CAPÍTULO 29

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Anastácia Grey

Chego no hospital atrasadíssima, para ser mais exata estou com quarenta
minutos de atraso.
Estou morrendo de vergonha, tanto que quando estaciono o carro meu celular
toca e vejo que é o Alexander.
Logo o atendo, dizendo que estou no estacionamento, ele concorda e desligo
a ligação.
“Que belo exemplo a vice-presidente está dando logo em seu primeiro dia!”
— Está tudo bem com você? — É a primeira coisa que ele fala quando
coloco os pés na recepção.
— Me desculpa, Alexander, pelo atraso. É complicado explicar, mas consegui
uma generosa doação do meu padrinho para o hospital, só preciso mandar o valor
que ele vai transferir o dinheiro.
Ele abre um enorme sorriso me abraçando.
— Minha querida, sendo assim pode chegar atrasada todos os dias que não
me importo. A ortopedia agradece o seu atraso porque é pra lá que a generosa doação
do rei do petróleo vai.
Acabo rindo e ele sai me puxando para o elevador.
— Acredita que o patife do seu marido me mandou uma mensagem
ameaçadora? Ele ameaçou cortar minhas lindas mãos que salvam vidas diariamente
só porque toquei em você — ele fala de forma divertida.
As portas do elevador abrem e entramos.
— Pelo visto a ameaça não funcionou muito bem. — Tiro a mão dele do meu
ombro.
Esse homem é lindo e cheiroso demais para ficar assim muito perto e não
quero nenhuma conversinha circulando pelo hospital. Sei como fofocas podem correr
soltas por causa de um pequeno mal-entendido.
— Claro que não, quero mesmo é que ele venha. Vou afiar o meu bisturi para
esperar por ele. Cristhian  não é páreo para mim.
Sorrio dele.
— Vocês dois sempre foram assim?
Ele me encara.
— Assim como?
— Amigos! Eu só tenho uma amiga e gosto muito dela.
— Interessante, ela é solteira?
— Noiva.

— Não mexo com mulher comprometida, é um perigo. E respondendo a sua
pergunta, sim, Cristhian  e eu sempre fomos amigos, e já falei para você como ele me
ajudou.
— Sim, você falou — falo pensativa, me lembrado da história.
— Mas vamos mudar de assunto. Eu tive que cancelar todos os meus
atendimentos do dia, porque temos um assunto sério para tratar, muito sério mesmo.
— E qual seria o assunto tão sério? — Olho para ele quando a porta do
elevador abre no andar administrativo.
— A festa anual de gala, querida, Anastácia . Uma vez por ano o hospital realiza
essa festa para puxarmos o "saco" de bilionários para fazerem doações generosas
para os departamentos do hospital. E com todo o trabalho que estava tendo, essa
porra de festa estava passando desapercebida por mim. Eu quase caí da cama hoje
quando me dei conta de que o dia do evento já está próximo e não tenho nada
organizado.
Eu paro de andar e o encaro com medo da resposta para a pergunta que vou
fazer.
— E quando será essa festa?
Ele percebe a apreensão no meu olhar.
— Temos dez dias para organizar tudo.
Eu o encaro e depois começo a rir do que ele fala, pois, sei muito bem como
funcionam essas festas que são trabalhosas de serem organizadas.
Mas aí me dou conta de que ele não está sorrindo, está apenas me olhando.
— Você está brincando, não é mesmo? É impossível organizar uma festa
desse porte em dez dias. Então, é brincadeira, não é?
Ele balança a cabeça negando.
— Não, a festa tem que acontecer em dez dias, é a tradição deixada pelo meu
pai e antes dele pelo meu avô.
Meu sorriso morre e a minha vontade é de bater nele.
— Você disse que somos amigos, não é mesmo? — pergunto com a voz
branda.
— Sim, falei isso ontem e muito sério, podemos ser amigos, Anastácia .
Eu sorrio para ele de novo.
— Ótimo, assim não vai me demitir porque vou bater em você. — Começo a
bater nele e ele segura as minhas mãos.
— Se me bater mais uma vez, vou deixar de ser seu amigo. — Ele tenta falar
sério.
— Como assim essa festa tem que acontecer em dez dias?
Ele está prestes a abrir a boca quando a mesma mulher que me recebeu
ontem, se aproxima.
— Até que enfim uma pessoa que teve coragem de fazer o que desejo fazer
todos os dias, que é bater nele. Anastácia, é o seu nome, não é mesmo? — ela fala de
forma gentil.

