CAPÍTULO 28

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Anastácia Grey

Aqui estou, dentro do closet, de boca aberta, sem acreditar no que vejo há
uns dez minutos.
Eu já até mesmo esqueci o que tinha que fazer.
— Querida, algum problema?
Escuto a voz da minha madrinha atrás de mim, mas não consigo me virar
para olhá-la.
— O seu filho é louco, madrinha, precisa interná-lo em uma clínica
psiquiátrica o mais rápido possível, pois o caso de loucura dele é grave, muito grave.
Avise ao meu padrinho.
Ela gargalha alto do que falo e toca no meu braço, me tirando do transe ao
qual me encontrava.
— O que ele fez agora, Briana, para te deixar assim com tanta certeza da
loucura dele?
Dessa vez me viro em sua direção.
— A senhora ainda pergunta, madrinha? Olha isso aqui? — Saio da frente
dela para que veja o que ele fez.
— São suas coisas, o que tem de errado nisso?
Meu Deus, a minha madrinha se contagiou com a loucura de Cristhian .
— Não são as minhas coisas, madrinha, são coisas totalmente novas com
etiquetas ainda e que devem ter custado uma verdadeira fortuna. Quem comprou
tudo isso? — pergunto achando que possa ter sido o meu padrinho.
— O seu marido. Quem mais as compraria?
Respiro fundo tentando manter a calma, porque a minha madrinha está bem
plena com a situação.
— Madrinha, ontem não havia nada disso aqui e agora pela manhã tem.
Como isso aconteceu? Tenho certeza que não foi em um passe de mágica.
— Você tem o sono bem pesado, querida. Eu, sinceramente, achava que você
acordaria quando quatro pessoas entraram neste quarto carregadas de roupas para
arrumar no closet, mas você nem mesmo se mexeu.
Eu arregalo os olhos e ela sorri, debochadamente.
— Mas como... Como... É cedo e eu...
— Briana, calma, isso não é nada.
— Como não é nada, madrinha?
— Está impressionada pelo fato do seu marido ter comprado tudo isso para
você, ou com o fato de você não ter visto ele fazendo toda essa organização? — ela
pergunta com uma sobrancelha levantada como costuma fazer.

— As duas coisas.
Ela sorri, novamente de mim.
— Não tem nada que o dinheiro não consiga em tempo recorde, minha
querida. Foi preciso fazer apenas uma ligação de menos de cinco minutos e as
palavras que escutei o meu filho falar, foram: “Quero um guarda-roupas completo
para a minha esposa, traga o que tiverem de melhor, não importa o preço e pagarei
um adicional pela hora”.
Eu não sei explicar o que estou sentindo.
— Madrinha...
— Ele sabe até mesmo as suas medidas, Anastácia, e o seu gosto. Veja com os
seus olhos. — Ela aponta para as roupas e os sapatos.
Eu me aproximo das roupas e começo a olhar tudo atentamente.
Ele realmente acertou.
— Como ele soube? Como...
—Cristhian  está apaixonado por você e é claro que ele sabe de tudo o que
gosta, querida.
Nessa hora eu me viro para ela novamente.
— Ele disse isso? — pergunto me lembrando o que ele falou ontem à noite.
— Não, ele não disse, mas o olhar dele e as ações falam por si só. Eu nunca
tinha visto o meu filho assim. Ele está apaixonado e o conheço melhor do que
ninguém. Confesso que o ver assim me deixa feliz, ainda mais porque você é a
mulher que ele ama.
Nesse momento, coloco a mão no peito porque não sei se o que ele sente
chega a ser amor, ele mesmo disse isso quando perguntei.
— Madrinha, eu...
— Arrume-se, Anastácia , e não perca seu tempo pensando nisso agora. Hoje é o
seu primeiro dia de trabalho no hospital e não queremos que chegue atrasada, não é
mesmo? Cristhian  teve um compromisso importante e precisou sair mais cedo de casa.
Agora você se apresse ou não terá tempo de tomar café. O seu padrinho não gosta de
esperar muito e o seu carro já está pronto — ela fala tudo de uma vez e sai do quarto
sem nem mesmo olhar para trás, me deixando de boca aberta, literalmente.
— Meu Deus, me ajude com tudo isso. — Pego uma das roupas e um sapato,
pois não tenho muito tempo para pensar ou me atrasarei demais.
Estou pedindo um tempo para que eu possa pensar e ele está fazendo isso,
comprando de tudo para mim, até mesmo maquiagem e joias.
Sim, joias que achei combinando com os demais pertences.
Espero que depois da nossa conversa, ele realmente me dê o espaço que estou
precisando.
Eu me arrumo e me preparo para o meu primeiro dia de trabalho no hospital.
Tudo o que quero é passar despercebida pelos meus padrinhos me esperando
para tomar café da manhã, mas sei que isso será impossível, e é mesmo, já que
quando chego no último degrau, escuto a voz do meu padrinho ecoar pela casa.

