Pov Severo
- Angelique? – chamei por ela enquanto enchia meu copo outra vez. Eu não estava alterado ainda e precisava de mais uma dose para encarar uma conversa depois do que houve.
Mas como nas duas primeiras vezes que a chamei, não obtive resposta. Eu sabia como ela estava chateada, por mais que nos déssemos bem uma vez outra, sempre tinha algo nos afastando quando o que eu queria era o contrário.
A árvore no canto da sala me assombrando, um lembrete de que eu não era uma pessoa que tinha natais, ou família, ou esposa.
- Incendio.
A cena do pinheiro virando cinzas no canto da sala foi ainda mais patética.
Dei um grande gole, ainda me segurando para não me humilhar indo ao quarto dela, quando ela sai com os pés descalços, fazendo sons ocos e apressados pela sala, já não vestia o veludo perfeito que escolhi para ela, me virei para ela e Angelique me ignorou completamente, foi á janela, uma forte rajada de vento atingiu seu corpo por inteiro, desmanchando o coque em mechas marcadas.
Ela assoviou.
- Angelique, podemos conversar?
- Onde está aquela coruja – outro assovio e o pássaro pousou no parapeito, ela entregou um pequeno bilhete dobrado antes de fechar a janela e se virar para mim – o que você quer?
- Sabe que não foi culpa minha o que aconteceu. Não pode ficar brava comigo por que outro homem foi invasivo com você.
Ela pareceu chocada com as minhas palavras, afundando as sobrancelhas com a boca aberta.
- Eu não estou brava porque levei uma palmada, Severo – Angelique cruzou os braços e sua voz tremeu, tanto que ela precisou engolir duas vezes antes de voltar a falar – mas você prometeu e eu acreditei. Disse que nenhum homem me tocaria de novo.
- O que eu queria que eu fizesse?
- Não escolhesse um vestido que deixa cada parte do meu corpo em evidência, não me fizesse ficar calada todo o tempo, não me obrigasse a buscar gelo para os seus convidados – ela estava se alterando de novo, embora as lágrimas ainda estivessem em seus olhos – como se eu estivesse aqui unicamente para servir a vocês.
Suspirei, eu a entendia, mas também a culpava. Precisava escolher bem minhas palavras para não piorar tudo e ainda fazê-la entender que não estávamos em um conto de fadas.
- Angelique – estendi minha mão para ela, tentando alcançar seu corpo, estava longe demais e minha mão ficou parada no caminho, esperando – você não é vista como minha esposa.
Seu queixo tremeu, emitindo pequenas ondas como um terremoto e abalando meu coração por inteiro, eu não queria vê-la chorar então virei o copo até a última gota, mas quando abaixei a cabeça as lágrimas ainda corriam livres pelo seu rosto.
- As pessoas não me verem como sua esposa, não significa que você não possa.
- Eu estou no meio de pessoas cruéis, Angie. Você precisa entender isso – minha voz nunca esteve tão baixa e calma antes, me surpreendeu que ela conseguisse me ouvir.
- Acha que eu não entendo? – a dela era como um trovão – eu me lembro de não ter brinquedos por que só podíamos levar o essencial, eu passava o dia com o aquecimento no máximo para a condensação deixar as janelas embaçadas e eu pudesse desenhar no vidro. Era quando eu via vocês, mascarados, nos perseguindo, nos vigiando em cada pousada que nos abrigavam.
Eu não tinha palavras ou pensamentos para tudo o que ela dizia, naquela casa, durante aqueles poucos meses que eu a tive, Angelique via o homem além da causa, mas naquele momento ela me via como um maldito comensal da morte e isso era pior que tudo.
Não sabia como fazê-la parar.
- Você precisa se acalmar, sente-se. Vou preparar uma bebida para você.
Me virei para o pequeno bar, pensando se dava a ela algo forte ou algo doce.
- Eu perdi minha mãe, depois meu pai. Vocês se orgulham de ter boas casas, boas roupas, bons empregos, como se fossem respeitáveis por isso. Mas eu podia ter tudo isso, eu podia conhecer um ruivo bonito e gentil e me apaixonar, me casar e ter lindos filhos. Mas vocês tiraram tudo de mim e agora me tratam como se eu fosse inferior quando a culpa é de vocês. A culpa é sua.
Deus sabe o quanto eu agradeci por estar de costas nesse momento, porque não consegui evitar de sentir toda a dor dela, foi intencional, Angelique queria me punir e conseguiu. Minha visão ficou turva com as lágrimas que tentaram sair, ainda que eu me mantivesse firme, misturando licor de pêssego á vodca.
- Eu sinto muito.
Dessa vez ela não ouviu, porque além da minha voz baixa, Lee fez um estardalhaço ao entrar empurrando a porta da frente, o ventou circulou o local como um redemoinho fazendo as cinzas das árvores se espalharem por todo o cômodo.
- Vim o mais rápido que pude, senhora.
- Estamos tendo uma conversa, elfo.
- A conversa acabou, Severo.
Me virei para ela, finalmente conseguindo controlar meus sentimentos.
- Até agora eu só a ouvi gritar. Pegue a bebida e sente-se comigo, aí podemos conversar.
- Não – Angelique secou as lágrimas em um lenço entregue por Lee, a presença do elfo dando mais confiança a ela – vou resumir a conversa para que não perca seu tempo. Você não vai se desculpar, vai dizer algo sobre a minha antiga profissão ser o motivo para tudo que dá errado na minha vida, eu vou pressioná-lo sobre cumprir logo nosso acordo, você vai ignorar e nós dois vamos ser mortos.
Bati com o copo na mesa de centro, só percebendo a força emprega quando ele de partiu rasgando minha carne.
- Então é isso que você quer? Que eu entre naquele quarto e estupre você? Como você mesma disse.
Ela não expressou nenhuma reação com meus gritos, no lugar disso, deu de ombros.
- Agora eu não quero mais nada – ela se virou caminhando para o quarto com o elfo a tira colo – Lee me traga o sapato.
Ela estava louca se achava que eu a deixaria sair aquela hora, com aquele tempo. Enrolei um guardanapo na mão ensanguentada enquanto a seguia até o quarto.
- Angelique?
Mas assim que parei na porta, percebi o cômodo vazio, de alguma forma, ela tinha partido.
E mais uma vez, a culpa era minha.
Ah claro que eles tinham que brigar e se separar kkkk
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Herdeiros - Severo Snape
FanficQuando Voldemort retorna, decide ampliar o mundo bruxo produzindo o maior número de bebês possíveis, para isso arranja bruxas de todos os tipos para engravidar de seus comensais da morte de maneira legítima. Nesse cenário, Ava é dada a Severo Snape...