Capitulo 9

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Anastácia Grey

Saio do escritório passando pelas pessoas, andando até a recepção em modo
automático.
Nem mesmo consigo cumprimentar quem passa por mim.
A raiva misturada com a decepção me deixam mal e levar em consideração
que meu padrinho sabe que o filho dele está por trás dessa situação, me faz ficar pior
ainda.
Meu padrinho quer esse casamento, quer que eu faça parte dessa família, quer
que eu carregue o sobrenome dele e por isso está permitindo que o Cristhian  interfira
em minha vida profissional.
Todos querem isso.
Mas o que aconteceria se soubessem o motivo de eu não querer?
O que aconteceria com o Cristhian  se eu revelasse aos meus padrinhos o
motivo de odiar o filho deles?
Se eu contasse que era acusada todos os dias de ser uma amante interesseira,
uma vadia qualquer que só queira o dinheiro da família Grey .
O que aconteceria se resolvesse falar a verdade para eles?
— Senhora, está chovendo muito, vai ficar doente, pegue aqui um guarda-
chuva.
Sou tirada dos meus pensamentos por um homem vestido de preto falando
comigo.
Eu já estou andando pela calçada na chuva e nem mesmo me dei conta disso.
Estou exausta de tudo, de tudo isso e só queria poder sumir da vida de todo
mundo.
— Quem é você?
Ele me encara e abre a boca para falar, mas nada sai, é como se estivesse
procurando a melhor maneira de responder.
— Eu sou alguém que está preocupado em a senhora pegar essa chuva toda.
Ele é um segurança.
É claro que o Cristhian  faria isso.
— Me dê a sua mão — peço, pois, só há uma maneira de confirmar o que já
tenho certeza.
Sei que todos os seguranças que servem a família têm um bracelete com o
brasão da família Grey  no pulso e para eles chega a ser uma questão de honra
usar tal coisa.
São como cachorros que adoram exibir suas coleiras por aí.
— Senhora, não precisa...

— Me dê a sua mão agora mesmo!
Sem alternativa, ele coloca a mão na minha e levanta a manga comprida para
que eu veja o bracelete, então o encaro.
— Está a mando do meu padrinho ou do Cristhian ?
— Estou a mando do seu marido.
É nessa hora que não consigo mais segurar as lágrimas e o encaro de volta,
para que veja que estou chorando, o quanto estou triste.
— Diga ao meu marido que quero que ele vá se foder, que o quero o mais
longe possível de mim e que nada que ele faça vai me fazer voltar para o grupo
Grey. Ah, diga também que o odeio e que mantenha os cachorros dele bem
longe de mim. — Sem esperar que o homem responda, saio de perto dele, andando
na chuva que cai forte me molhando inteira.
Quando olho para trás, o vejo falando ao telefone e já até posso imaginar com
quem seja, mas eu não me importo.
Eu já não me importo com mais nada.
Vou andando pela rua sem rumo até que passo em frente a um lugar que
parece ser acolhedor e quente, então resolvo entrar e vejo que é um pequeno
barzinho, com mesinhas espalhadas pelo local que não é muito grande, mas é tudo
tão ajeitadinho que me dá uma sensação de bem-estar.
Procuro a mesa mais afastada e me sento nela.
— Olá, gostaria de beber alguma coisa, menina? — Uma senhora vem me
atender e quando olho para ela, a vejo sorrir para mim.
— Me desculpa, entrei molhando tudo.
Ela volta a sorrir.
— Não se preocupe com isso, só tem você aqui e já me dei o trabalho de
ajustar a temperatura para que não congele ou morra de frio.
— Obrigada, a senhora é muito gentil.
— Não agradeça, você me parece ser uma boa garota.
— Eu sempre fui uma boa garota, sempre fui boa para todos, mas agora só
quero ser eu mesma, então essa boa garota aqui vai querer uma garrafa de tequila. A
última vez que bebi foi tanto que esqueci tudo o que fiz e acordei casada, acredita
nisso? — Eu acabo sorrindo da minha desgraça. — Eu jurei nunca mais beber, mas
vou quebrar o meu juramento e vou mais uma vez encher a cara para ver se esqueço
que o idiota do meu marido existe e toda a raiva que ele me faz passar.
A coitada da senhora deve estar achando que sou louca, mas também não fala
nada.
— Se está tão certa que vai beber tanto assim, para onde devo mandá-la
quando cair neste chão de tão bêbada?
— Boa pergunta, a senhora pensa em tudo. Antes de cair passo o meu
endereço para a senhora, agora me traga a garrafa.
Ela sorri, vai até o balcão do pequeno bar e segundos depois coloca a garrafa
e o copo em cima junto com um pratinho de aperitivos.

— Obrigada.
— Se precisar de alguma coisa é só me chamar.
— Tudo bem.
Quando ela vira as cosas eu me sirvo de uma grande dose e viro com tudo,
fazendo uma careta no final.
Meu Deus, que coisa horrível!
Mas vou beber essa garrafa inteirinha.
Pego o celular e abro a pasta que criei e salvei todas as fotos e vídeos do meu
casamento na igreja do Elvis.
Ainda não consigo entender como tudo aconteceu e o motivo de apenas no
meu celular ter essas fotos.
A prova do meu golpe segundo o Cristhian .
Fico alguns minutos passando foto por foto, vídeo por vídeo.
Confesso que o ver em várias delas, me beijando, faz com que queira voltar a
chorar.
Chego em um vídeo que ainda não tinha visto e aperto o play.
“— Hoje vou me casar com a mulher mais linda do mundo e a melhor
jogadora de poker também.
— Parabéns ao casal do ano.
— Vamos, senhor Grey, beije a noiva.
— Vem aqui, meu amor, eu vou te beijar. Será apenas MINHA, esqueça que o
meu pai existe na sua vida.”
Observo que Cristhian  me puxa pelo braço, me beija e depois fala algo no meu
ouvido que pela minha cara sei que não gostei nada de escutar.
Eu paro de assistir porque é demais para o meu coração aguentar.
Ele me chamou de meu amor...
O homem que me humilhava diariamente me chamando de meu amor, morto
de bêbado.
Só estando muito bêbado mesmo para o Cristhian  falar isso e ainda ter coragem
de se casar comigo, mesmo achando que eu era amante do pai dele.
Pego a garrafa e dessa vez nem me dou ao trabalho de me servir. Bebo do
gargalo mesmo e agora o gosto parece ser pior.
— Deus, como isso é horrível!
— Realmente para quem não tem o costume de beber, tequila é muito forte.
Esse homem só pode ser invocado pelo pensamento, é a única explicação.

Continua...

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