— Café da manhã, Anastácia  Grey.
Travo a mandíbula e vou até ele em passos firmes.
— Bom dia, padrinho.
— Tome o seu café da manhã.
Na presença dele a minha madrinha fica mais observadora, esperando o
momento certo de agir. Ela não gasta as suas energias à toa, tem uma sabedoria
incrível que eu não possuo.
— Estou atrasada, não tenho tempo...
— Se não tomar café da manhã não sai e não estou nem aí se é o seu primeiro
dia ou não.
Olho para o meu padrinho sem acreditar no que estou escutando e ele me
encara de volta como se esperasse que eu fosse responder, mas esse gostinho não
darei a ele.
Se ele quer me fazer chegar atrasada, eu chegarei, mas farei isso com uns
bons milhões garantidos para o hospital.
Com esse pensamento, o encaro duramente, puxo a cadeira e me sento.
— Boa garota, agora coma.
— O senhor sabia que o hospital precisa de investimentos e doadores para
manter os departamentos com tecnologia hospitalar de ponta, assim salvaremos
muitas vidas? — falo me servindo e minha madrinha sorri.
Olho para meu padrinho e ele está com a xícara de café parada no meio do
caminho até a boca.
— Fiquei sabendo que o Cristhian  mantém o departamento pediátrico e isso me
impressionou. O senhor bem que poderia fazer a sua parte também, tenho certeza de
que uns milhões não fariam falta à sua conta bancária.
Ele apoia a xícara de volta na mesa e se encosta na cadeira, me olhando
enquanto tomo o meu café, tranquilamente.
Sei muito bem do que estou falando e ele também.
— Essa menina está mesmo querendo me extorquir logo no café da manhã?
Estou escutando bem, Bruna, ou os meus ouvidos estão me enganando?
— Escutou muitíssimo bem, padrinho. Sou direta como o senhor mesmo me
ensinou a ser.
— Está sendo direta para me arrancar dinheiro e não te ensinei isso. Agora,
que história é essa de salvaremos muitas vidas? Nem começou a trabalhar lá e já está
com esse papo? Quando vai largar de besteira e voltar para o grupo Grey?
— Eu não vou voltar e já repeti isso inúmeras vezes. Vou começar a trabalhar
no hospital hoje como vice-presidente e estou empolgada para começar logo.
— Por isso já está querendo arrancar milhões de mim? Vejo que aquele
moleque do Alexander tem uma arma poderosa agora para usar contra a família.
— Oliver! — É tudo o que a minha madrinha precisa falar para que o homem
ao meu lado abaixe a bola dele.

— Anastácia , eu juro que estou me segurando para não investigar o que de fato
aconteceu entre você e o Cristhian. Eu sei da porra dessa história pela metade e não me
meti porque são adultos. Achei que conseguiriam se resolver sozinhos, e pelos seus
gemidos de ontem à noite, achei realmente que já estavam se entendendo. Mas o
Cristhian  saiu de casa com uma cara horrível e você se nega a voltar para a empresa,
para o lugar que te treinei para assumir.
Meu Deus, devo estar vermelha de vergonha!
Como assim ele escutou alguma coisa?
— Padrinho, o senhor... O senhor escutou... O que...
— Estava de passagem pelo corredor e não escutei mais do que uns dois
gemidos. Você estava com o seu marido e isso não tem nada de mais. Agora, não
mude de assunto menina. Quando vai voltar...
— Eu não voltarei, padrinho, já falei, não insista nisso. Sinto muito se estou
decepcionando o senhor, ou estou parecendo ser ingrata. Mas saiba que não estou.
Amo vocês, mas peço para que respeitem a minha decisão e se possível me apoiem
assim como sempre fizeram.
Meu padrinho me encara por longos segundos e a minha madrinha o encara
esperando ver a reação dele.
— Vá para o seu trabalho e depois me informe de quanto precisa que
transfiro para a conta do hospital. Mas vou descobrir o que aconteceu, Anastácia, e aí
vamos ter aquela conversinha.
Meu Deus, ele não pode saber, seria vergonhoso para mim, ele perderia a
cabeça com o filho e eu não quero isso.
— Padrinho, não...
— Pode ir agora, está liberada. Seus seguranças já estão esperando e o seu
carro já está pronto. Anastácia, nos avise se vai voltar a noite para cá ou vai para o seu
apartamento.
É desse jeito que ele diz que o assunto está finalizado e que não tem mais
conversa, então me levanto, vou até ele e a minha madrinha, e os beijo na bochecha.
— Bom trabalho, querida — minha madrinha fala.
— Obrigada, madrinha, e tenha um bom dia, padrinho.
— Você também, menina teimosa.
Apenas sorrio e saio da sala de refeições indo para a garagem.
Quando chego, logo sou recebida pelos seguranças que já me aguardam.
— Esse é o seu carro, senhorita, a chave já está na ignição. — Ele aponta
para o carro e falto não acreditar.
Esse sim, é um belíssimo carro.
Mas não tenho muito tempo para admirá-lo, preciso ir para o hospital e, por
enquanto, vou aceitar o presente, já que estou sem carro.

Continua...

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