bad blood

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Se tem uma coisa que eu odeio, essa coisa são as pessoas me encarando.

E graças a Catra, as poucas pessoas que estavam na cafeteria ficaram me olhando o tempo todo até eu vir embora.

Agora eu estou em casa, sem a Glimmer, sem o Bow, com uma camisa suja na máquina de lavar e com muita, muita raiva.

Minha visão está turva, as lágrimas estão acumuladas nos meus olhos e minhas mãos tremem muito, merda.

Antes que eu comece a ter uma crise, corro para a geladeira da cozinha e puxo a primeira garrafa que vejo, giro a tampa e bebo uns três goles de uma vez, não vi qual é a bebida mas pelo gosto parece vodka.

Eu sei que álcool piora a ansiedade, mas pelo menos assim eu esqueço um pouco de tudo, esqueço das pessoas, da pressão na música, esqueço do passado, do presente, paro de pensar sobre o futuro, enfim...

Meu vício por bebida alcoólica começou a um bom tempo quando eu comecei a morar sozinha e ainda fazia faculdade. Assim que entrei na primeira festa, provei diversas coisas e fiquei bêbada foi uma das vezes que me senti viva de verdade.

Naquela época eu tinha medo de me tornar uma dependente, então não bebia com frequência, mas conforme as coisas foram dando errado eu não conseguia segurar e de repente eu estava com uma garrafa de gin pela metade na mão e mais três de tequila, rum e uísque no chão.

Eu tinha prometido para Glimmer e Bow que eu ia parar, por um tempo eu consegui, comecei a viver normalmente sem precisar beber para ficar bem, até que tudo despencou de novo e como eu não quebro promessas, precisei começar a "descontar" de outra forma.

E então troquei as garrafas e latas de álcool pelas lâminas e estiletes.

Consegui esconder por uns meses, porém, minha tia Mara acabou descobrindo quando viu os cortes, ela já sabia do álcool, tanto é que me levava em médicos as vezes para saber se eu não tinha risco de alguma cirrose ou coisa parecida, mas ela ficou realmente mal quando viu que ao invés de melhorar eu acabava piorando.

Olho no relógio do celular e ainda são três da tarde, levanto do sofá e vou pro meu quarto tentar escrever mais uma música, quem sabe não lançamos ela no show daqui umas semanas.

O lado bom de escrever músicas introspectivas é que posso colocar o que sinto nelas, lembro da raiva que passei hoje mais cedo, lembro de Catra saindo da cafeteira sem nem ligar pro caos que ela causou, eu querendo enfiar minha cabeça em baixo da terra e também pra complementar eu lembro de tudo que minha ex fez.

Então um refrão surge na minha mente.

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É sete da noite, Bow e Glim vieram da faculdade pra cá para fazermos uma festa do pijama já que amanhã Glimmer vai voltar pra casa de sua mãe.

Assim que chegaram eu estava meio bêbada, mas Bow me deu uma garrafa grande de água e agora estou mais ou menos sóbria.

Já contei da conversa que escutei na cafeteria, eles disseram que sou burra e que obviamente é sobre mim que Lonnie e DT estavam falando. Mostrei a letra da nova música que escrevi e agora só faltava o som.

—Dora, você é incrivelmente boa nisso, mas como você pretende tocar ela? —Bow pergunta se sentando na minha cama com a folha na mão.

—Essa é a questão. —Respondo

—A gente pode começar com o refrão. —Glimmer vai pro quarto em que está hospedada e volta com sua guitarra Ibanez vermelha.

—Espera. —Bow pega um desodorante no meu armário, me entrega, senta na escrivaninha pegando duas canetas nas mãos. —Canta.

Between Songs | CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora