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Quinta-Feira || 02:06 PM || 11/03/1978 


SOPHIE YAMADA


Nós estávamos na aula de espanhol... Eu ODIAVA aquela matéria com todas as minhas forças. Desnecessário! 

Eu estava lendo naquela aula, não prestando atenção em nada do que aquele professor falava. 

Até que sinto alguém me cutucando, atrás de mim. 

Até que lembro que Robin que sentava atrás de mim. Ele me entrega um bilhete.

"Abre na página 37 do seu livro de espanhol" - Lá estava escrito. 

Estava curiosa, então sigo as instruções. 

Lá, naquela página em específico, encontro outro papelzinho, escrito:

"Bora matar aula? Não aguento mais ouvir esse velho careca falando ~R.A." - Era a letra dele. 

Viro para trás e assinto em sinal de afirmação, com um sorrisinho no rosto. 

- Professor, posso ir no banheiro? - Ele levanta a mão. 

- Rápido, Arellano! - O professor diz, logo depois, Robin sai da sala. 

Eu não podia pedir agora né... Ia ficar muito na cara... Então espero cerca de 5 minutos para sair também. 

- Professor? Posso beber água? Não bebo desde o almoço! - Peço autorização. 

- Vai logo, Yamada. - O professor aceita, sem vontade. 

Eu saio da sala logo depois, vendo Robin sentado em um banco ali perto. 

- Não vamos ficar aqui de jeito nenhum! Vem comigo. - Pego na mão dele, puxando ele para um canto mais afastado. 

Por mais que eu tivesse traumas naquele lugar (que vocês já sabem qual são), eu adorava aquele cantinho atrás da escola. Ele me trazia um sossego... Era bem afastado e tudo mais. 

- 'Cê' gosta bastante daqui né? - Robin diz, se sentando em um banco que lá havia. 

- Amo. - Me sento do lado dele. 

- Eu não aguentava mais ouvir aquele professor falando. - Ele encosta a cabeça no meu ombro. 

- Muito menos eu... Eu odeio espanhol. - Afirmo, olhando para a vista.

- Eu gosto... - Interrompo.

- Por que você já é fluente, né? - Pergunto, mas em tom de afirmação. 

- Realmente lo soy, gatita. - Ele fala, em espanhol. 

- Gatita? - Entendo o elogio. 

- Hm? - Ele se faz de desentendido. 

- Nada não, besteira. - Sorrio, não olhando para ele. 

Por alguns segundos, um silêncio se instalou entre nós. Não era constrangedor, era só... Estranho. 


ROBIN ARELLANO 


De repente, acho que o momento  me deu liberdade para fazer aquilo. 

Me deito com a cabeça no colo dela, olhando diretamente nos seus olhos. 

De repente, me paro para pensar se já analisei o quão bonita ela era... E já. Já fiz isso milhares de vezes. 

Cada detalhe do seu rosto. Mas um detalhe me chamava mais atenção, aqueles olhos puxados... Me hipnotizavam a cada vez que eu olhava para eles. Como pode? São OLHOS, com quaisquer outros... Mas são os olhos dela. Não eram simplesmente olhos comuns. 

Eu me afundei naquela vista, naqueles olhos puxados... Aquele olhar em mim. 

Ela começa a fazer pequenas tranças no meu cabelo, por baixo da bandana.  

- O que foi? - Ela percebe os meus olhares para os seus olhos. 

- Os seus olhos... São tão bonitos... - EU DISSE EM VOZ ALTA ISSO? AGORA NÃO TEM MAIS VOLTA! 

- Bebeu, Robin? - Ela pergunta, dando uma risadinha logo depois. 

- Não. É sério. Eles são lindos. - Eu digo, eu já tinha perdido a noção da minha vida mesmo.

- Obrigada... - Ela diz, envergonhada. - O seu sorriso é lindo, também. 


SOPHIE YAMADA


MEU DEUS! EU ACABEI DE DIZER ISSO MESMO? O QUE DEU COMIGO? 

- Sério? Não esperava que você dissesse isso. - Ele afirma, continuando a olhar nos meus olhos. 

O que ele tinha falado dos meus olhos era verdade? Quem vê graça em simples olhos puxados? 

Acho que era por conta do nervosismo, mas eu não parava de fazer trancinhas no cabelo dele. Meu Deus, que cabelo cheiroso... Hidratado, bem cuidado... 

- Seu cabelo é muito bonito... - Digo, nem me tocando do que eu havia acabado de falar. 

- Hm? - Ele começa a prestar atenção no que eu falo. 

QUE BOM QUE ELE NÃO OUVIU! SÓ AGORA QUE ME TOQUEI. 

- Ah... Nada não. - Falo, com um sorriso de alívio. 


ROBIN ARELLANO


EU OUVI CERTO? ELA FALOU QUE O MEU CABELO ERA BONITO? 

- Tá bom então... - Me finjo de desentendido. 

Nós ficamos nos encarando por um bom tempo. Era um silêncio... Reconfortante.

Até que... 

O sinal da saída toca. 

Ele toca distante, mas conseguimos ouvir. 

Ela corta o clima, saindo do banco, me fazendo levantar, consequentemente. 

Ela sai dali primeiro, meio que "não me esperando". 

Decido deixar ela ir, enquanto tentava organizar meus pensamentos confusos. 

Ok. Talvez eu goste dela. Não só como amiga...

Eu estou FODIDO. Como assim? Gostar de alguém que me odiou desde quando me conheceu... Não era boa ideia... 

Mas, ao mesmo tempo... Parte de mim, sabia que podia dar certo. 


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Olhos Puxados || Robin ArellanoOnde histórias criam vida. Descubra agora