolvo isso.

Me levantei e ofereci minha mão, eu não me surpreenderia se ela recusasse, mas ao contrário. Angelique segurou minha mão enquanto eu a puxava para meus braços, seu rosto estava quente pelo fogo, mas seu corpo parecia coberto de gelo.

- Eu só queria descobrir onde é a fazenda, Charles está tão preocupado e ele me ajudou tanto que eu precisava retribuir de alguma forma.

- Angie – eu a abracei forte contra meu peito até sentir seu coração batendo – eu vou descobrir onde as grávidas são mantidas, antes que você seja levada para lá, porque não posso te perder de vista. Não quero que se arrisque por isso. Deixe nas minhas mãos. Confie em mim.

Ela soluçou, eu soube naquele momento que não poderia jamais quebrar minha promessa, havia mais em jogo do que um casamento por contrato.

- Me desculpe por ter sido tão imprudente, hoje.

- Tudo bem, vou falar com Arthur e conseguir um lugar para você na Ordem, algo que possa fazer. O que gostaria de fazer?

- Eu não sei, mas tenho certeza que Charles pode me ajudar a encontrar algo.

- Charles?

Eu não entendia a insistência de Angelique em lidar com o Weasley mais novo, mas não me sentia no direito de atormenta=la por isso. Ainda era na minha cama que ela dormia

- Venha, eu vou aquecer você.

Ela resmungou e a peguei no colo passando o braço por baixo de seus joelhos e atrás de suas costas, a levando para minha cama, como uma noiva recém-casada. Ela se aninha ao travesseiro e apaguei a luz para que descansasse, estava descalçando os sapatos quando ela suspirou.

- Eu estou com medo – ela murmurou no escuro.

- Eu estou aqui – me deitei atrás de Angelique e a tomei em meus braços para no instante seguinte ela se virar, precisei afastar o rosto para que não batesse na minha mandíbula, estava escuro demais, o que não impediu que sentisse ela me encarando.

- Ainda estou com medo, porque talvez, a minha regra esteja atrasada.

- Não dá para saber, meu amor, precisamos de mais algumas semanas.

Envolvi seu corpo junto ao meu, eu não estava duvidando dela, ao contrário, Angelique era mulher e muito ciente do seu corpo, se ela disse que estava atrasada, então estava atrasada e isso também me apavorava.

Herdeiros - Severo SnapeOnde histórias criam vida. Descubra agora