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Sábado || 01:09 PM || 13/06/1978 


SOPHIE YAMADA


Acordo depois de algumas horas... Com o som de um telefone tocando perto de mim

Me rastejo devagar até o telefone preto, colocando o receptor no ouvido. 

- Alô? - Pergunto, com uma voz fraca e confusa. 

- Ele não funciona. Desde que eu era criança. - Me assusto ao escutar a voz do sequestrador, que estava sentado no chão do porão. - Coloque de volta  no gancho. 

Obedeço, ainda assustada.

- O que está fazendo aqui? - Pergunto. 

- Estava olhando para você. Só isso. Eu só queria olhar para você... - O velho se levanta. 

- Estou faminta. Faz pelo menos 12 horas que eu não como nada. - Exclamo, com o resto de força que havia em mim. 

- Vai ter que esperar. - Ele se dirige até a porta. - Como está seu braço? 

- Doendo. Obviamente. - Respondo, já irritada. 

- Desculpe. - Ele sai do porão, enquanto eu dou pequenos gritinhos de raiva. 

Eu me levanto, chutando o ar de raiva e me sentando no chão do porão, com as costas escoradas em uma das paredes, de frente para o telefone. 

Fico alguns minutos encarando o telefone fixamente, me perguntando o que poderia ter acontecido. Eletricidade estática? 

Eu já estava aceitando que iria morrer ali. Pensando no meu irmão, Robin...

Eu era muito jovem para morrer daquela forma... Não... Por que eu?

Eu escuto o maldito telefone tocar novamente. 

- Não, não... Eu estou ficando louca. - Falo para mim mesma, ainda escutando o telefone tocar. 

Fico mais alguns segundos sentada, para checar se não era eu que estava ficando maluca. 

Ele continuo tocando. 

Por pura curiosidade, me levanto, indo até o telefone. 

- Tem alguém aí? Eu preciso de ajuda. - Falo, com os olhos marejados, na esperança de alguém estar na linha. 

Nenhuma resposta. Como esperado.

- Sophie... - Escuto uma voz fraca me chamando do outro lado da linha. 

Me assusto automaticamente ao ouvir. O que era isso? Coloco o receptor de volta no gancho, me afastando do telefone em passos largos. 

E então o telefone começa a tocar novamente. 

Ok... Talvez eu tenha bebido muito ontem? Mas não estaria mais fazendo efeito hoje... QUE PORRA É ESSA? 

Me aproximo devagar do aparelho estragado, colocando o  receptor no ouvido de novo, morrendo de medo. 

- Não desligue. - A voz do outro lado da linha fala. 

- Eu não vou. - Respiro  fundo, me segurando para não largar o telefone de medo. - Quem é? 

- Eu não lembro do meu nome. - A voz fala. Perceptivelmente, uma garota. 

- Como não? - Pergunto, confusa. 

- É a primeira coisa que você perde. - Ela fala. 

- Que você perde quando? - Continuo mais curiosa ainda.  

- Você sabe quando... - A garota afirma.

- Como sabe o meu nome? - Pergunto. 

- A gente se conheceu. Meu irmão te chamava de "olhos fechados". - A garota afirma. 

- Você... É Beatrice, Beatrice Hopper! O seu irmão é meu amigo! - Descubro com quem eu falava. 

- É! Eu sou... Beatrice... Fale para Vance que eu o amo e que ele é a única coisa que eu lembro nesse lugar... - Beatrice fala, com tristeza. 

- Pode deixar. Por que me ligou? - Continuo com essa dúvida. 

- Tem um chão de terra na frente do vaso do banheiro. Cava até chegar do outro lado. - Ela me explica. - Seja rápida. Eu não tive muito tempo... 

- E eu vou ter tempo? - Pergunto.

Mas logo a ligação é cortada. 

- Beatrice?? - Pergunto, mas já estava fora da linha. 

Será que aquilo era verdade mesmo? 

Vou me afastando do telefone aos poucos, indo até a área do "banheiro". 

Realmente, dou uma pisada forte em um dos azulejos, revelando um chão de terra macia, perfeita para cavar. 

Fico cerca de uma hora, cavando e jogando a terra que saía pela privada. 

Por estar sem força e morrendo de fome, quase literalmente, volto a cama do porão, me deitando e olhando para o teto. 


ROBIN ARELLANO 


Acordo, perto das 3 da tarde. Me levanto, ainda com uma puta dor de cabeça. 

Vou até o banheiro, indo fazer o que tinha que fazer lá, e fazendo um coque alto no cabelo, por pura preguiça de arrumá-lo. 

Começo a pensar em tudo que eu havia vivido com a Sophie... Era real mesmo? Nem eu estou acreditando.

Será que eu mando direct para ela? 

Só se vive uma vez. 

Pego meu celular, pesquisando o Instagram da garota na minha lista dos "seguindo", entrando em seu direct. 


Messages On


Robin Arellano- Oi, gatita! Acordei agora. Como você tá? Queria conversar com você. 

Mensagem não lida.


Messages Off


Ela não leu... Deve estar dormindo ainda. Estava dizendo no seu perfil: "Online hoje". 

Estranhei, obviamente. Pelo o que eu conhecia ela, teria usado celular mais que isso. 

Mas, decido não fazer nada a respeito, esperar ela responder era a melhor alternativa. 


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Olhos Puxados || Robin ArellanoOnde histórias criam vida. Descubra agora