— Sim, muito prazer. O seu nome é? — pergunto para que ela me responda,
mas quem faz isso é o Alexander.
— Secretária Malévola, é esse o nome dela. Vão trabalhar as duas juntas para
resolver esse nosso pequeno atraso.
— Atraso que um hospital desse tamanho não poderia ter. Você disse que é a
tradição deixada pelo seu avô e pelo seu pai, como pode esquecer? — falo o
encarando.
— Graças a Deus alguém com juízo. Eu avisei que a festa estava se
aproximando inúmeras vezes, mas ele nem ligou, ignorou como sempre faz — a
mulher fala.
— Eu não ignorei coisa nenhuma. Será que esqueci porque estava ocupado
demais salvando vidas e administrando tudo isso sozinho para ter esquecido?
Os dois se encaram.
— Não é hora de brigar e nem discutir. Isso não vai resolver a situação e
muito menos nos dará mais tempo, o que temos que fazer é começar a trabalhar o
mais rápido possível — falo tentando ser racional.
— Tem razão. Vamos fazer isso junto com toda a burocracia do hospital e os
trabalhos que você tem que fazer como vice-presidente. Seu começo aqui será bem
agitado e cheio de trabalho — a mulher que me foi apresentada como secretária
Malévola fala muito séria.
— Como é o seu nome mesmo? — Volto a perguntar.
— Secretária Malévola, eu já disse, agora vamos ao trabalho. Eu só tenho o
dia de hoje disponível para tirar todas as suas dúvidas, Anastácia, a partir de amanhã vai
ter que me dividir com os pacientes e são muitos, querida. — Alexander sai andando
na frente e nós duas o seguimos.
— Meu nome é Greta, muito prazer, Anastácia. — Ela oferece a mão e eu
aperto.
— Parece que vamos ter muito trabalho nos próximos dias.
Ela sorri meio exausta e olha com olhos de fogo para Alexander à frente.
— Já virou a noite trabalhando?
— Muitas vezes.
— Então já está acostumada porque é isso que vai acontecer nos próximos
dias para darmos conta de tudo. Mas algo me diz que você vai conseguir colocar as
coisas em ordem e vai cuidar de tudo, então eu vou poder ir embora.
Eu paro de andar e seguro em seu braço.
— Embora!? Como assim ir embora?
Ela olha para Alexander andando na frente e suspira.
— Eu preciso ir embora, me afastar, ou vou acabar morrendo sufocada aqui.
Eu já não estou aguentando mais.
Vejo no olhar dela o que carrega, dor e amor, um amor que provavelmente
não é correspondido, além de parecer guardar um segredo.
— Você gosta dele? — Aponto para o homem a nossa frente.

Ela parece sair do transe que se encontrava e me olha.
— Nos conhecemos agora, mas sinto que posso confiar em você, Anastácia.
Então, vou te dar um conselho, nunca, mas nunca mesmo durma com o seu chefe,
nem que seja por uma única vez. Esse erro é fatal e sempre quem sofre é o lado mais
fraco.
Agora sou eu quem suspira e ela percebe.
— Aí, droga, você já dormiu com o seu chefe?
— Não só dormi como também me casei com ele. Lembra meu sobrenome?
Ela arregala os olhos.
— Grey !
— Exatamente, a história é longa e quem sabe um dia eu conte a você.
— Espero estar aqui para poder escutar.
— Você não é nem louca de me abandonar agora.
Ela sorri.
— Não se preocupe, só farei isso no dia em que você colocar ordem nesse
hospital todo...
— As duas vieram hoje para trabalhar ou para ficar batendo papo? —
Alexander fala alto da porta da sala dele, chamando a atenção de outros funcionários.
— Viu, ele nem sempre é um amor. Ele não passa de um lobo em pele de
ovelha — Greta fala.
— Vamos trabalhar, temos dez dias para organizar essa festa — falo e ela
concorda.

Continua...

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